A ventania de São Paulo era comum. O vento passava por minha pele como uma seda, apenas como um sopro, apenas para que eu sentisse a sensação aveludada e me sentisse viva em meio a aquele calor.
Era um pôr do sol, as cores mais quentes se misturando no céu que normalmente era acizentado. Eu amo o céu com a cor mais quente.
A minha pele escura refletia naqueles reflexos meio rosados, alaranjados e amarelos. Raios de sol se perdendo, se esvaindo para dar caminho a noite.
Eu gostaria de ficar aqui mais tempo apenas apreciando o céu, mas minha atenção foi dada para a Mercedes que acabou de ser estacionada em frente ao restaurante em que eu estava, ao aguardo dele.
Hoje seria o dia em que discutiriamos de maneira mais aprofundada as ideias que tenho, e também as que ele tem, para serem postas em seu capacete. Era importante tanto para mim tanto para ele, até porque era aquilo que estaria protejendo ele durante toda a corrida e também seria uma grande homenagem ao povo brasileiro, aqueles com quem ele tanto se identifica.
Quero ver só se ele queria pagar metade dos boleto que a gente paga.
No mesmo instante em que ele saiu do carro, eu me senti a pessoa mais desarrumada do universo. Eu usava uma regata branca justa, uma calça cargo verde-musgo de cintura baixa, um tênis da Fila branco, uma corrente dourada em meu pescoço e anéis de mesma cor em meus dedos. Uma argola também estava em minhas orelhas, a mostra pelas minhas tranças presas em um coque.
Lewis entrou no local e olhou em volta, abrindo um sorriso simpático assim que me viu e caminhou em minha direção. Seus dentinhos separados eram tão bonitinhos.
― Good afternoon, Hamilton. How are you? - desejei a ele em inglês, me levantando da cadeira e apertando sua mão por cima da mesa.
― Boa tarde, Alves. Estou ótimo, e você? - ele perguntou, falando um inglês com um sotaque britânico carregado e bem rápido.
― Estou ótima também. Bom, eu não sabia o que você gostaria de comer, então acabei que deixei o cardápio aqui a sua escolha. - sorri para ele, me sentando novamente.
O restaurante não era sofisticado, algo por escolha nossa, até porque nós dois somos personalidades públicas, quanto menos pessoas melhor. Era aconchegante, com algumas luzes e plantas espalhadas, tinha um cheiro maravilhoso de lavanda.
Nossa mesa era para duas pessoas e feita de madeira, o cardápio era vegano. Também por escolha nossa.
― Sem problema algum. Eu gostaria de falar em relação as artes feitas por você para serem postas no capacete. Eu sei que sua especialidade é pichação e isso me encanta profundamente e eu queria que esses elementos fossem usados.
Meu rosto ficou levemente vermelho quando ele disse isso.
― Claro, eu imaginei algo que tivesse referências do Ayrton Senna principalmente. Então peguei de base um capacete já utilizado por ele que tinham as cores da bandeira e pus minhas ideias ali. - expliquei, pegando uma folha onde haviam os rabiscos.
Ele pegou a folha da minha mão e analisou, seus olhos pareceram brilhar. Tinham diversos elementos da pichação, eu pintaria utilizando minhas latas de tinta, e com as cores da bandeira brasileira. Eu não sabia se ele queria uma temática central, mas sabia que seu ídolo era o Senna.
― Isso tá incrível. - ele sorriu, sorriu de maneira verdadeira e alegre. ― Eu acho que vai ser meu favorito em mais de dez anos correndo. Obrigado.
― Eu que agradeço! Caso queira alterações, pode me inform... - eu parei assim que seus olhos arregalaram pela minha fala.
Falei algo de errado?
― Alterações? Não, está perfeito! Estou apaixonado por sua arte. É tão bela quanto quem a faz.
Isso me atingiu como uma onda batendo em uma pedra na praia de Salvador. Eu travei, sem saber o que responder. Apenas dei um sorriso envergonhado.
― Obrigado.
Seus cachos soltos pareciam tão macios quando refletiam na luz dourada, seu sorriso parecia mil vezes mais reluzente quando falava alguma coisa.
― Será que eu posso ficar com a cópia do esboço até o dia da qualificação? - perguntou, apontando para o papel que ainda estava em suas mãos. ― O capacete será entregue a você assim que pedir, não se preocupe.
― Quatro dias antes do sábado está ótimo. Será feito com tinta mesmo, mas tem que usar uma camada de material por cima por conta da durabilidade e para dar brilho. - expliquei, mexendo minhas mãos enquanto falava.
Seus olhos focados em mim e no que eu falava me deixava sem fôlego. Ele concordava com a cabeça, apoiando a cabeça na palma de sua mão direita, parecendo interessado. E só agora pude perceber que usava diversos brincos, suas tatuagens pareciam ficar mil vezes melhores quando usava uma camisa preta.
Quando sua língua passou por cima de seus lábios eu senti que tinha tocado o céu e voltado. Um frio se instalou por minha barriga.
Que homem gostoso.
― Foi muito bom trabalhar contigo, eu agradeço. - sorri para ele, dessa vez, verdadeiramente.
― Digo o mesmo. Talvez possamos nos encontrar de novo aqui, mas não para resolver de trabalhos. O que acha? - sorriu sugestivo.
Minha alma saiu do meu corpo, foi passear na lua e voltou.
Se bem que ele é um piloto de fórmula um que até um dia desses tava com a Gigi Hadid, acho que não tô pra papo não.
― Como você disse, talvez. Mas por enquanto, não estou interessada. - lambi meus lábios, sorrindo de canto.
Sua face murchou no mesmo instante, seus braços cruzados deixavam seus bíceps a mostra, seus ombros pareciam maiores e meu Jesus Amado aquelas pernas entreaberta sobre a cadeira.
Como eu deixei um homem desses sem resposta?
― Então, talvez... aceitaria a proposta de me ver correndo esse domingo, com o capacete que você desenhou para mim? - apoiou os braços sobre a mesa, parecendo estar me chamando para um desafio.
― Nesse caso a resposta eu posso te dar de maneira imediata, eu já consegui um passe para o Paddock, não se preocupe. - pisquei para ele.
Quando foi que eu comecei a ser tão ousada? Ele rolou suas orbes pelas minhas mãos, por meus ombros, por meu pescoço, pela minha blusa, parecendo bem interessado.
― Eu adoraria te ver mais vezes se possível, sweetheart. - seus olhos encararam os meus, dessa vez, parecendo se afundar na imensidão e na intensidade do castanho.
― E quem não adoraria? - mais um tom provocativo.
1036 palavras.
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BUTTERFLY EFFECT ⸻ LEWIS HAMILTON
FanfictionUYARA ALVES É uma artista de vinte e quatro anos que a única coisa que procura é a própria estabilidade, entretanto, isso era algo que ela nunca iria achar, e que nunca esteve presente em sua vida desde de seu nascimento conturbado. Nascida e criad...