O medo de Melissa foi embora assim que Gabriel saiu com as mãos para cima, assustado. Ela respirou fundo, com a mão no coração que batia acelerado como nunca.
Ela realmente pensou que iria morrer.
E, no fundo ela não achava uma ideia ruim.
A culpa a consumia tanto, que ela queria ter o mesmo fim que o bebê que ela não pôde ter. Ao mesmo tempo que estava aliviada, se sentiu frustrada por não ser o que ela pensava que fosse.
— Me desculpe ter te assustado. É que você saiu correndo e eu só vim ver se você estava bem.
Ele tentou se aproximar, mas Melissa deu um passo para trás. As lágrimas no rosto dela não paravam de cair. Não sabia se chorava por ter perdido o namorado, ou se brigava com Gabriel por ele ter se metido.
Mas não era culpa dele, afinal, foi ela que o beijou. Ela quis cumprir o desafio. Melissa não deveria ficar com raiva de Gabriel simplesmente por ele ter sentimentos por ela.Gabriel se sentiu nas nuvens quando os lábios de Melissa tocou os dele. Ele não acreditava no que estava acontecendo, nunca pensou que seu sonho se realizaria.
— Estou bem. — ela fungou, limpando o catarro que escorria de seu nariz. — na verdade, não. Quero que você fique longe de mim. Não sei porquê fiz aquilo, mas não deveria nunca ter te beijado.
A dor no peito de Gabriel foi enorme. A mulher que ele amava estava arrependida de ter o beijado. Existia decepção maior que essa? Se sim, Gabriel discordava, pois, ele nunca tinha sentido uma dor assim. Mesmo levando um fora de Melissa, ele se aproximou e tentou abraçá-la, mas ela o empurrou com força.
— Eu sempre fui apaixonado por você. Gustavo nunca te amou do mesmo jeito que te amo. Ele não é o cara certo pra você. E agora que vocês não estão mais juntos, eu…
— Você o quê? — ela riu, uma risada alta misturada com choro. — pensou que eu ia correr pros seus braços? Não amo você, Gabriel, e aquele beijo não significou nada.
Gabriel recuou, sentindo mais uma vez o impacto das palavras de Melissa. Ele sabia que ela tinha sentido o mesmo que ele. O beijo mostrou isso.
— Eu sei que você gosta de mim, nem que seja um pouquinho. Você vai perceber isso, só espero que não seja tarde demais. — e assim ele saiu, com o coração partido, foi direto para o quarto e chorou como nunca tinha chorado há dias.
É, a dor de um coração partido é terrível.
(…)
O clima na casa estava bem tensa. Todos quietos, de ressaca da noite anterior e sem saber o que comentavam uns com os outros sobre o acontecimento da festa.
Anne penteava o cabelo, depois de sair do banho, quando Laura entrou no quarto:
— Parece que aconteceu um funeral aqui. Todo mundo tá estranho. — ela se jogou em cima de sua cama e observou Anne pelo espelho.
As duas não tinham se falado muito depois da festa, já que Laura tinha se sentido estranha quando viu Fernando olhando para Anne de um jeito que ela não gostou. Estava com ciúmes. E nem sabia o porquê, já que deveria sentir ciúme de Alex, não de Fernando. Mas, no fundo, ela sabia que os sentimentos que ela tinha pelo namorado estava esfriando. Ela precisava conversar com Alex quanto antes. Só que estava com medo, muito medo. Já que ele sempre teve uma fúria dentro dele. Às vezes, Alex a tratava mal. Depois ele compensava tudo com as coisas que ela mais gostava, e ficava tudo bem. Ela pensava que era o normal de um relacionamento, mas Anne sempre disse para ela que isso é algo abusivo e que ela deveria sair disso o mais rápido possível. Só que Laura não conseguia, já que se sentia presa a ele.
Anne terminou de pentear seu cabelo e se sentou ao lado de Laura.
— Uma coisa que também tá estranha é a nossa amizade. Desde a festa você parece ter me evitado. O que aconteceu? Fiz alguma coisa pra você? — ela perguntou segurando a mão da melhor amiga.
Laura sentiu a culpa invadir seu corpo. Ela não poderia contar para Anne que estava tendo sentimentos por Fernando. Ou poderia? Algo dentro de Laura dizia que Anne também tinha sentimentos por ele. E era por isso que ela estava se sentindo culpada. Fora a ameaça que Guilherme fez para ela. Se Anne descobrisse…
— Não é nada. Só impressão sua. Tá acontecendo muita coisa e eu tô meia aérea, só isso. — a desculpa dela pareceu ter funcionado, já que Anne a abraçou forte.
