𝖵𝖤𝖫𝖧𝖠 𝖨𝖭𝖥𝖠𝖭𝖢𝖨𝖠.

356 37 9
                                    

Meus olhos ameaçavam se encher de lágrimas quando peguei a chave da minha moto e observei o céu, o céu escuro e profundo que eu gostava de observar em todas as noites mal dormidas da minha vida. O céu de Salvador estava cheio de estrelas e de vida, um pequeno brilho podendo ser avistado no fim da escuridão vasta, indicando o amanhecer.

Quando coloquei meu capacete e liguei a moto, parti para as ruas desertas da cidade, sentindo a brisa pesada bater contra meu casaco pela alta velocidade. Meu cabelo trançado voava e eu sentia frio, mas um sorriso estava em meu rosto, a pura e mais inocente nostalgia.

A jornada não era longa, em menos de vinte minutos cheguei no condomínio fechado em que eu morava com minha amiga, avisando antecipadamente a ela que havia chegado, sem resposta alguma. Não era surpresa, já que eram quatro e cinquenta da manhã.

Meu corpo estava exausto, apenas o esforço de pegar minha mala e subir as escadas já era algo que me cansava. Entretanto, o cheiro familiar de café com baunilha me confortava e me abraçava, aquela era a fragrância da minha vela aromática preferida, e era o cheiro que impreginava a casa inteira.

Assim que abri a porta do meu quarto com meu cotovelo, uma pequena criatura veio correndo ao encontro de mim com o rabinho balançando e um grande sorriso em seu rosto peludo.

― Edinho Jacaré! - falei o nome do meu cachorro com um sorriso enquanto largava a mala no chão e sentia suas lambidas em minha mão.

Durante a minha brincadeira com Edinho, escutei um resmungo vindo da cama e os cabelos ruivos da minha amiga espalhados por ele, sua face amassada e seus olhos meio abertos.

― Yara, voltou... - falou baixo, sua voz e seu sotaque se perdendo em meio a rouquidão.

― Não, não, aqui é só meu espírito mesmo. - brinquei, caminhando até a cama com o cachorro ao meu lado.

― O seu cuerpo tá com o británico, né? - o espanhol mexicano ainda estava na sua fala.

― Vá se lascar. - me sento na beirada e Edinho sobe no colchão, se deitando entre os travesseiros.

― Como foi? Está tudo bien? - disse uma palavra de cada vez enquanto coçava os olhos.

― Ah, foi legal, e tem um piloto narigudo que é um gostoso. - pisquei. ― Tirando o fato que eu saí com o Hamilton, foi tudo tranquilo, tô bem.

― Tú y el delicioso...? - perguntou desconfiada, se despertando automaticamente e me encarando.

― Não! Você só pensa em besteira! - reviro os olhos, escutando sua risada.

Yo necesitaba saber, tu hermana já sabe?

― Não, eu não tenho nada com ele, ela não precisa saber por enquanto. - suspiro.

Usted que sabes...

Eu achava tão bonitinho quando ela misturava espanhol com português que nem me liguei que estávamos entrando em um assunto sério.

― Minha mãe me convidou para ir almoçar lá hoje, quer ir comigo? Minha família gosta de você, principalmente meu primo.

Tu primo? Aquel moleque? Yo dije que no gusto dele! Pobrecito. - seu tom mudou repentinamente de indignação para compaixão.

― Pode deixar que Nicole vai deixar ele no canto dele.

Gracias!

Uma risada escapou de mim quando ela falou seu agradecimento, Edinho estava no meio da cama, com a barriga para cima pedindo para que fizéssemos carinho dele.

BUTTERFLY EFFECT ⸻ LEWIS HAMILTON Onde histórias criam vida. Descubra agora