Assim que pisaram os pés para fora do casarão, todos eles puderam sentir um odor estranho. Não era tão forte, parecia mais algo queimado, porém, não tinha nenhuma fumaça a vista. Eles olharam de um lado para o outro sem saberem o que procurar ao certo. Mesmo que Anne ainda tivesse esperanças, sabia que algo muito ruim tinha acontecido com Guilherme. Como Gustavo estava na frente, ela nem se deu o trabalho de comandar as buscas.
— Acho melhor nos separarmos. Assim encontramos ele mais rápido. Como não sabemos se ele está muito machucado…
— Óbvio que ele tá. Com a quantidade de sangue que vi ontem, bem raro ele ainda tá vivo. — Alex interrompeu Gustavo, que revirou os olhos para ele, já cansado de Alex sempre se meter em tudo.
Laura engoliu em seco. Olhou de relance para Anne, indecisa se conversava com ela ou não. Ainda se sentia muito magoada com que Anne tinha feito. Escolher Guilherme só provava que ela ainda sentia alguma coisa por ele. Laura pensava que ela tinha superado, mas estava evidente que não.
— Melhor levarmos uma mochila com alguns curativos, então. Água principalmente, com certeza ele vai estar com sede. — ela sugeriu, olhando para Fernando esperando que ele concordasse. Só que ele só tinha olhos para Anne, não estava nem aí para Laura.
Porém, outra pessoa reparava bem no modo que ela olhava para Fernando. Alex não gostou nada de ver sua namorada lançando olhares furtivos para outra pessoa. Ele não queria acreditar em Giovanna, mas parecia que ela estava certa ao dizer que Laura estava o traindo com Fernando. Alex só não queria acreditar nisso, por isso tentou fingir que não tinha visto nada e segurou firme a mão da namorada.
Melissa observava tudo. Sempre foi uma ótima observadora.
— Já preparei tudo. Peguei as coisas da maleta de pronto-socorro que encontrei nas coisas dele. Tem até um “tetoscópio”. — Gabriel avisou, tirou a mochila de suas costas e abriu, mostrando vários analgésicos e curativos.
Giovanna riu.
— É Estetoscópio, animal. — corrigiu. Seu cabelo cacheado balançava, já que o vento estava mais forte que o normal.
Patrick reparou na forma que o cabelo dela voava com o vento. Ela era tão linda, com os olhos arredondados, bem pretos. Sua boca carnuda era o que mais ele gostava nela. O sorriso, então, o fazia suspirar. Ele amava muito Giovanna. Queria que aquele dia fosse especial para ela, já que era seu aniversário de 20 anos. Sabia que Fernando não ia ter cabeça para preparar o bolo que pediu, mas queria fazer algo diferente para ela.
Não se faz 20 anos todos os dias.
— Para de ser chata. — assim que fechou a mochila e colocou nas costas novamente, Gabriel sentiu novamente o odor de queimado no ar. — estão sentindo esse cheiro?
Gustavo levantou um pouco sua cabeça para a frente, tentando sentir também. Ele passou uma das mãos em seu nariz, tampando suas narinas para evitar o mau cheiro.
— Porra, parece que fritaram carne podre. — ele comentou, olhando justamente para a direção que o cheiro estava vindo.
Só que não tinha nada, absolutamente nenhuma fumaça no ar. Apenas o cheiro forte emanava por todo o local.
— Vamos acabar logo com isso. E assim que encontrarmos o Guilherme, vamos embora desse lugar. Não podemos ficar nessa ilha nem por mais um dia. — Alex olhou para Anne quando falava. — E ninguém aqui vai nos impedir.
Ela desviou os olhos dele. A situação já estava uma merda e Alex deixava tudo ainda pior.
— Acho que você não entendeu que não tem como atravessar um oceano nadando. — o comentário de Fernando fez com que a carranca de Alex ficasse ainda mais visível.
