𝖨'𝖫𝖫 𝖢𝖠𝖫𝖫 𝖸𝖮𝖴 𝖬𝖨𝖭𝖤.

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O cheiro de pneu desgastado atingiu minhas narinas subitamente quando a classificação começou, a gasolina correndo por cada veia e artéria viva do carro como a adrenalina corria por cada fio e motor do meu corpo e dos meus olhos vidrados na televisão do box. A ponta das minhas unhas batiam na mesa vendo cada curva dos carros, eu apenas tirava meus olhos da TV para piscar. Eu não sei o porquê, mas as corridas de fórmula 1, mesmo que seja uma classificação, sempre me deixam nervosa. Acho que eu criei uma visão muito errada do esporte depois do acidente de Senna, um dos poucos eventos que fez meu pai chorar como teria feito na morte de um irmão.

O Q1 foi tranquilo, pilotos que todos já sabiam que iriam ficar para traz estavam em seus devidos lugares, pelo menos foi o que eu achei, já que todos em minha volta estavam calmos e concentrados no Q2. O toque do meu celular serviu como uma distração para todos, que viraram suas cabeças para me observar, os olhares de julgamento me arrebatando. Eu apenas sussurrei "Desculpa" timidamente e saí para atender, nervosa com o que seria.

Minha mãe apenas costumava me ligar para urgências, urgências não do tipo boas como um nascimento, urgências do tipo ruins. A sua voz do outro lado da linha me causava calafrios, embargada e chorosa, os barulhos no fundo me deixando tonta. Ela apenas falava "filha" repetidas vezes, abaixando o tom com o tempo e começando a chorar, não indo direto ao ponto.

E quando ela fez aquilo, eu já sabia o que poderia ter acontecido.

― Quem morreu, mainha? - tentei não demonstrar meu nervosismo e desespero pela informação.

Minhas mãos tremiam, meus olhos já estavam preparados para chorar e eu já estava preparada para sair dali o mais rápido possível e comprar a primeira passagem para o Brasil. Quando ela tentou falar, sua voz falhou com uma tosse e escutei a voz da minha irmã, pegando o celular e começando a falar.

― Irmã, desculpe ligar agora...

― Por favor, só me fale o que aconteceu!

― Painho sofreu um acidente grave de moto na BR, estamos no hospital aguardando, mas falaram que o estado dele é instável.

E quando ela falou aquilo, meu mundo parou. Minha visão ficou preta e minha cabeça girou, minha tremedeira não descansando e apenas ficando pior quando tentei tomar minha respiração falha.

― Irmã? Irmã? Alô? - ela tentou contato desesperadamente, sabendo que a notícia não seria bem aceita por mim.

― Oi irmã...

Sua voz estava longe dos meus ouvidos, longe de mim e da minha consciência rasa. Eu tateava as mãos pela parede afim de achar uma saída, mas eram apenas corredores e corredores iguais. A bile já estava na ponta do meu estômago, um gosto ruim nas entranhas da minha garganta quando me segurei para não vomitar ali mesmo. O pânico tomou conta de mim de maneira tão rápida que não soube reagir, eu apenas sabia correr atrás da saída. Minhas lágrimas caiam incessantemente pelo meu rosto, poucas e grossas, pesadas como uma bigorna.

Até que, meu desespero foi brutalmente diminuído quando esbarrei em alguém que viu meus olhos chorosos e minhas mãos tremendo. Era a fisioterapeuta do Lewis, seus olhos claros arregalados quando me viram.

Sua boca se abriu para falar alguma coisa, mas não falou e pediu que eu a seguisse, me levando para uma salinha onde me ofereceu um copo de água e pediu que eu sentasse.

― Você... quer conversar? Houve alguma situação estressante hoje ou... algo assim? - se agachou na minha frente.

― Na verdade... - eu ia começar a falar, mas quando eu abri minha boca, ao invés de palavras saiu uma pequena quantidade de vômito.

BUTTERFLY EFFECT ⸻ LEWIS HAMILTON Onde histórias criam vida. Descubra agora