~》Onde Jão e Pedro namoram na adolescência.
~ Totalmente autoral.
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Pedro Tófani Palhares.
Belo Horizonte, Brasil.◇
Escuto a voz conhecida da minha mãe, dona Ana Palhares, gritar meu nome pela quinta vez em menos de 5 minutos.
- Eu já disse que estou descendo! - Afirmo, correndo pelas escadas e firmando os pés no chão de minha cozinha.
- Já são 7:15, garoto! Você vai acabar chegando no segundo horário desse jeito... - Ela diz, deixando um copo térmico sobre a mesa, ao lado de um sanduíche natural.
- Eu sei, vou correr até lá! - Pego a comida e vou andando até a porta.
- Tchau, meu bem. Tenha um bom dia! - Escuto minha mãe gritar para mim.
Verbalizo um "tchau" e vou em direção a escola.
[...]
Para minha sorte, em poucos quarteirões, eu já estava em meu colégio.
Passo pelos corredores, sem olhar muito para ninguém.
Chego no pátio principal e meus olhos caminham pelo espaço, procurando _ele._
- Oi. - O sussurro conhecido em meu ouvido me assusta.
Viro-me, já sorrindo e encontro seus olhos castanhos brilhando, junto em um sorrisinho.
- Oi, eu tava te procurando.
- E eu estava te esperando, você demorou hoje. - Assinto.
- Sim, acabei atrasando. - Ele assente e segura minha mão.
- Será que dá tempo de correr até a biblioteca? - Ele pergunta.
A biblioteca.
Digamos que esse seja o lugar aonde eu e João nos escondemos para... Nos pegar.
Antes que eu possa dizer algo, a campa toca, anunciando que devemos subir para as salas.
Solto um riso e ele resmunga.
- Acho que isso responde sua pergunta! - Entrelaço meus dedos nos seus e saímos daquele lugar, seguindo para nossa sala.
[...]
Quando o sinal do intervalo toca, agradeço mentalmente pelo fim daquela aula terrível de química.
Guardo meus cadernos na mochila, já separando tudo para quando voltarmos.
- De quem é o dia? - João pergunta.
- Meu. - Respondo.
João e eu temos um combinado de anos, aonde um dia eu pago o lanche - que sempre é uma coxinha de frango - e ele a bebida. - que sempre é uma coca-cola - E vice-versa.
- Ok. Vamos? - Assinto.
Vitor passa seu braço por minha cintura e nós caminhamos assim até a cantina.
É tão gostoso poder viver isso. A dificuldade de consegui viver um relacionamento bom na adolescência é tanta, que as vezes não acredito que eu consiga.
Mas, todas as vezes que o Jão me beija, me abraça, segura minha mão ou me puxa pra perto dele em público, eu lembro que tenho sorte pra caralho.
Não somos só um casal na adolescência.
Somos uma casal gay na adolescência.
E damos certo, muito certo!
As vezes, é até estranho o quanto.
[...]
- João! - Brigo de brincadeira com ele, enquanto o menino junta nossos lábios em mais um beijo.
- Não estamos não! Aqui já é a porta da sua casa! - Puxo sua mão, enquanto adentro o jardim.
- Exatamente! Você precisa de menos de 5 minutos para estar sozinho comigo. - Abro a porta e entro em casa.
- É muito difícil passar uma manhã inteira perto de você e não te beijar em momento nenhum!
- Você fala como já não fôssemos acostumados! João Vitor, nós namoramos a 2 anos! - Passo os braços por seu pescoço e ele me beija.
É estranho momentos assim.
Não me entendam mal, mas eu e o Jão já passamos da fase de nos beijar o tempo todo.
Mas, apenas aproveito seu beijo, que é cada vez mais delicioso.
- Vem, me ajude a esquentar o almoço! - Puxo ele para cozinha.
[...]
Estamos deitados em meu quarto. João deita aconhegado em meio peito.
Ele mexe em seu celular, fazendo qualquer coisa e eu leio "Os sete maridos de Evelyn Hugo" dela quinta vez.
Esse livro é esplêndido.
Estamos em silêncio por algumas horas, mas não ligo muito. Sendo sincero, amo esses momentos do dia a dia.
Mas, penso pouco sobre eles.
Em um relance, acabo desviando meus olhos para João, no momento em que ele sai de um aplicativo qualquer.
Posso ver seu papel de parede. É uma foto nossa.
- Há! Você, finalmente, me ama mais que seus gatos! - Solto meu livro e nem o marco.
- Não, não, não! Não venha com essa, é só uma foto! - Franzo o cenho e abro a boca, fingindo estar ofendido.
- Nossa, eu realmente achei que você me amasse mais.
Ele sorri e suspira.
João senta em meu colo.
- Tá, tudo bem... Eu confesso: eu te amo mais do que meus gatos. - Ele diz em uma voz calma.
Dou um riso.
- Eu já sabia!
João deita seu corpo em mim, me abraçando. Sinto seu nariz em meu pescoço e sua respiração me arrepia. Fecho os olhos e começo um cafuné nele.
- Na verdade... Eu te amo mais que todo mundo no mundo todo! - Ele confessa, baixo no meu ouvido.
Isso é tão estranho.
Somos dois garotos, temos apenas 16 anos. Deveríamos ir a festas, nos beijar de 5 em 5 minutos, passar a semana inteira se vendo apenas na escola e os fins de semana passar o dia em algum lugar.
Como casais adolescentes fazem.
Mas, na verdade, não é assim. Passamos o dia em casa, João sempre dorme aqui e eu durmo na casa dele. Usamos roupas um do outro, ficamos apenas juntos.
Presenciamos a companhia um do outro.
E ele, com certeza, é a pessoa que mais amo no mundo.
- Isso não é estranho? - Ele pergunto. - Acho que somos estranhos.
- É, eu acho que sim. - Ele beija meu pescoço.
Não preciso responder que amo ele mais que todo mundo.
Porque ele sabe. Ele só sabe.
Não sei como, mas ele sabe.
Assim como eu sabia.
Eu só sabia.