Com a mancha arroxeada em volta do olho direito, Alex tinha dificuldades para enxergar, mas isso não era o seu pior problema no momento. Ele só pensava na maneira em que Laura olhou para Fernando. Isso estava o queimando por dentro. E ela também tinha percebido a maneira estranha que ele estava se comportando. Sabia que ele já tinha percebido que algo estava rolando.
E essa era a questão. Absolutamente nada estava rolando entre Laura e Fernando. Era uma via de mão única, onde somente ela estava tendo sentimentos. Fernando estava a fim de outra pessoa. E todos sabemos quem é.
— Não vão começar, por favor! Estamos no meio de algo intenso agora. Precisamos encontrar Guilherme antes que escureça. Não sabemos aonde ele está, mas a ilha não é tão grande, e se todos trabalharmos juntos podemos encontrar ele com vida. — Gustavo ordenou, olhando para cada um deles com seu olhar autoritário.
Melissa deu um sorriso de canto, se lembrando de como Gustavo sempre foi mandão. Era ele que tinha a decisão final a todo instante. Por isso desde que começaram a namorar, soube que era ele quem terminaria.
Ela olhou para baixo, para suas roupas que agora não eram mais de Gustavo, e sim de Anne.
Antes deles saírem para a busca, Anne tinha deixado uma peça de roupa em cima da cama de Melissa, sem dizer nada. Ela fez isso como um pedido de desculpas pela briga, mas não queria que Melissa visse ela, então simplesmente deixou as roupas no quarto e saiu. Mal sabia que esse gesto deixou Melissa ainda mais ressentida. Estava começando a ficar arrependida de ter tratado Anne tão mal por tanto tempo.
Mas ela tinha suas razões. Na verdade, as duas tinham. Se não fosse por alguém, Anne e Melissa ainda seriam amigas.
— Diz aí então, capitão! Qual é o plano? — Alex ironizou.
— Eu, Anne, Patrick e Giovanna vamos para aquele lado. — ele apontou justamente para o lugar que o fedor estava vindo. — E Fernando, Melissa, Alex, Laura e Gabriel vão para o outro.
Quando Fernando já ia abrir a boca para questionar, Anne se pôs a frente.
— O Fernando vai ficar no mesmo grupo que eu. — ela disse, ganhando um sorriso radiante dele.
— Tanto faz. — Claramente Gustavo se importava. Ele viu naquele momento a chance de poder passar um tempo com Anne. Sem que Melissa e Fernando o interrompessem.
Ele não deveria estar querendo algo com alguém, já que tinha acabado de terminar um relacionamento, mas sentia que devia arriscar algo a mais com ela. Nunca alguém em tão pouco tempo tinha mexido com ele dessa forma.
— Então vamos logo. Não quero ficar o dia todo procurando o Guilherme. Preciso arrumar um plano pra sair desse inferno de lugar. — Alex deixou bem claro, e partiu na frente, chacoalhando toda a comida que levava na mochila.
Laura foi correndo atrás. Ela queria muito contar para Alex sobre tudo. Que não estava mais se sentindo bem no relacionamento e que queria terminar. O problema é que sempre quando estava com as palavras na ponta da língua, elas simplesmente não saíam.
Era como se fosse impossível dizer.
O sol bateu forte na cabeça de Patrick. Ele queria ter lembrado de ter colocado um boné, mas não imaginou que o sol estaria tão quente assim tão cedo. Olhou para as árvores, os passarinhos nos ninhos, confortáveis com seus filhotes. Por um segundo imaginou como seria se ele fosse apenas um pássaro no ninho, e não um ser um humano preso em uma ilha deserta sem saber como ir embora.
— Você tá pensativo… O que foi? — Giovanna perguntou, enquanto caminhava ao lado dele de mãos dadas. A mão dela suava tanto, que as mãos deles não conseguiram ficar juntas por muito tempo.
