"Heartbreakers gonna break, break, break, break, break" - Shake It Off, Taylor Swift.
-Hoje nós iremos fazer uma atividade teatral para exercitar a sinceridade. -Falou a Senhora Joan, sem movimento algum no rosto.
Risadinhas ecoaram pela sala.
A Senhora Joan era a professora de artes cênicas do colégio –– não me pergunte o por quê, mas também não sei o motivo de os alunos estudarem artes cênicas –– ela era uma mulher alta, de cabelos lisos e quadris largos. Joan jamais revelava sua idade, e para tentar disfarçar as rugas, enchia a rosto de botox, fazendo com que ficasse totalmente inexpressiva. Por isso, os alunos a apelidaram de "Boneco de Cera".
-Como sinceridade tem à ver com teatro? -Perguntou Josh. Não poderia haver conexão entre essas duas coisas, não no ponto de vista dele, já que teatro é fingimento.
-Boa pergunta, Josh. -A Boneco de Cera disse quase sem mexer os lábios. -Mas, sinceridade e teatro tem tudo à ver. Afinal, o ator deve convencer o público de que a cena é verdadeira. Tem de haver verdade na fala.
A sala de artes cênicas mais se parecia com um clube do que com uma classe, foi a maneira encontrada para deixar os alunos à vontade. Haviam três pequenas arquibancadas de madeira espalhadas pelos cantos da sala, cada arquibancada possuia três degraus. Algumas luzes neon vermelhas e azuis, em formato de figuras geométricas, ajudavam a iluminar o lugar. Uma enorme pintura moderna de Marilyn Monroe decorava uma das paredes. Ao fundo, ficava um palco para ensaios das peças semestrais.
-Sinceramente... que chatice. -Dabria bocejou desinteressada.
Josh a olhou, sentindo uma pontada de nervosismo. Ter ela tão próxima fazia sua mão suar, mesmo que próxima significasse que estivesse do outro lado da sala.
A Boneco de Ce... oops!.. a Senhora Joan limpou a garganta e começou a falar:
-Durante o exercício vocês irão andar em várias direções pela sala e só irão parar quando eu ordenar. Ao meu sinal, parem na frente da pessoa mais próxima e digam a primeira coisa que vier à mente.
Ela deu uma pequena pausa e olhou para todos os alunos, que formavam um círculo ao seu redor:
-Não tenham medo de falar nada. -Continuou. -Sinceridade é tudo.
"Ótimo", Josh vibrou em sua mente. Aquela era uma ótima chance para elogiar Dabria e fazer com que ela o notasse. Mas, será que teria coragem?
-Preparados? -A Senhora Joan saiu do meio do círculo.
"Siga a direção de Dabria", Josh repetia mentalmente. Tudo o que precisava fazer era parar de frente à ela e elogiá-la. Pensava nos possíveis elogios como um simples "hmm, você está linda" ou algo mais íntimo como "belas pernas" e "que bunda!" ––Se bem que com essa última frase o máximo que ganharia era uma bofetada.
A Senhora Joan levantou a mão esquerda, deu mais uma olhada para todos e em seguida falou em alto e bom tom:
-Espalhem-se.
Os alunos começaram a andar apressadamente contornando a sala. Todos faziam ziguezagues entre si. Os barulhos de sapatos batendo contra o piso era estridente.
Josh tinha apenas um objetivo: Dabria. Ele à procurou, olhando com dificuldade por entre os corpos desordenados, enquanto tentava acompanhar o ritmo dos passos deles. Levantou o olhar para enxergar acima das cabeças. Ali estava ela, à poucos metros, caminhando minuciosamente com os saltos altos. Agora, só precisava ir à seu encontro. Ele caminhou em direção à Dabria, esbarrando de vez em quando em alguém. Mentalizou novamente os elogios que a diria. Estava quase lá, só mais alguns passos e a alcançaria.
-Parem! -Ordenou a Senhora Joan.
"Justo agora?"
Josh girou ao redor de si mesmo tentando buscar Dabria, mas ela havia sumido de seu campo de visão. Ele virou-se e encontrou Lindsay Martin parada em sua frente.
-Conhecido. -Ela o disse, ajeitando a trança azul do cabelo.
-Legal. -Ele falou. Lindsay não era sua amiga mas ela havia feito parte da mesma turma de matemática no ano passado, demonstrava ser uma garota inteligente.
Josh olhou por cima do ombro de Lindsay, diretamente para onde Dabria estava com um atleta do time de natação. Aquela imagem introduziu uma pequena parcela de ciúmes em suas veias.
-Andem novamente. -Gritou a Boneco de Cera. Oh, aquilo em sua bochecha foi um movimento?
Todos tornaram a andar rapidamente sem direção.
Josh seguiu Dabria com o olhar, cerrou os punhos, caminhou mais apressado, estava disposto a ficar frente à frente com ela desta vez. Era uma questão de orgulho.
-Parem! -Joan levantou a mão esquerda.
Algumas pessoas passaram na frente de Josh. Ele encarou à todos. Olhou para os lados. Onde estava Dabria? Ele fez um giro de 360° graus e quando estava o completando, nem acreditou no que viu. Bem ali, na sua frente, estava Dabria, a garota por quem sempre foi apaixonado.
Seu coração acelerou, seus pensamentos se esvairaram. A imagem dela era a coisa mais perfeita que existia. Por tantas vezes sonhou com o momento que a teria tão perto. Nada mais no mundo parecia existir, apenas os dois, num momento mágico.
-Linda. -Foi a única coisa que Josh conseguiu dizer. Os elogios que ensaiara haviam sido literalmente apagados.
-Otário. -Dabria grunhiu.
Ele nem ouviu a palavra "carinhosa" que ela o falou, estava ocupado demais apreciando seus maravilhosos lábios.
-Tudo bem, vamos de novo. -Joan o arrancou do encanto.
Ainda em êxtase, ele viu Dabria afastar-se arrumando a minissaia que subia com os movimentos ––Que cena maravilhosa. Aquele momento que passara com ela havia sido os melhores quinze segundos de sua vida.
Após mais algum tempo percorrendo a sala, um jogador de beisebol chamado Tony parou em frente à Josh.
-Massa muscular ambulante. -Josh sibilou. Realmente, Tony não tinha conteúdo algum, parecia que seu cérebro processava apenas as palavras "academia" e "beisebol".
-Saco de ossos. -Tony guinchou. Opa, parece que temos um vencedor.
Ao sinal da professora, barulhos de passos novamente ecoaram. Todos cortavam a sala em ritmo rápido.
A pintura de Marilyn Monroe se parecia com um borrão colorido na visão de Josh. Ele observou Dabria e em seguida a seguiu. Queria reviver os quinze segundos que tivera.
-Parem, pela última vez. -A Senhora Joan estalou os dedos.
Josh parou de frente para Dabria. Isso! o universo conspirava ao seu favor. Assim que ele abriu a boca para lhe dizer algum elogio, ela o interrompeu imediatamente:
-Você está me perseguindo? -Dabria empurrou ele com uma das mãos.
-Não. Por quê acha isso? -Josh disse com a voz trêmula.
-Sei que está tentando me elogiar para me agradar. -Dabria semicerrou os olhos. -Mas, é melhor ficar sabendo que eu jamais daria atenção pra você.
O estômago de Josh embrulhou. Aquelas palavras o acertaram como uma facada.
-E, por que não? -Ele estava com os olhos marejados. Não, não poderia chorar agora, não mesmo.
Os outros alunos olhavam em sua direção, como uma plateia para a vergonha. Alguns cochichavam com as pessoas ao seu lado. Todos com os olhos bem apostos para ele e Dabria.
Dabria inspirou e voltou a falar friamente:
-Porque você é estúpido, perdedor, horrível, magricela, nunca venceu absolutamente nada, -Ela olhava no fundo dos olhos dele enquanto enumerava os motivos nos dedos. -nem carro você tem. Ah, esqueci de citar que você é insignificante.
A cabeça de Josh martelava. Ele achou que estava tendo uma concussão. Então era isso que ela achava? que era um perdedor? claro que sim, afinal esse era um jogo de sinceridade. Nossa, como odiava artes cênicas.
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Bad Guys
RandomA história acompanha a vida dos adolescentes do Humphrey High School, de Manhattan em Nova York, uma escola onde os alunos vivem sob a lei da popularidade. No final da escala de popularidade estão os amigos Josh, Luke e Becca, eles são praticamente...