𝖲𝖮𝖫𝖳𝖮.

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As memórias da madrugada anterior ainda estavam vivas na minha mente, a memória do calor do seu corpo junto ao meu como se eu estivesse queimando e ele estivesse sendo a brasa mais quente. Seus braços me rodeando enquanto os batimentos cardíacos dele pareciam tão vivos como se estivessem correndo por sobrevivência.

Meus olhos observavam com atenção os raios de sol que entravam pela janela daquele salão onde todos estavam tomando café da manhã. Em minha boca, eu sentia o gosto do café amargo descer junto com o cuscuz com ovo que estava em meu prato.

Meu coração batia como meus passos contra o chão quando fui embora, meu telefone em minha orelha escutando a voz de Agatha.

― A exposição vai ser em Londres, eles além de quererem alguns quadros seus querem que você esteja presente na maioria dos dias, ou na medida do possível. Vai ser na segunda maior galeria do Museu Britânico, assim você pode expor murais também.

― Vai ser próximo mês né?

― Isso! O tempo passa né? Até a um tempo atrás faltava dois meses e muitas coisas pra resolver.

― Quanto mais trabalhos melhor, eu te ligo mais tarde, certo?

― Tá com o britânico, é?

― Não, pelo amor de Deus, Agatha!

Escutei sua risada escandalosa do outro lado da linha, sua mão provavelmente batendo na mesa e sua cabeça pra traz com a boca aberta quase chorando de rir. Ela ria assim de qualquer coisa.

― Eu vou desligar na sua cara. - ameacei.

― Não! Eu nem te conto, menina. Ele tinha me passado mensagem perguntando de que tipo de música você gostava, acredita? Quase infartei.

― Oi? Certeza que estamos falando da mesma pessoa? - eu estava claramente surpresa, muito surpresa.

Que audácia.

― Do Lewis Gostoso Hamilton? Sim, estamos falando da mesma pessoa.

― Agatha, eu vou me papocar.

― Não papoque mulher, ele tá tão na tua, pode acreditar.

― E você respondeu oque?

― O que você gosta, sua cabrunquenta. Rap, pagode, MPB, essas coisas assim de baiano. E dei ênfase que é só música brasileira, não tem essa palhaçada não.

― Agora eu tô curiosa sobre o que ele vai fazer com essas informações.

― Te pedir em casamento ao som de Eu amo você do Tim Maia, quer ver?

― Você sonha alto, viu? Tenho que desligar agora, mesmo, preciso sair desse hotel e ir resolver algumas coisas.

― Só não seja atropelada por uma carroça.

― Isso eu não posso garantir. - ri, desligando o telefone e o guardando na minha bolsa.

Eu odiava dirigir em São Paulo, mas odiava mais ainda pegar ônibus lotado as dez da manhã, então preferi por ir no estacionamento do Hotel, ligar meu carro e partir. A música que tocava era da Elis Regina e parecia ser um perfeito contraste ao som das buzinas e dos caminhões pesados passando ao meu lado.

O bom de não ter um carro fixo, era porque você sempre experimentava novas marcas e era mais barato. Eu vivo viajando, então acho que não faz sentido ter um carro que eu leve para qualquer lugar e pague um rim de imposto. Semana passada eu estava no Rio de Janeiro com um Volkswagen, para ter menos probabilidade de ser assaltada. Hoje eu estou em São Paulo com uma BMW, mas morrendo de medo de uma moto passar do meu lado e apontar uma arma na minha cabeça.

BUTTERFLY EFFECT ⸻ LEWIS HAMILTON Onde histórias criam vida. Descubra agora