Só podia ser aquele clima de tensão que estava deixando todos ansiosos.
— Estava pensando como seria se eu fosse um passarinho. — confessou, ainda olhando para as árvores. O brilho do sol dava um contrate lindo contra elas, deixando a paisagem ainda mais bonita.
— Ata. — ela resmungou, cabisbaixa. Desviou o olhar dele e focou sua atenção para a estrada de terra.
Ela estava chateada, já que ninguém tinha se lembrado de seu aniversário. Nem mesmo Patrick disse alguma coisa. Giovanna esperou que Anne fosse pelo menos lhe dar um abraço, ou algo parecido, mas parece que até mesmo ela se esqueceu. Também, a amizade das duas não estavam mais a mesma coisa. Ela tinha achado a atitude de Anne, estúpida demais. Ainda estava com raiva por isso. Só que amizade dela para Giovanna era muito importante, e ela era capaz de tudo para deixar sempre Anne ao seu lado.
Gustavo estava pensativo, caminhando sobre as pedras e folhas. Afastava os galhos das árvores com as mãos e nem olhava para trás para ver se os demais estavam o seguindo. Não queria olhar e ver Anne e Fernando juntos. Eles não se desgrudavam mais, e isso estava deixando Gustavo possesso.
— Espera aí! Pra quê andar tão rápido? — Fernando gritou, mas Gustavo fingiu não escutar e continuou a andar na direção do mar.
A área em que estavam atravessando tinha um mato bem denso e alto. Cheio de árvores ao redor, era difícil enxergar se algo estivesse em volta ou no chão. Não sabiam onde Guilherme poderia estar. E talvez demorasse horas até que eles encontrassem.
Anne andava devagar. Estava cansada, já que não tinha dormido muito bem e o café não tinha ajudado muito com a questão do sono. Se sentia mal, mentalmente e fisicamente. Só queria sua casa, sua mãe, estava com saudades da sua vó e de como sempre cantava para ela dormir, mesmo que ela já tivesse crescido. Estava com tantas saudades, que doía. Era um sentimento ruim de ser sentido, e o arrependimento de não ter escutado sua mãe estava começando surgir.
Fernando bateu seu ombro no dela, a empurrando de leve de propósito. Ela riu, uma risada baixa, mas significativa o bastante para que o coração dele errasse nas batidas.
— Não liga pra eles. São todos uns filhos da puta, ingratos. Só querem salvar a própria pele e mais nada. Você, Anne, — ele parou de andar por um segundo para admirar o quão, linda ela ficava com a luz batendo em seu rosto. Seus olhos se iluminavam, passando de castanho-claro para um tom quase esverdeado. Era mágico. E isso deixava Fernando hipnotizado. — É uma mulher foda por ter escolhido salvar alguém que já foi importante na sua vida, mesmo que tenha te machucado. Admiro muito você por isso.
Ela engoliu em seco, sem saber o que dizer. Seus olhos se encheram de lágrimas e a única coisa que ela soube fazer no momento, foi abraçá-lo.
— Você não sabe o quanto isso me deixa mais leve. Foi uma escolha difícil. Eu não sabia o que fazer. Tudo estava bem nas minhas mãos e eu não pensei direito quando teclei o número dois no telefone. Não queria que ele morresse por minha causa. Entende?
Ele balançou a cabeça. Anne estava desejando que aquele momento durasse para sempre, pois, foi a primeira vez em dias que se sentiu bem.
Só que não durou muito.
— Tô adorando esse novo casal. Seus lindos. — Patrick brincou, bateu nas costas de Fernando e continuou a andar.
Giovanna encarou Anne quando passou ao lado dela. Queria pedir desculpas, mas não achava o momento certo para isso. Na verdade, nem sabia qual seria a hora ideal.
— Acho melhor nós irmos. Estamos ficando pra trás. — Fernando avisou e segurou a mão de Anne, a surpreendendo.
