Apunhalada.

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"We only said goodbye with words. I died a hundred times. You go back to her, and I go back to, I go back to us."  - Back To Black, Amy Winehouse.

Becca não conseguia acreditar no que estava presenciando. Bem alí, em sua frente, a cena que jamais poderia imaginar estava explícita de maneira clara. Seu namorado, Chuck Thompson, encontrava-se seminu, vestido apenas com uma apertada cueca boxer branca. Ao redor da sala, várias peças do uniforme de lacrosse estavam espalhadas de maneira aleatória, provavelmente como deixara após se despir. Mas, não foi a conotação na bagunça que fez com que Becca sentisse um nó enorme na garganta. Chuck, o cara por quem chegou à trocar confissões amorosas, enroscava-se no pescoço de uma outra garota. Pior ainda, ele nem sequer havia notado que não estavam mais sozinhos. Becca permaneceu em silêncio, deixando as lágrimas escorrerem por suas bochechas enquanto vislumbrava aquele repugnante ato. Chuck continuava a beijar os lábios da garota loira que, por sua vez, arranhava as costas dele.

"Não consigo tolerar isso!", Becca exclamou mentalmente. Era impossível suportar. Suas estruturas se abalavam à cada milésimo.

-Chega! -Ela gritou, seu tom era firme mesmo entre lágrimas.

Rapidamente, Chuck virou-se para olhá-la. Seria impossível não notar seu espanto, a expressão dele era idêntica a quando os dinossauros foram vistos pela primeira vez em Jurassic Park.

-Porra! Há quanto tempo você está aí? -Chuck perguntou, atônito, enquanto tapava a ereção sob a cueca.

-Tempo suficiente para saber que você é um canalha. -Becca apontava o dedo para ele. Cada pedaço do seu corpo parecia queimar. -Como você foi capaz de fazer isso? À troco de que você me traiu?

Ela o encarava como se pudesse destruí-lo com o olhar.

-Você é bastante dramática, não é? -A garota loira falou rispidamente. -Ele simplesmente cansou de você, MCDonell.

Becca fitou, ofegante, a loira vestida numa minissaia e sutiã. Espera aí! Não, não poderia ser verdade! Ela conhecia muito bem quem era aquela garota magérrima. Katherine Bass.

-Chuck, você está me traindo com a Katherine? -Becca perguntou, apesar de seu subconsciente já saber da resposta há "milênios".

-Desculpe-me, eu, hã, iria falar, hã, mas... -Chuck tentou explicar, com a voz trêmula.

Oh, céus! Como ele poderia ser tão dissimulado? A única vontade de Becca, naquele exato momento, era de lhe xingar até não poder mais.

-Eu não quero explicações, não mesmo. -Ela limpou as lágrimas do rosto. -Apenas cale a sua maldita boca, seu... seu... filho da puta!

-Nossa, nunca imaginei que você tinha um palavreado tão baixo. -Katherine deu uma risadinha debochada, algo próximo de ri-ri-ri. -...Ah, lembrei que tudo em você é fora do padrão, então está certo.

Becca fervilhava de raiva. Essa vagabunda ainda tinha a audácia de tirar sarro dela? As coisas que se passavam em sua mente não eram nada legais. O seu desejo menos sádico era que o teto caísse em cima daquela descarada.

-Vá para o inferno, vadia! -Espraguejou ela. -São garotas como você que mancham a reputação do sexo feminino.

-Se controle, amor. -Chuck chegou mais perto dela e pôs as mãos em seus ombros. Bem, agora havia extrapolado todos os limites de idiotice.

-Amor? Nunca mais ouse me chamar por esse nome! -Becca desvencilhou-se dos braços cor de canela dele. -Aliás, sequer se dirija à mim.

-Hum... não sou obrigada a apreciar este teatrinho desprezível, isso me cansa.  -Katherine vestiu o suéter e, com uma mão, pegou os sapatos scarpins. -Encontre-me mais tarde, Chuck. -Falou, e preparou-se para sair.

Antes que a loira conseguisse dar qualquer passo, Becca a segurou fortemente pelo pulso:

-Hã-hã, você não vai à lugar algum. -A ruiva disse, empurrando-a. De onde havia saído tanta força? Nem ela poderia saber. -Agora, me digam há quanto tempo vocês mantêm essa porcaria?

Os outros continuaram em silêncio. Katherine segurava o braço, visivelmente assustada.  Chuck permanecia apalpando a cueca -Qual é, ele nem mesmo estava excitado.

-Me respondam! -Becca gritou, num acesso de raiva. Uma gota de suor começou a escorrer por sua testa.

-É, hã, nós estamos juntos, tipo, só há alguns meses. -Chuck levantou as mãos acima da cabeça (ufa! finalmente as tirou do saco). -Nos conhecemos por acaso, no verão, enquanto você estava no Kansas. Não deu para evitar, foi algo muito mais forte que eu, sabe? Vi a Kat, vestida num biquíni minúsculo, e aí... você consegue imaginar o resto.

Droga! Becca não achava que ouvir isso doeria tanto. Era como se um punhal entrasse em suas costas, devagar e dolorosamente. Seu estômago embrulhou, suas entranhas pareciam estarem sendo amarradas com uma corrente fria e dura. Talvez, essa era a sensação da traição.

-Vocês dois se merecem, são completamente pobres de espírito. -Ela conseguiu falar, tentando drenar o nó que voltava para a sua garganta. Não queria tornar a chorar na frente deles. -Fiquem tranquilos, não irei atrapalhar a vidinha de vocês, tá legal? Não merecem nem mesmo meu anseio por vingança. Seria uma total perca de energia gastar meu tempo com algo tão nojento como os dois.

-Eu realmente não vou permanecer sendo insultada. Irei embora agora mesmo. -Indagou Katherine.

-Não precisa, eu irei me retirar. Não aguento continuar respirando o mesmo ar que vocês. -Becca assoprou. -Mas, antes eu farei uma pequena coisa...

Num piscar de olhos, ela aproximou-se de Chuck e, sem pensar duas vezes, o chutou bem naquele lugar. Ele imediatamente caiu de joelhos, segurando a virilha e gemendo de dor.

-Isto é para você aprender a não quebrar o coração de uma mulher, seu babaca. -Becca sibilou e saiu da sala, batendo a porta atrás de si.

Olhando para as centenas de cadeiras, lá embaixo, no auditório, ela pensava fixamente em deitar-se na sua cama, enrolar-se nas cobertas quentes e chorar. Sim, chorar até não conseguir mais enquanto se afogaria numa tigela de sorvete. Afinal, esse é o direito que qualquer garota traída pode desfrutar.

Bad GuysOnde histórias criam vida. Descubra agora