— Não gosto de ficar assim com você. Sabe que é minha melhor amiga, não tem outra pessoa no mundo que eu confiaria meus maiores segredos.
Laura sorriu, ou tentou, já que qualquer pessoa veria que aquele sorriso não era verdadeiro. Ela estava cansada de machucar as pessoas que amava. Primeiro os pais, Anne, e agora teria que ferir os sentimentos de Alex. Só não sabia como iria contar a verdade para ele. Como diz para alguém que não gosta mais dela e que tem sentimentos por outra pessoa? É bem complicado.
— Eu sei, Anne. Te amo muito.
As duas se abraçaram, um abraço bem forte.
— Você parece cansada, tenta descansar. Vou ir comer alguma coisa, tô morta de fome. — Anne avisou, deixando Laura com seus pensamentos obscuros.
Anne desceu as escadas bem devagar, já que agora queria tomar todo cuidado do mundo. Aquela casa era estranha demais. Todo cuidado é pouco.
Assim que passou pela sala viu Gustavo e Gabriel conversando. Os dois pareciam estar dentro de uma conversa séria. Será que era sobre o beijo que tinha rolado ontem? Bom, Anne queria se meter longe daquela treta. Era para ela estar se sentindo mais feliz, já que era isso que queria, Gustavo solteiro para ela poder continuar com seu plano inicial, mas ela não sentia mais atração por ele. Tudo que ela sentia e imaginava era coisa de sua cabeça.
— Cansou de cozinhar? — ela perguntou assim que entrou na cozinha e viu Fernando sentado à mesa.
Ele estava pensativo olhando para uma fotografia.
— Achei melhor dá um tempo nisso. Tem comida suficiente para uma semana. Preciso achar outro hobby enquanto estivermos aqui. — ele colocou a foto na mesa e encarou Anne.
Sentiu a mesma coisa de sempre quando a via. Aquela sensação boa dentro de seu coração, como se ela fosse a paz que faltava. Era estranho para ele ter esses sentimentos depois do que houve no seu último relacionamento.
— Se quiser, posso te ajudar, eu também estou procurando um. Quero saber no que sou boa. Estou cansada desse lance de ser modelo. — ela declarou, colocou um pedaço de bolo de cenoura em sua boca e esperou Fernando responder.
Ele não disse nada a princípio, observando o modo como a boca dela se movia tão delicadamente enquanto mastigava. Como aqueles lábios conseguiam ser tão macios ao ponto de fazer ele suspirar ao olhá-los?
— C-claro. Podemos fazer alguma coisa hoje. Já tentou pintura? Escrever? Cantar? — perguntou ajustando seu corpo na cadeira e mudando o foco de sua atenção para outra coisa que não seja a boca dela.
Anne se lembrou que o pai dela a ajudava a pintar quando criança. Era a única coisa que eles faziam juntos quando ele não estava trabalhando. Depois de uns anos eles pararam com isso, o foco dela se tornou outro e os dois se distanciaram. Ela sentia falta dele. Tanta falta que seu coração doía ao se lembrar.
— Eu costumava pintar…
— Acha que isso ainda pode ser sua paixão?
Ele parecia bem interessado em saber mais sobre os gostos de Anne. Depois do que houve ontem na festa, ele pensou que ela iria evitá-lo, mas não foi isso que ela fez. Talvez ele ainda tinha chances de ter algo a mais que a amizade. Era isso que ele queria, mas não tinha certeza se era o que ele precisava.
Anne não sabia o que responder, já que nem ela sabia se aquilo era realmente a sua paixão. Era confuso demais saber o que fazia seu coração palpitar mais rápido. Ela olhou para a fotografia, tentando desviar o assunto. Uma dor invadiu seu peito ao ver a família perfeita de Fernando. A mãe dele tinha tantas semelhanças com ele que chegava assustar. Parecia uma versão feminina dele. Cabelos bem pretos, olhos azuis e uma boca bem avermelhada. Ela tinha sardas por algumas partes de seu rosto, o que fazia a beleza dela se destacar ainda mais. O pai dele era ruivo, o que surpreendeu Anne. Os cabelos ralos dele e o bigode o deixavam com cara de malvado, mas Fernando no meio dos dois deixava tudo mais familiar. O sorriso largo e brilhante mostrava o quanto estava feliz.