Ela olhou para as mãos deles, juntas, e gostou do que viu. Aquilo parecia o começo de algo que ela iria amar viver.
(…)
Alex já estava cansado de andar. Parecia que estavam dando voltas em círculos e não chegavam a lugar algum. Não imaginava que a ilha fosse tão grande assim. Já tinham andado por uma hora e não encontraram absolutamente nada que pudessem ajudar a encontrar Guilherme. Nem mesmo uma mancha de sangue.
Laura já estava ficando sem esperanças. Parecia que Guilherme tinha evaporado.
— Aí, gente! Eu desisto. — Melissa se agachou. Sua respiração estava ofegante e estava tão suada que sua blusa estava molhada.
Gabriel lhe entregou uma garrafa d’água, que ela abriu e bebeu tudo em menos de cinco segundos.
— Ei, era nossa única água! — ele advertiu, pegando a garrafa das mãos dela e levantando ela no ar para ver se tinha sobrado ao menos uma gota.
Melissa deu de ombros e olhou para o chão. Viu uma trilha de formigas que a intrigou. Elas estavam enfileiradas, indo em direção a algo que com certeza usariam de alimento. O olhar dela seguiu os insetos, até que ela finalmente encontrou o que estava chamando a atenção delas.
— MEU DEUS! — o grito saiu de sua boca. Suas mãos começaram a tremer e seus olhos se arregalaram por puro pânico. O susto foi tão grande, que ela acabou caindo. Suas mãos se ralaram contra o chão e ela sentiu a dor a consumir. Mas não estava tão preocupada com o machucado. Estava preocupada com outra coisa.
Uma mão amputada escondida entre as gramas.
— Mais que merda é essa? — Alex chegou bem perto. Queria ver se era real, mas o cheiro de podridão entregou a resposta que ele procurava.
A pele já estava verde. Estava em um corte reto bem abaixo do pulso. Era um corte preciso, possivelmente foi feito com bastante cuidado. Não tinha um sequer erro.
Laura se aproximou. Tampou seu nariz e sua boca com as mãos. Não estava crendo no que estava vendo, mas sabia que aquela mão só podia ser de uma pessoa.
— É a mão do Guilherme… — ela revelou. Lágrimas escaparam de seus olhos sem nem perceber.
Depois de ajudar Melissa a se levantar, Gabriel pois as mãos na cabeça. Olhou para o céu e desejou estar em qualquer outro lugar, menos ali.
Tudo parecia pior que um pesadelo. Bem mais do que aqueles que caímos de um precipício e acordamos suados e ofegantes, não acreditando que realmente estamos vivos.
— PUTA QUE PARIU! — Ele berrou, o eco da sua voz ainda podia ser ouvida.
Alex encarou Laura. O cabelo dela já estava bagunçado, os fios loiros arrepiados. Ela nem parecia mais a mesma.
— Como você sabe que é a mão do cara? — perguntou, olhou para a mão e viu as formigas se apossando da carne morta.
Laura limpou as lágrimas, olhou para Melissa que desviava sua atenção da mão e tentava olhar para outro lugar. Ela parecia perdida.
— A pequena tatuagem. Se você reparar bem, tem uma Letra A tatuada em um dos dedos. Guilherme fez essa tatuagem quando pediu a Anne em namoro. Ela pensou que ele tinha tirado, mas…
— Ele ainda estava com ela na mão. Meu Deus! Que loucura! — Gabriel não queria mais procurar. Já sabia que a essa altura do campeonato, Guilherme não estava mais nesse mundo.
Estava morto.
— Sabem o que isso significa? Que a pessoa que nos ligou estava falando sério sobre achar ele em toda a ilha. Só vão ter... — Melissa não conseguiu completar a frase. Tampou seu rosto com as mãos e começou a chorar. Não estava aguentando mais tanta aflição, tanto sofrimento.
