Pedido - Revisado (Primeira fase)

167 18 460
                                    

Mil anos atrás, Deus observou a humanidade definhar em guerras por território. Em resposta, criou um homem dotado dos poderes da morte. Este dom, sombrio em sua natureza, extinguia a vida daqueles que o buscavam em busca de favores para perpetuar o mal. No entanto, ele sempre deteve o livre arbítrio para aceitar ou recusar tais solicitações.

Num certo dia, ele desceu à Terra como uma flecha impulsionada pelo vento, colidindo com o solo e criando um vasto buraco. Esse lugar tornou-se sua casa, onde construiu sua morada. Nos primeiros 100 anos de sua existência, Deus retirou-se de sua vida, observando apenas seus passos. Este homem não recordava a face divina, mas guardava na memória as ordens recebidas antes de ser lançado ao mundo.

Em 2020, numa cidade do Oriente, a casa de um homem exibia um desenho de uma mosca com asas abertas na porta. Diariamente, a porta permanecia destrancada, e as janelas escancaradas. À primeira vista, parecia uma casa comum, com amplas janelas e paredes brancas. Seu telhado, coberto por telhas pretas, permanecia imaculado, resistindo ao teste do tempo sem mostrar sinais de deterioração.

Nessa casa procuravam-se favores, alguns partiam, outros desapareciam. No vasto jardim dos fundos, o solo revelava uma série de buracos, alguns vazios, outros preenchidos. Um feitiço habilmente tecido pelo homem ocultava essa visão aos olhos humanos. Isolado dentro de sua morada solitária, ele resistia a conceder favores. Um dia, uma garota chegou, e pela primeira vez, ele recusou seu pedido antes mesmo que ela pudesse falar. Apesar disso, a garota persistia, retornando diariamente, sempre encontrando rejeição.

- Não desejo testemunhar sua morte; ela parece ser uma pessoa boa. Não consigo nem permitir que ela revele seus desejos - Ponderou o homem, sentado em sua poltrona enquanto tragava um cigarro. Ao seu lado, um cinzeiro repleto e várias moscas zanzavam pela casa, testemunhas silenciosas de seu peculiar dom.

- Esse barulho é chato demais...

murmurou o homem. Com um gesto de suas mãos, as moscas pousaram e ficaram imóveis, proporcionando um breve período de paz e solidão. Outro dia se desenrolou, e a garota retornou. Dessa vez, antes de fechar a porta, ela colocou o pé. O homem, indiferente, voltou para sua sala, um cigarro em uma mão e um copo de bebida na outra, já embriagado. Ao ver a solidão naquele lugar, a garota entrou e segurou sua mão, pedindo para ser ouvida pelo menos uma vez. O homem parou e refletiu, aquele instante parecendo horas, a tristeza por mais uma alma prestes a retornar a Deus sem tempo para se arrepender.

Está bem, diga. Mas seja cautelosa com o que vai pedir.

A garota demonstrou animação e começou a falar, permanecendo de pé no corredor da entrada da casa. Observando seus modos, o homem pediu que ela entrasse e se sentasse, oferecendo água, suco. No entanto, ela optou por whisky com gelo. O homem a examinou mais atentamente, pensando: "Deprimente, assim como eu".

- É bom ter companhia para beber, não é? Posso saber seu nome? Sempre venho, mas você nem se importa em me dar uma chance - Disse a garota, buscando uma conexão no silêncio do homem solitário.

- Meu nome é Bel, chame de Bel - ele revelou, buscando um vínculo naquele instante de intimidade compartilhada.

A menina ficou feliz, pelo menos agora sabia o nome dele.

-bMeu nome é Marya. Sempre te vejo tão sozinho, deve ser tão triste, e eu sei como é isso - Confessou ela, compartilhando uma compreensão mútua da solidão.

- Diga o que deseja, por favor. Minha cordialidade tem tempo limitado - Ele declarou, revelando uma frieza que a solidão talvez tenha moldado em sua personalidade.

- Já estou dizendo o que desejo. Quero que você seja feliz... - Expressou Marya, desejando algo que transcendia os pedidos usuais feitos naquela casa sombria.

Vivências Onde histórias criam vida. Descubra agora