Ressentimentos após o término.

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"I got one less problem without ya" - Problem, Ariana Grande.

No estacionamento do Humphrey High School, Dabria repassava ensaiadamente tudo o que falaria para terminar o namoro com Gabe. Vejamos... Poderia iniciar seu discurso com um impactante "Acho que precisamos dar um tempo", e depois explicaria o simples motivo. Ele, é claro, entenderia plenamente que tudo se tratava de uma aposta e também iria adorar tirar sarro de Josh. Perfeito. Além do mais, só precisavam fingir que estavam separados durante o período da aposta e depois voltariam a ser o casal do colégio. Ah, vamos lá. Um mês não é tanto tempo assim, é? Com certeza, sim. E, se Gabe não quisesse continuar com ela mesmo sabendo do real motivo do "rompimento"? Hmm, era algo perigoso e uma hipótese a se considerar. Dabria tamborilou os dedos no capô da sua Mercedes Benz. Que Diabos estava fazendo? Se preocupando se perderia um garoto? Dar um pé na bunda de qualquer namorado nunca fora um problema para ela. Aliás, pensando melhor, nem gostava tanto assim de Gabe. Quer dizer, Gabe era muito bonito, excessivamente gostoso e extremamente sexy. Mas, o que sentia por ele não era paixão e muito menos amor, era algo mais próximo de uma... atração. Na verdade, Dabria Walsh jamais havia se apaixonado por alguém. Ela ficava com os garotos simplesmente por os acharem bonitinhos e, para provar que poderia ter qualquer cara que quisesse.

Dabria virou-se no sapato plataforma para observar o amplo estacionamento que a cercava. Num carro próximo dali, a rádio local tocava Problem da Ariana Grande. Duas líderes de torcida, que pareciam clones das modelos da Seventeen, acenaram e sorriram para ela. Riley Barker e Sarah Miller. As duas garotas eram ridiculamente brozeadas. Nunca vira pessoas tão bronzeadas assim desde que passara as férias nas Bahamas ou naquela vez no Brasil.

Do outro lado, Josh Bell saía do Chevrolet da mãe, acompanhado de seus amigos irritantes. Oh, Deus. Como Josh era patético. Não sabia nem se vestir direito. Dabria não conseguia acreditar que daqui à algumas horas estaria o namorando oficialmente. Seu humor estava tão cinzento quanto as nuvens do céu. Bem que um raio poderia cair naquele nerd e ficaria tudo bem, estaria tudo acabado. Realmente, não se imaginava beijando ele. A morte era a melhor opção. Desistir da aposta era uma alternativa, porém, fora de cogitação. Ela era a abelha rainha do colégio, e não iria deixar que a considerassem medrosa. Por isso, fixou na mente que talvez fosse divertido brincar com os sentimentos daquele esquisito. Isso, iria tratá-lo como um brinquedo. Um brinquedo que descartaria depois de um mês.

-Estava procurando por você. -Alguém sussurrou no ouvido dela, segurando sua cintura por trás.

Dabria girou imediatamente para encontrar Gabe. Ele vestia uma calça Abercrombie que deixava seu traseiro sexy, e uma camiseta branca marcando seus músculos ganhados pelo beisebol. Alguns outros jogadores o acompanhavam. Dabria estalou os dedos fazendo sinal para que os garotos fossem embora.

-Hã, que história é essa de aviso? -Gabe perguntou após os amigos se distanciarem.

-Isso não importa agora. -Dabria respondeu secamente. Era o início do seu teatro. -Nós precisamos conversar.

-Conversar? -Gabe a puxou mais para perto, a acariciando na bochecha. -Sobre...? -Ele levantou o queixo dela e aproximou os lábios.

Dabria impediu o beijo imediatamente, colocando o dedo indicador sobre a boca dele.

-Precisamos conversar sobre o nosso relacionamento. -Ela disse, afastando-se.

-Está tudo bem? -Gabe apoiou os braços no capô da Mercedes Benz.

-Não... quero dizer, está... mas... -Dabria expirou. Céus. Como isso era difícil. -É só que... deveríamos dar um tempo. -Ela disse afinal. Após as palavras saírem, uma sensação inexplicável de orgulho a invadiu.

-Por quê? -Gabe enrijeceu a postura. Sua expressão era um misto de confusão e surpresa. -Aconteceu algo?