— Só vão ter pedaços dele por toda a parte... — Alex completou.
— Isso é um cu mesmo. E agora? O que vamos fazer, em? Se ele está morto é porque alguém matou ele.
Laura quis rir do comentário de Gabriel, mas se segurou.
— É claro que alguém matou ele, Dãããããã! Acha que um animal iria fazer um corte tão perfeito assim? Isso é alguém profissional. — Laura disse, se lembrando das aulas que teve de criminologia na sua faculdade de direito.
Faltavam alguns anos para acabar o curso, mas estava ansiosa para finalmente poder ser uma advogada de sucesso. Se conseguisse escapar daquele lugar, claro.
— Precisamos contar para os outros. Antes que eles dão de cara com o assassino. — Alex avisou, ajustando sua mochila nas costas e pegando a mão de Laura com força.
Assim que Gabriel estendeu a mão para que Melissa a segurasse, outro grito ecoou ao longe. Precisamente no mar. Onde o outro grupo estava.
— Não! Por favor, não! — Parecia que algo tinha morrido em Anne, quando ela viu parte do tronco de Guilherme no mar, boiando como se fosse um Nada. Como se aquele pedaço de corpo não tivesse a trazido, momentos felizes apesar de tudo. Era como se fosse uma realidade na qual ela não estava. Não podia acreditar que ele foi morto de uma maneira tão brutal.
Quem faria algo assim?
Ela se jogou contra a água do mar. Na mente dela, conseguiria fugir para bem longe se nadasse. E ela nem sabia nadar direito. Mas nessas horas de aflição e angústia, pensamos em tudo. Não vemos as consequências dos atos, somente pensamos em acabar com o sofrimento que estamos sentindo.
E Anne com certeza queria acabar com a dor agonizante. Os momentos bons que passou com Guilherme invadiu sua cabeça. Uma parte dela sempre vai amar ele. Não a parte ruim. Ela queria amar a parte que conheceu do antigo Guilherme. O Cara que fez de tudo para que eles pudessem ficar juntos, que sempre a protegeu. Não a pessoa que a traiu, que mentiu. Porém, se ela fizesse isso, estaria enganando a si mesma.
Guilherme não era perfeito, e estava longe de ser.
— Vamos, você precisa se acalmar. — Fernando agarrou sua cintura por trás, tentando a impedir de ir para mais fundo na água. Ele agarrou suas mãos, a prendendo, depois a pegou no colo e a tirou do mar nos braços.
— Não, me deixe aqui! — ela chutava o ar, com uma força surpreendente.
Gustavo foi correndo ajudar. A segurou pelos pés e tentou deixá-la imobilizada, mas Anne não parava quieta.
— Vai ficar tudo bem. Calma. — ele disse, mas as palavras dele só fez com que ela se debatesse ainda mais.
Giovanna observava a cena com uma dor forte no peito. Seu olhar foi para o corpo no mar. Não parecia humano, na verdade, era irreconhecível. A cabeça tinha sido arrancada e o resto do corpo estava em um tom de azul e verde, que mostrava que já tinha começado a decomposição. Não tinha mais vida ali.
Patrick colocou a mão no ombro dela, tentando mostrar algum tipo de apoio.
— Feliz aniversário… Não pense que esqueci. Queria que hoje fosse diferente pra você, amor, mas com tudo que tá acontecendo eu…
Giovanna se virou, ficando frente a frente com ele.
— Não precisa de nada, juro. O meu presente perfeito seria ir embora daqui. — ela confessou, seus olhos estavam vermelhos, a vontade de chorar a invadiu com tudo e ela se jogou nos braços de Patrick.
— E vamos ir. — ele confirmou, beijou o topo da cabeça dela e ficou olhando para a maré que baixava e aumentava.
