Tudo começou em uma noite na delegacia. Era fim de expediente, Anita estava em sua sala, atrás de sua mesa, imponente como sempre.
Acabava de revisar alguns papéis e tinha outro monte ao seu lado, já reservado para escrivã no dia seguinte.
As duas eram praticamente as únicas pessoas de seu turno que continuavam ali.
Para a delegada era corriqueiro, para a escrivã era um dia nada comum. Sua vida estava desmoronando e o seu sentimental estava uma bela bagunça. Que a impediu de fazer qualquer coisa com maestria aquele dia.
Anita se direcionou ao banheiro, ignorando Torres no meio do processo.
Quando chegou ao estacionamento e entrou em seu carro minutos depois uma figura chamou sua atenção.Verônica chutava o pneu de seu carro que parecia furado. A mulher chorava enquanto parecia ter um acesso de raiva.
O primeiro instinto da delegada foi o de ignorá-la, passando direto por ela, seus olhares se cruzaram brevemente e pode constatar que Verônica realmente chorava.
- Mas é uma vaca mesmo – A escrivã sussurra não se direcionando muito aquele fato e voltando a chutar o pneu inconformada. É lógico que Anita jamais moveria um dedo para ajudá-la.
Mas surpreendeu-se quando o carro preto deu ré.Anita abaixou o vidro do passageiro antes de se inclinar para dizer:
- Sabia que existe uma coisa chamada step, escrivã?!
O tom de voz sarcástico. O título que sempre usava para tentar inferiorizá-la.
Verônica tentou disfarçar o choro, limpando as lágrimas rapidamente.- Que ideia brilhante. Como não pensei nisso antes? - Desdenhou sem a menor paciência – Eu tô sem essa merda.
Já se preparava para voltar a chutar o pneu quando a voz rouca e direta interrompe seu pequeno surto novamente.
- Entra!
Os olhos negros cintilaram agora em descrença.
- Como assim, entra?
- Eu não vou oferecer de novo – Devolve com a impaciência de sempre.
Depois de rever suas opções por alguns segundos, Verônica acabou por suspirar derrotada, pegando sua bolsa e entrando no carro de Anita.
- Você tá um caco – Comenta quando param em um sinal.
Anita não sabia ao certo porque tinha voltado por Verônica. Talvez por nunca tê-la visto em um estado tão transtornado. Não se importava realmente com nada nem ninguém. Mas também não era um monstro. Sabia manter o mínimo de cordialidade quando queria.
- Como você é gentil – Responde sem encará-la. Tinha os ombros encolhidos, assim como o corpo que era engolido pelo banco.
- O que há com você, hein? Chutando o pneu que nem uma louca. Olha que por muito menos já vi pessoas serem afastadas do cargo.
Silêncio.
Verônica não tinha energia pra aquilo naquele dia. Não depois de todos os recentes acontecimentos em sua vida.
- Vire a esquerda. O caminho pela marginal pinheiros é mais curto. Aliás, você sabe onde fica minha casa?
- Todo mundo na DP sabe onde fica aquela casa.
Diz virando a esquerda como Verônica havia indicado. Sem nenhuma vontade de se estender mais do que o necessário naquele caminho. Já havia se arrependido o suficiente ao perceber que chegaria em casa, pelo menos, um hora mais tarde por conta daquela carona.
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Senses - Veronita
RomantikDizem que entre o ódio e o amor há um fio de conversação. Ambos são intensos e afetam os sentidos, mas quando esse diálogo acontece entre a boca e o coração, tem-se o desejo desenfreado. Verônica e Anita ainda não sabiam, mas colocariam essa teoria...