Era a família perfeita.
— Sua família é muito bonita. — ela comentou, segurando a lágrima que queria sair de seus olhos. Doía ver uma família tão feliz quando a sua tinha desmoronado. Sim, ela ainda tinha Camilla, mas depois da morte de Maurício, aquela não parecia mais uma família.
Fernando sorriu quando encarou a foto novamente. Estava tão feliz naquele dia, tinha acabado de passar na faculdade de gastronomia. Ele amava cozinhar. Queria que além da banda, tivesse algo concreto no que se agarrar caso desse tudo errado. Gostava de tocar guitarra, era bom, o deixava feliz, mas cozinhar superava. Por isso Fernando resolveu investir nisso.
— Eles são tudo pra mim. Sinto falta deles. Meus pais ficaram animados quando contei que iria viajar, mas porquê acharam que íamos assinar com uma gravadora.
Anne percebeu que aquele assunto deixava Fernando chateado. Ela também estava, já que foi enganada. Sabia que tinha sido burra demais por ter confiado tanto em algo que ela nem sabia se era verdade ou não. Sua mãe sempre lhe dizia que confiar em estranhos nunca é o certo, então, por que ela não conseguiu fazer isso quando recebeu aquela ligação? Por que algo dentro dela dizia: aceita.
— Uma coisa tenho que concordar com o idiota do Alex. Fomos burros e isso foi meio que culpa minha. Não deveríamos ter confiado tanto. Agora estamos presos aqui…
Ela não conteve o choro. Seu rosto ficou molhado pelas lágrimas. O aperto no peito de Fernando veio na hora, vendo a pessoa que ele gostava chorando. Segurou na mão dela, tentando consolá-la. Anne olhou para as mãos deles juntas, sentiu a mesma sensação, aquele frio na barriga, aquele negócio estranho no coração.
— Que chororô é esse aqui? Parece até que alguém morreu. — Guilherme entrou na cozinha com os olhos por todos os lugares.
Anne limpou as lágrimas com o braço e revirou os olhos. Não aguentava mais ver a cara dele.
— Não vai demorar muito pra eu te matar se você ficar me perseguindo. — Anne ameaçou, olhando para ele com os olhos estreitos.
Fernando percebeu como a presença de Guilherme deixava Anne afetada, ele não gostou nada disso. Se ela ficava assim perto dele, é porque algo bem sério aconteceu. Pelo que ele tinha entendido, ele traiu Anne com a própria prima. Fernando achava isso tão bizarro que ficava enojado só de pensar.
— Isso por acaso é uma ameaça, Baby? — ele perguntou, com os ombros apoiados na mesa, cara-a-cara com Anne. Ela sentia seu peito subir e descer pela aproximação repentina. Guilherme ainda mexia muito com ela, mas não de um jeito bom. Tinha sofrido tanto por ele, que agora só sentia ódio e rancor. Nada de bom que ela sentia por ele ficou.
— E se for? Vai fazer o quê, em? Se enxerga Guilherme, você não teria coragem de fazer nada comigo. Sei bem que você não fede e nem cheira. Só sabe falar e não faz merda nenhuma.
Anne se levantou, puta da vida com a afronta de Guilherme. Sentiu seu lábio inferior tremer de raiva. Ele manteve o olhar, com os olhos cínicos e o sorrisinho de canto de sempre.
— Sabe muito bem que não sou assim. Cumpro o que prometo. Prometi te fazer feliz, não foi? Então, eu fiz. Só que nada dura pra sempre, Anne. E eu, bem — ele abriu mais o sorriso, revezando o olhar entre Fernando e Anne. — tinha me cansado de você e de suas chatices.
Ela sentiu o calor pelo seu rosto, sabia que estava vermelha. A raiva tinha invadido cada pedaço do seu ser. Não poderia acreditar que ele tinha a audácia de dizer aquelas palavras depois de tudo. Foi então que ela deu uma gargalhada, não estava crendo que depois dele ter prometido o mundo pra ela e em seguida trair ela com a prima, tinha a cara de pau de dizer que fez ela feliz. Se isso era felicidade, Anne nem queria saber o que era a merda da tristeza.
— Sai de perto de mim. Agora! — ela apontou para a saída, pedindo aos céus para que ele fosse embora logo.