(…)
Todos se reencontraram novamente. Contaram entrem si sobre o que tinham encontrado. A falta de esperança era o que todos tinham em comum. Ninguém mais acreditava que iriam sair daquele lugar. Agora que Guilherme estava morto, sabiam que o assassino não iria descansar até que fizesse mais uma vítima.
A pergunta que ficava era: quem seria o próximo?
Melissa jurava que era ela. A ameaça era a prova de que alguém estava de olho. Ela não queria morrer, mas também não sabia o que fazer para sobreviver. Era mais fácil deixar que o assassino fizesse o que queria e não lutar. Ela já estava farta, cansada de tudo. Desistir parecia a melhor opção.
Assim que eles chegaram novamente a casa, Fernando pegou Anne nos braços e a levou para o quarto. Ela não queria ficar sozinha, mas Fernando prometeu que iria voltar, só teria que pegar suas roupas e uma toalha limpa para que ela pudesse tomar um banho quente, e não pegasse algum tipo de resfriado por ter entrado na água fria do mar.
Quando tudo veio em sua mente, Anne não soube fazer nada a não ser chorar. Queria não sentir nada, gostaria que os sentimentos por Guilherme sumissem, mas ele foi parte dela. Era inevitável não chorar.
As lágrimas caíam no travesseiro, o manchando. Ela gritou contra a cama, fazendo o som se abafar. Anne não sabia se iria suportar a dor. Principalmente pelo fato dela ter escolhido encontrá-lo, ao invés de todos irem embora.
Estava com medo que a morte dele a fizesse se sentir culpada, mas de uma forma ou de outra, ela ainda sentiu a culpa em toda parte de seu ser.
— Posso entrar? — Gustavo perguntou, mas já tinha entrado no quarto sem ouvir a resposta.
Ele estava preocupado com Anne. Agora entendia o lado dela. Se Melissa estivesse no lugar de Guilherme, ele também iria escolher a mesma opção que Anne escolheu. Ele a julgou, pensou que uma escolha assim seria fácil de ser feita. Só que, todos nós sabemos que não é.
Gustavo sentou na ponta da cama e tocou um dos pés dela. Quando Anne sentiu o toque estranho e, ao mesmo tempo, familiar, não sabia se gostava ou não. Era estranho para ela ter Gustavo tão perto. Ela só imaginava isso em seus sonhos, mas com ele ali, ela já não sentia a mesma coisa.
— Me desculpa. Te julguei, fui um idiota. Não imagino o quanto deve ser difícil ter feito aquela escolha e depois ter visto o que fizeram com ele.
— Agora já é um pouco tarde pra demonstrar arrependimento, Gustavo. Isso não me serve de nada. Seu arrependimento não vai fazer a gente ir embora. — as palavras duras de Anne afetaram Gustavo de uma maneira surpreendente.
Ele se levantou, olhou mais uma vez para Anne e saiu do quarto, de cabeça baixa.
No andar de baixo, Alex tentava pensar no que fazer já que agora precisavam sair da ilha quanto antes. Ele andava por toda sala, procurando alguma pista ou algo que pudesse ajudar. Laura o observava. Estava sentada no sofá, ao lado de Giovanna. Os pés dela batiam contra o piso fazendo um barulho chato.
— Precisamos ir embora dessa porra de lugar! — Alex pegou o único abajur que tinha sobrado na sala, e o jogou no chão, deixando o fio pendurado na tomada.
Gabriel estava calmo, mais que o normal. Pensou que quando visse o que viu iria ficar em descontrole, mas não. Ele tentou ficar calmo, já que precisava de ao menos uma pessoa ali que deveria pensar bem antes de agir, e todos estavam agindo por impulso.
— Temos que caçar esse cara. Se ficarmos parados aqui esperando que ele mate mais alguém, vamos nos foder. — sugeriu, pegando os pedaços de abajur que estavam no chão.
Patrick deu uma risada baixa, ganhando olhares confusos de Giovanna. Ele estava com uma cara de tremendo desespero. Seus olhos estavam vermelhos e a boca trêmula. Ele estava sentindo que a morte estava mais perto do que imagina.