Pronto. Seria o momento perfeito para explicar o motivo. Tudo estava fluindo como no seu plano.

- Erm... -Dabria tentava achar as palavras corretas. Nossa, só tinha de abrir a boca e falar logo. Não era tão difícil assim. -Bem, eu decidi...

-Ah, imaginei que isso aconteceria. -Gabe interrompeu abruptamente. -Essa coisa toda é bem típica de garotas como você.

O que? Do que ele estava falando? Será que sabia à respeito da aposta?

-Então, você sabe? -Dabria questionou.

Os olhos dourados de Gabe se encheram de afronta.

-É, claro que sei. -Ele guinchou. -Você acha que pode simplesmente decidir acabar a nossa relação, não é? Está me chutando.

Dabria segurou a bolsa Coach ainda mais forte. Espera aí, isso não estava planejado. Mas, devia ser apenas um mal entendido.

-Gabe, deixe eu explicar o que está havendo. -Ela replicou. -Você entendeu tudo errado.

-Não, eu entendi plenamente. -Disse Gabe rispidamente. -Você está me dispensando porque se cansou de mim. É isso o que as garotinhas mimadas fazem, certo? Elas usam as pessoas e depois as descartam.

Quem ele pensava que era insultá-la daquela maneira? O plano inicial estava encerrado. A partir de agora seria da maneira mais difícil. Esse idiota pedia por isso.

-Me chamou de mimada? Rá-Rá. -Dabria começou a andar ao redor de Gabe. Sua voz possuía um tom de desprezo. -Fala sério, você é a última pessoa que deveria me julgar. -Ela parou atrás dele. -Na verdade, Gabe Birkenstock é apenas um garoto problemático que corre para o colo do pai quando está em maus lençóis.

Gabe gargalhou, embora sua risada não tivesse alegria.

-Dabria, não sei como consegui namorá-la durante todo esse tempo. -Ele disse com escárnio, a olhando por cima do ombro. -Você é extremamente superficial.

A raiva se espalhava mais e mais pelo corpo de Dabria. Uma mancha vermelha subia pelo seu rosto e pescoço. Dane-se os bons modos, agora iria pegar pesado. Era algo pessoal.

-Superficial? Hmm, não era isso o que você achava quando transamos. Aliás, eu precisei fingir que estava gostando. -Ela praticamente cuspiu as palavras.

-Eu também não senti absolutamente nada. -Gabe virou-se para encará-la. -Sério, fazer sexo com você é como estar com um robô.

-Não sentiu nada durante os cinco minutinhos? -Ela provocou. Sim, haviam sido bem mais que cinco minutos, mas não custava nada desdenhar da masculinidade de um homem.

-E, você? Fingiu sentir prazer com os milhares de caras que ficou?

Nossa, aquilo foi o ápice da ira. Ele estava a comparando com uma dessas putinhas do colégio? Não iria admitir isso, não mesmo.

-Cale a sua maldita boca! -Dabria gritou. -Seu... seu delinquente.

-Não aguenta ouvir a verdade? -Gabe sibilou.

-Que verdade? -Dabria cerrou os punhos tão fortemente que tinha certeza que a mão estaria sangrando.

-Que você é uma... vagabunda.

Nesse exato momento, sem pensar duas vezes, Dabria esbofetiou o rosto de Gabe. Sua pulsação havia aumentado. Ela sentia uma forte dor nas têmporas.

-Chega! Você passou dos limites! -Dabria grunhiu nervosa.

Gabe a olhava completamente assustado, segurando a bochecha atingida pelo tapa. Nenhuma palavra saía de sua boca.

-Eu realmente lamento que as coisas tenham terminado assim, Gabe. -Falou Dabria, a bolsa tremulava nas suas mãos inquietantes.

Um vento gelado passou entre eles, fazendo o cabelo dela movimentar-se.

-Nunca mais fale comigo. -Gabe assumiu um tom de voz firme. -Para mim, à partir de hoje, você não existe. -Ele disse antes de ir embora em direção ao colégio.

Ariana Grande ainda cantava o refrão de Problem. Dabria ficou ali, parada em meio aos carros estacionados. Vendo Gabe se afastar, a única coisa que ela sentia era aquela velha sensação de "Eu tenho um problema a menos sem você".

Bad GuysOnde histórias criam vida. Descubra agora