Fernando assistia a cena com fúria dentro de si. Mas não queria se intrometer em algo que ele não fazia parte. Acreditava no poder que Anne tinha e sabia que ela se defenderia caso ele partisse para cima. Estava preparado para entrar no meio caso Guilherme tentasse alguma coisa.
Ele levantou as mãos para cima.
— Calma, gatinha. Sabe que eu tava brincando, né? Não vim aqui pra brigar. Quero conversar com você na boa.
— Não tenho nada pra falar com você. Será que não percebeu que quero você longe de mim? — ela respirou fundo, o ar que invadiu seus pulmões pareceram ter ajudado a se acalmar.
— Você ouviu ela. Respeita a decisão da mina e vai embora, cara. — Fernando finalmente resolveu se intrometer, ficando no meio dos dois.
— Acho que ela não precisa de guarda-costas. Em, Anne, vamos conversar. Tenho certeza que vai se interessar no que vou te contar.
Ela pareceu pensar no assunto. Raramente Guilherme insistia tanto assim em algo. Ela sentia que o que ele queria falar era realmente importante, por isso relaxou mais o corpo, e balançou a cabeça.
— Você tem cinco minutos. E se tentar alguma coisa, eu não respondo por mim.
Ela saiu da cozinha, antes deu um pequeno sorriso para Fernando, o deixando mais aliviado. Guilherme foi logo atrás dela. Os dois pararam no corredor próximo à sala de estar. Anne se encostou na parede, ficando de frente para o ex namorado.
— Faz tempo que queria contar isso pra você, sabe, eu não gosto de esconder as coisas. — Anne revirou os olhos quando ele disse aquelas palavras. — você entendeu o que eu quis dizer. E acho que você não deveria confiar nas suas amizades.
As sobrancelhas de Anne se ergueram.
— O que você quer dizer com isso?
Guilherme se aproximou.
— Quero dizer que sua amiguinha, Laura sempre soube do meu caso com a Nicole. Sabia, ó, há um tempão. — ele estalou os dedos, repetidas vezes.
O rosto de Anne perdeu a cor. Seu corpo ficou fraco e ela teve se que apoiar na parede para não cair no chão. Não podia acreditar no que Guilherme tinha contado. Ela confiava mais-que-tudo em Laura. Sabia que ela teria contado e não escondido por tanto tempo uma coisa tão importante. Melhores amigas não escondem segredos umas das outras.
Anne riu. Sua risada se misturou com o desprezo estampado em seu rosto.
— Acha mesmo que vou acreditar em uma mentira dessa? Laura nunca esconderia isso de mim. Ela não é como você, um mentiroso egocêntrico do caralho.
— E você amava esse egocêntrico aqui, né? Sei que você ainda gosta de mim, Anne. Você tá toda bravinha, se fazendo, mas ainda me ama. — ele passou o dedo frio pelo rosto de Anne. Ela se arrepiou pelo toque familiar, mas não sentiu nada a não ser raiva.
— Não, eu não te amo. Você é passado pra mim. E acho bom você não inventar mais mentiras para afastar Laura de mim.
Ela olhou para todo o ambiente ao seu redor, sem saber realmente para o quê olhar. Seus olhos esboçavam tanta confusão, que nem mesmo Guilherme foi capaz de entender o que ela estava sentindo no momento. Ele pensou que seria uma boa ideia falar a verdade logo de uma vez, já que Laura no dia anterior tentou se sair como coitadinha da história. Ele sabia que estava errado, que tinha traído, mas também sabia que uma pessoa que se diz ser amiga não esconde uma coisa assim da outra.
— Não é mentira, pode ir lá agora conversar com ela. Tenho certeza que ela vai acabar confessando tudo. — os olhos pretos dele estavam arregalados, no fundo, ele queria que Laura tivesse uma lição.
Anne não disse mais nenhuma palavra, saiu de perto de Guilherme e foi atrás de Laura para tirar a dúvida de uma vez por todas de sua cabeça. Ela sabia que não podia ser verdade. Seu coração sabia que não.
— Preciso falar com você, Laura. — ela invadiu o quarto interrompendo um beijo que rolava entre Laura e Alex.
Ele revirou os olhos para Anne antes de sair do quarto.
— Pode falar. Aconteceu alguma coisa? — Laura se aproximou dela, com calma, já que Anne estava claramente cuspindo fogo.
— É verdade?
— O quê?
