Trégua

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Era uma típica manhã chuvosa e fria na capital Paulista.

Mais uma segunda-feira de trabalho se iniciava com uma péssima energia.

Carvana estava gritando com Deus e o mundo. Anita batia o salto com tanta força sobre o chão que poderia quebrá-lo e Verônica tentava sair ilesa enquanto tentava lidar com a ressaca.

Mas não conseguiu se manter assim por muito tempo.

O som dos saltos se aproximando fez o coração de Verônica acelerar só pela expectativa do que viria. Mas que porra estava acontecendo consigo?

Era só Anita.

- Na minha sala. Agora.

- Tenho trabalho a fazer – Contrapõe rapidamente. Sua cabeça ainda latejava e estava enjoada. Nem um pouco afim de lidar com a delegada.

Mas foi um erro, pois a Delegada se inclinou, girando a cadeira de Verônica, ficando com o rosto na mesma altura do da escrivã.

- A bebida afetou seu cérebro? Esqueceu quem é que manda aqui? – Silabou.

E novamente estava ali. O frio na barriga de Verônica.

- Tá – Foi a única reação que conseguiu expressar, afastando o seu rosto do da mulher. Não querendo que sua noitada, caísse nos ouvidos de mais ninguém ali.

Ao adentrarem o escritório, Anita começou a fechar todas as persianas.

E o coração de Verônica voltou a acelerar. Já começava a considerar a hipótese de procurar um cardio.

Anita se encostou na mesa e cruzou os braços.

Verônica tinha uma postura nervosa e hesitante, mas firme. Pronta pra devolver qualquer ofensa.

Ofensa essa que não veio.

- O que há com você?

- Hãm?

Pisca algumas vezes tentando processar o que havia sido dito. Mas que tipo de pergunta era aquela?

- O que deu em você Verônica, pirou de vez? Não sabia que era alcoólatra...

Ali estava. A petulância e o cinismo que estava acostumada. Jogando na sua cara o que presenciara no fim de semana.

- Eu não vou falar da minha vida pessoal com você.

- Não é como se eu tivesse qualquer interesse.

- Pra quê me chamou aqui? – Pergunta impaciente. Ficar no mesmo ambiente que Anita sempre tirava sua sanidade.

- Eu concordo em não falar nada pra ninguém sobre seus hábitos noturnos... Se concordar em não dizer nada do que viu. Estamos entendidas?

O silêncio de Verônica foi um condutor da apreensão de Anita que prosseguiu:

- E então?

Verônica abriu um sorriso largo. Não deixaria passar a oportunidade de provocá-la.

- Quem diria... Anita Berlinger com medo de ser tirada do armário. Tudo bem, mas sabe... – Continua rindo – Não há problema algum em gostar de meninas.

- Verônica... Só cala a boca.

Anita se exalta. Vero podia ver a veia em seu pescoço pulsando já que a loira havia dado um passo a frente, ficando mais próxima dela, numa típica tentativa de intimidá-la.

- Eu me preparei a vida toda pra usar esse discurso com algum dos meus filhos, mas enquanto eles são pequenos demais...

Verônica só teve tempo de colocar as mãos a frente do corpo, quando a delega a empurrou contra a parede.

Senses - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora