Bad Guys

Teto de Vidro.

"Got a secret. Can you keep it?" - Secret, The Pierces.

Na manhã seguinte à grande aposta, Katherine saiu do quarto após fazer sua higiene matinal. Ela vestia-se confortavelmente com um suéter azul Agnes B. -Que comprara com o próprio dinheiro-, minissaia vermelha da French Connection e sapatos scarpins. Os cabelos platinados estavam soltos e decorados com uma touca de crochê. Realmente, ela sabia utilizar a moda preppy à seu favor -Nunca teria coragem de usar um simples jeans da Top Shop.

À passos lentos, Katherine desceu as escadas da casa de Dabria minuciosamente degrau por degrau. Sua postura ereta era algo intrigante, ela andava com uma elegância capaz de deixar até mesmo uma lady com inveja. Apesar de nascer numa família de classe média, onde a mãe sustentava toda a casa, Katherine Bass portava-se como uma integrante da alta sociedade.

Ela olhou em volta da enorme sala de estar em estilo vitoriano dos Walsh. Oh, literalmente aquilo não tinha nada à ver com sua casa no Harlem. -Não, ela não vivia em um cubículo, mas sua casa com dois quartos tornava-se absolutamente nada se comparada à mansão dos Walsh- Um lustre de cristal pendia do teto, sofás macios e luxuosos rodeavam uma mesa de centro, cortinas de linho tapavam as janelas e as paredes de vidro, o carpete era algo deslumbrante.O ambiente tinha cheiro de riqueza.

Quando vinha à casa de Dabria, Katherine gostava de ficar apreciando esta fascinante sala de estar. Sabe, fazer isso impulsionava sua ambição. À incentivava a querer sempre mais. Para assim, um dia, poder ter tudo o que quisesse, inclusive uma sala bem maior que aquela.

O seu deslumbre foi interrompido instantaneamente por uma voz oponente encoando pelo recinto:

-Sim, isso é verdade... a construtora entrou em colapso. -A voz masculina dizia nervosa. Pela proximidade, o som parecia vir da cozinha. -Eu sei... eu sei que era um negócio arriscado.

Katherine aguçou mais a audição para continuar ouvindo a conversa. O que quer que fosse, deveria ser muito estressante, a tensão sob o diálogo era notória. Ela começou à seguir o caminho da conversa, passando por um corredor que levava até a cozinha.

-Droga! Os lucros estão baixando cada vez mais, as ações não valem quase nada... não, não creio que possa haver uma saída. -A voz continuou a sibilar com um tom de ira.

Ao se aproximar mais de onde o som vinha, Katherine reconheceu à quem pertencia àquela voz. Era a voz de Hank Walsh, o pai de Dabria. Mas, por que ele estaria tão zangado e preocupado? Hank sempre havia sido um homem sério. Bem, ela poderia ficar e descobrir o motivo, não é? Hmm... não poderia ir embora sem desvendar aquilo, não mesmo. Ela parou silenciosamente perto da entrada da cozinha, impedindo que Hank à visse. Do esconderijo, Katherine tinha ampla visão dele. Hank andava de um lado para o outro, percorrendo todo o  cômodo enquanto falava ao celular.

-Estamos atolados em dívidas, estamos à um passo da falência. -Hank disse pausadamente no BlackBerry. -Tivemos que demitir vários funcionários... sim, a situação é crítica. -Ele apoiou-se na pia. -Sinceramente, temo que este possa ser o fim da construtora Walsh.

Espera aí, era isso mesmo o que estava ouvindo? A empresa do pai de Dabria estava falida?

-...Ninguém além de nós tem conhecimento sobre isso. -Hank falou massageando as têmporas. -Tudo bem, eu a manterei informada. -Exclamou antes de terminar a ligação e passar as mãos no rosto.

Ah, Deus. Katherine não acreditava no que acabara de escutar. Era algo improvável. Os Walsh estavam falidos, completamente falidos! Ou pelo menos quase. E, ela sabia disso. Poderia vender esta informação para algum blog à um preço milionário. Agora, literalmente tinha Dabria e toda aquela família em suas mãos. Poderia chantageá-los ou até mesmo destruílos. Mas, ao invés disso tudo, Katherine simplesmente respirou fundo e saiu andando como se não soubesse de nada. Afinal, era melhor ter uma carta na manga para o momento em que realmente necessitasse.

Quando voltou ao quarto, Katherine se deparou com Dabria e Jessica já acordadas e se preparando para o colégio. Dabria maquiava-se em frente a penteadeira de cerejeira, testando inúmeros produtos de beleza. Jessica tentava se espremer num vestidinho florido com decote quadrado. -O decote estava quase gritando me foda.

O quarto de Dabria era enorme. Uma colcha macia e diferente cobria a cama queen size com dossel. Um enorme espelho ficava em uma das paredes opostas às inúmeras fotos, eram dezenas de imagens de Dabria com o namorado e as amigas. Duas penteadeiras organizavam perfumes, maquiagens e cremes hidratantes. Uma porta, ao fundo, indicava a entrada do closet.

-Onde você estava, Kat? -Perguntou Dabria, terminando de passar o rímel MAC.

"Estava apenas bisbilhotando a vida do seu pai e descobri que vocês estão em ruínas."

-Ahn... fui tomar um pouco de café. -Katherine se viu respondendo. Não tinha de citar o que acabara de saber, não é? -Preciso de cafeína todas as manhãs.

-Nossa, essa roupa aumenta meus peitos. -Jessica expirou após conseguir colocar o vestido. -Se eu fosse homem, eu me pegaria.

-Por falar em pegar... Dab, você realmente vai concluir a aposta de ficar com o esquisito? -Katherine sentou-se na beirada da cama. -Sabe, você pode desistir se quiser.

-Desistir? Eu nunca quebro um acordo, por mais estúpido que ele seja. -Dabria pincelava pó compacto por toda a extremidade de seu rosto em formato de coração. -Irei fazer o que foi combinado.

-E, vai terminar com o Gabe? -Jessica disse incrédula.

-Bem, ele com certeza irá entender se eu explicar o motivo. -Era incrível como Dabria estava totalmente calma com tudo aquilo. -Nós nem precisamos terminar de verdade.

-Hã... E, como irá pedir o Josh em namoro? -Katherine quis saber. -Digo, será em público?

Dabria passou o batom Shanghai Spice nos lábios e respondeu:

-Hmm, já tenho algo em mente. Porém, vocês só irão saber na hora do grande anúncio. Será algo que ninguém jamais irá esquecer.

-Isso é loucura. -Falou Katherine. Nem em um milhão de anos poderia imaginar que uma coisa dessas aconteceria.

-Tem que ser muito louca pra dar uns amassos naquele estranho. -Jessica acrescentou enquanto calçava o peep toe Stuart Weitzman. -Namorá-lo, então... argh, é o fim do mundo.

-Namorar esse nerd pode acabar sendo divertido, afinal. -Dabria levantou-se assim que concluiu a "pouca" maquiagem. -Vou encarar isso como uma caridade. -Ela usava um shortinho de cintura alta, cropped xadrez e sapatos plataforma Carmen Steffen.

-É, uma enorme caridade. -Katherine ajeitou a touca no cabelo. -Talvez, você ganhe o prêmio Nobel da paz. -Ironizou pondo-se de pé novamente.

Pud, a gata persa -e arrogante- de Dabria, entrou no quarto nesse exato momento, caminhando como se estivesse em um concurso de beleza para animais.

-Ah, gostaria de deixar uma coisa bem clara. -Murmurou Dabria. Todas à olharam. Ela limpou a garganta antes de continuar. -Eu não irei sofrer sozinha.

Katherine franziu o cenho.

-Do que está falando?

-Eu vou ficar com o Josh, mas vocês também passarão por uma má fase. -Dabria perfumou-se com o Gucci Première provocando uma pequena névoa adocicada. -Melhores amigas sofrem juntas, certo?

Jessica e Katherine se entreolharam nervosas.

-O que você vai fazer? -Jessica mordeu os lábios ansiosa.

Dabria pegou a bolsa Coach de couro e olhou-se no espelho mais uma vez -Esperem e irão ver. -Ela deu uma risadinha sádica enquanto mexia nas mechas do cabelo.

Encarando o reflexo de Dabria através do espelho, Katherine sentiu uma onda de medo entrelaçando sua espinha. Dabria conseguia ser muito criativa e cruel quando queria, e essa história de sofrerem todas juntas... não estava parecendo nada boa.

-Estão prontas? -Dabria questionou-as na soleira da porta. -Hoje quero chegar bem cedo, a entrada será o momento crucial para o início do meu show.

Como assim? Ela achava que tudo era um show? Sim, um show em que vários corações seriam destruídos. Katherine espantava-se com a frieza com que Dabria tratava àquela situação. Outras garotas estariam tendo um lapso, mas ela continuava impecável. Chegava a ser irritante.

-Vamos lá. -Katherine falou hesitando, antes de sair do quarto.