Depois de se agachar em frente a ele, Giovanna segurou as duas mãos. Estavam frias, feito gelo.
— Vou pegar um remédio pra você se acalmar e dormir, ok? — ela avisou com a voz baixa. Estava preocupada com ele.
Patrick apenas balançou a cabeça. Ela levou isso como um sim e saiu andando apressada até a cozinha.
— Como vamos caçar um assassino? Não temos armas, nem nada. E nem sabemos onde ele está. Rodamos essa ilha toda e não achamos nenhum sinal dele. — Alex esfregou suas têmporas, depois se sentou no sofá com os demais.
— Pode muito bem ser uma mulher também. — Laura os lembrou.
Alex a lançou um olhar arrogante.
— Acha mesmo que uma mulher iria fazer isso? Só pode tá brincando! — ele riu, debochando do comentário dela como se ela tivesse contado uma piada.
Laura revirou os olhos. Não acreditava que namorava um cara tão machista assim. Queria debater, mas achou melhor não. Já estava tendo problemas demais para procurar mais um.
— Não podemos subestimar. Pode ser qualquer pessoa. E uma pessoa muito traiçoeira… — Um barulho atrapalhou Gabriel a completar sua frase.
Um copo foi quebrado na cozinha, mas não foi isso que os incomodou, foi o silêncio que deixou eles nervosos. Silêncio não era nada bom.
— Giovanna! — Patrick gritou, mas não recebeu resposta.
Melissa que estava encolhida no canto do sofá, sentiu um frio passar por todo o seu corpo. Algo muito estranho tinha acontecido, e ela podia sentir.
O desespero nos olhos de Alex mostrava que por mais que ele tentasse ser o menos medroso dali, ainda sim, não era.
Todos estavam com medo, todos menos uma pessoa, claro.
— Vamos ver o que aconteceu, porra! — Alex saiu correndo, atravessou tão rápido o corredor que foi o primeiro deles a chegar na cozinha.
A única coisa que todos viram, foi Giovanna deitada no chão. Ela estava imóvel, os olhos fechados e a expressão de medo ainda estava em seu rosto.
— Giovanna! — Patrick se jogou contra o chão, ao lado dela. Os olhos castanhos inundados em lágrimas. A primeira coisa que fez foi colocar os dois dedos em cima de seu pulso. — Graças a Deus, ela só desmaiou.
Todos respiraram aliviados. Menos Gabriel, porque ele tinha visto justamente o que Giovanna viu antes de desmaiar.
A geladeira estava aberta. O odor forte vindo de lá era exatamente igual ao que estavam sentindo quando estavam lá fora.
Carne podre queimada.
— Mais que merda é essa! — os joelhos de Alex amoleceram, fazendo ele se ajoelhar no chão ao olhar o que tinha dentro da geladeira.
— É o Guilherme… Só que... — Melissa não conseguiu terminar a frase, sua respiração estava tão descontrolada que ela estava perdendo o fôlego.
Fernando, Gustavo e Anne entraram na cozinha sem saber o que tinha acontecido, mas tinham ouvido os gritos e queriam ver o que era dessa vez.
— A Ca-cabeça tá queimada… — Gustavo disse com a voz trêmula.
E realmente estava. A cabeça de Guilherme estava totalmente amolecida e em cinzas, com o crânio a mostra. Só que o que mais chamou a atenção e assustou todo mundo foi a expressão no rosto distorcido dele.
Era uma expressão de puro terror.
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Tecle 2 para matar | Concluído
HorreurQuem seria doido de aceitar ir em uma viagem para uma ilha deserta com tudo pago depois de receber uma ligação suspeita? Parece loucura, mas dez jovens aceitam e embarcam nessa jornada pensando que seria a viagem dos sonhos. Mas não era. Um assass...