— Que você sempre soube desde o início que Guilherme estava me traindo e mesmo assim não contou nada pra mim? Que me fez acreditar por meses que ele me amava e que era diferente! E no fim me fez passar pela humilhação de ver ele transando com outra, mesmo tendo a chance de ter me contado?
Laura engoliu em seco. Os olhos já inundando em lágrimas. Ela sabia que não tinha mais como esconder a verdade.
— Eu ia te contar, mas fiquei com medo da sua reação. Eu não queria acabar com sua felicidade. Você só falava dele e de como ele era legal, engraçado, e eu não queria acabar com seu relacionamento. — as palavras saíram de sua boca como se fosse navalhas perfurando o coração de Anne.
— Você acabou. — ela passou seu braço pelo rosto. — acabou com nossa amizade. Porque uma amiga de verdade nunca iria esconder uma coisa dessa. Eu confiava em você. Sabia que nunca ia quebrar meu coração como ele fez. Mas acabou fazendo isso de qualquer jeito. Mais uma vez você me provou de que não podemos confiar em ninguém. E quer saber de uma coisa? Você e Alex se merecem. Dois filhos de uma puta, juntos formam um belo casal.
Anne olhou para Laura, ainda sem acreditar que Guilherme estava certo. Por incrível que pareça, a dor que ela sentia agora foi maior do que quando seu relacionamento foi por água a baixo. Ela amava muito mais a amizade que tinha com Laura, do que qualquer sentimento que já teve com qualquer cara. Eram as duas contra o mundo.
— Eu esperava mais de você.
Essas cinco palavras foi o bastante para fazer Laura se desfazer. Ela se ajoelhou no chão, em frente a Anne, aos prantos. Todo o seu corpo doía, não queria perder a melhor amiga por uma falha dela.
— Me perdoa, por favor!
Mas Anne não deu ouvidos, saiu correndo e foi para o seu quarto fazer a única coisa que queria fazer no momento: chorar.
Deitou na cama e chorou tanto, mais tanto, que parecia que toda a mágoa que estava dentro dela estava saindo de uma só vez. Estava chorando pelo seu pai, por não ter ouvido sua mãe, pelo Guilherme, e por ter perdido sua melhor amiga.
Não sabia mais o que poderia se agarrar, se todas as coisas que ela estava se segurando foi embora. Ela se deixou cair no abismo estranho da solidão. E a solidão doía, ah, como doía. Porque é quando estamos sozinhos que a dor nos consome. É quando estamos a sós consigo mesmo que a agonia dentro de nossos peitos aumentam.
E Anne sabia que agora com a dor que estava sentindo, nada poderia fazer os cacos de seu coração se juntar novamente. Ele já estava partido. E depois que algo é quebrado, não dá mais para voltar atrás.
— Ei, o que aconteceu?
A voz de Gustavo fez Anne se assustar. Ela nem tinha percebido que ele estava ali.
— Nada. Quero ficar sozinha agora, por favor. — ela pediu, se enfiou debaixo do cobertor e se escondeu do olhar de pena que ele lhe lançava.
Ele se sentou ao lado dela.
— Pode me contar o que aconteceu. Não sou o cara certo pra dar conselhos, mas tenho certeza que sou um bom ouvinte.
Anne, considerando o pedido de Gustavo, afastou o cobertor de seu rosto e o abraçou de repente.
O abraço o surpreendeu, que no momento não soube fazer outra coisa a não ser retribuir o gesto. O cheiro de frutas vermelhas invadiu suas narinas. Aquele cheiro doce o fez se sentir em casa. Era algo que Gustavo só tinha sentido uma vez, quando abraçou sua mãe pela última vez antes dela ir embora. “Vou estar sempre aqui, no seu coração, filho. Me perdoe”.
— Obrigada. — Anne sussurrou no ouvido dele.
Um abraço era tudo que Anne queria naquele momento, mas ela não sabia que tinha escolhido a pior hora para abraçar alguém que tinha acabado de terminar um relacionamento. Melissa observava a cena com fúria em seus olhos. Não podia acreditar que Gustavo já estava nos braços de outra.— Saia de perto dele agora! — ela gritou antes de ir pra cima dos dois com todo ódio do mundo.
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Tecle 2 para matar | Concluído
HororQuem seria doido de aceitar ir em uma viagem para uma ilha deserta com tudo pago depois de receber uma ligação suspeita? Parece loucura, mas dez jovens aceitam e embarcam nessa jornada pensando que seria a viagem dos sonhos. Mas não era. Um assass...