Peterlogia.

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"Look into my eyes it's where my demons hide" - Demons, Imagine Dragons.

-Eu não tenho a mínima ideia sobre como fazer isso. -Luke disse encarando os instrumentos laboratoriais.

Ele olhou para as outras duplas, todos pareciam saber o que fazer. Becca conversava timidamente com o companheiro. Espera, aquele ao lado dela era Gabe Birkenstock?

-Acho que sei por onde começar. -Sibilou o garoto sentado ao lado de Luke.

-Fique à vontade. -Luke rolou a cebola pela bancada, entediado.

Ainda era estranho ter como parceiro o cara que ficou o olhando antes da aula. Aquela mesma onda estranha que sentira, percorria o seu corpo à todo momento.

-Então, você é Luke Blake? -O garoto pôs uma pequena gota de água sobre a lâmina.

-Sou. -Luke respondeu secamente. -...Você se chama Peter, não é?

Ele havia lido na prancheta o nome do garoto há alguns minutos, mas para não parecer tão evasivo, fingiu não saber.

-Peter Crawford. -O garoto estendeu a mão. -Prazer em conhecê-lo.

Luke apertou a mão de Peter. Uau! como ele era forte. Será que tinha acabado de sair da cadeia? Luke não duvidaria disso, afinal Peter tinha os cabelos baixos e um olhar intimidador.

-Você é novo na escola? -Luke perguntou, desta vez encarando os olhos negros dele.

-Sim. Cheguei em Nova York há poucas semanas. -Peter disse com a voz firme. -Eu morava no Maine, com a minha mãe.

Ele tinha um tom de voz forte e extremamente confiante.

-E, por que o garoto do Maine veio para Manhattan? -Luke questionou.

-Problemas pessoais. -Peter respondeu claramente desconfortado.

Luke sentiu-se tentado a perguntar "que problemas pessoais?", mas seria evasão demais.

-Achei que estivesse fugindo da polícia. -Ele disse em tom de brincadeira. -Não me leve à mal, mas sempre quis ter um amigo foragido. Adoro emoções.

Peter sorriu, fazendo com que surgissem duas pequenas covinhas nas bochechas. Era inegável que aquelas covinhas deram uma ar leve às expressões rígidas dele.

-Desculpe, não sou foragido. -Ele continuou rindo. -Mas sou um ótimo jogador de lacrosse.

Peter debruçou-se sobre Luke para alcançar a cebola que havia rolado até o lado oposto da mesa. A jaqueta dele encostando no nariz do outro. Peter cheirava surpreendentemente à erva-doce e folhas secas. Um cheiro tão delicioso que Luke desejou continuar sentindo. Ele conseguia ouvir a respiração ofegante de Peter, os dois estavam muito próximos. Seu coração palpitou mais rápido, o que estava acontecendo?

-Então, você joga lacrosse? -Luke falou após Peter endireitar-se novamente. -O Humphrey tem um ótimo time, você deveria se inscrever.

-Achei que o colégio tinha apenas o time de beisebol. -Peter pôs a mão no queixo.

-Não. O Humphrey tem várias equipes de várias modalidades, mas os holofotes sempre iluminam apenas o time de beisebol, por isso a maioria das pessoas só conhecem os Ursos Negros. -Isso era uma total verdade.

Peter olhou a cebola durante alguns segundos e retirou uma pequena lasca do vegetal.

-E você não faz nada? Digo, nas horas vagas? -Perguntou.

"Se você considera assistir sitcoms como Hobby..."

-Eu ando por aí.

-Sabe, eu adorava andar de bicicleta pelos parques de Coldwater. -Os olhos negros de Peter encheram-se com um leve brilho. -Principalmente se fosse com alguém especial.

Essas últimas frases fizeram com que Luke lembrasse do tempo em que pegava a bicicleta e pedalava durante horas no Central Park. Exatamente como ocorreu naquele dia de setembro há uns dois anos, quando ele tinha por volta de quatorze. Ainda lembrava de cada detalhe. Os regadores automáticos de sua casa respingavam água por todo o jardim, as orquídeas estavam numa cor viva e o tempo estava firme. Ele pegou a bicicleta novinha que estava apoiada nos degraus da varanda e montou em cima dela. Pedalou em direção à calçada, inspirando o ar de início da manhã. Uma brisa leve tocou seu rosto.

-Ei! -Uma voz gritou de repente.

Ele parou de pedalar e olhou por cima do ombro para a calma rua em que morava.

-Você vai para o Central Park? -Um garoto loiro perguntou parando a bicicleta próximo a ele. O loiro aparentava ter mais ou menos a mesma idade.

-Sim. -Luke respondeu o encarando.

-Posso ir com você? -O loiro tocou o ombro de Luke.

-Claro. -Disse ele notando um sorriso no rosto do garoto.

Os dois pedalaram durante alguns minutos até o Central Park. No caminho, eles conversaram sobre tudo, Luke acabou descobrindo que o loiro se chamava Toby e que estudava na mesma escola que ele. Ali, naquele momento, nem poderia imaginar o que viria à acontecer.

-Acho que descobri qual é a célula. -Falou Peter quebrando os pensamentos de Luke.

-Hum... célula... -Ele tentou recobrar o presente, levou um tempinho até lembrar-se do experimento. -Qual é?

-Telófase. -Peter olhou através do microscópio. Ele havia terminado todo o experimento sozinho. -Você não está muito interessado em biologia, não é?

"Realmente, não."

-Eu apenas me distraí.

-Quer conferir se estou certo? -Peter empurrou o microscópio na direção de Luke.

-Eu confio em você. -Luke não sabia ao certo de qual lugar em sua mente essas palavras haviam saído, ele apenas sentiu a necessidade de falá-las.

Peter sorriu, as mesmas covinhas aparecendo no rosto.

-Você me conhece há poucos minutos.

-Mas mesmo assim confio. -Olhando aqueles olhos negros, Luke sabia que havia alguma coisa neles que demonstrava confiança. Aquele garoto ao seu lado tinha algo especial. Algo que o fez lembrar de seu maior segredo, daquele dia de setembro.

-Por quê olha tanto para os meus olhos? -Peter ficou corado. Estamos falando de "corado" daquele jeito que todo o sangue do corpo corre para o rosto.

-Sabe, como diz aquela música "olhe nos meu olhos, é onde meus demônios se escondem". -Exclamou Luke.

-Você também gosta de Imagine Dragons?

-É minha banda favorita. -Os dois falaram ao mesmo tempo.

Eles riram.

-Cara, tenho certeza que seremos bons amigos. -Luke deu um tapinha nas costas de Peter.

Bad GuysOnde histórias criam vida. Descubra agora