Namorada

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O carro fizera o caminho já tão conhecido. Anita estava parada frente a casa  da escrivã há vários minutos. Não conseguiria voltar para casa em paz naquele dia sem esclarecer as coisas.

Disca o número temerosa que não fosse respondida, mas no terceiro toque Verônica responde.

- Eu não quero falar com você.

Estava magoada e em sua cabeça voltava a conversa que tivera com Nelson quando o rapaz insinuou que Anita possuía interesses. E Verônica não conseguiu não atribuir isso a segundas intenções após a delegada sugerir que saísse do caso. Anita havia conseguido o que queria e agora iria descartá-la.

- Abre a porta pra mim?

- O quê? - Senta-se sobre a cama - Você tá maluca, as crianças estão em casa e...

- Eu não vou embora sem te ver. Ou você sai ou me deixar entrar - Decreta decidida.

Verônica leva umas das mãos até o peito não tendo tempo para pensar numa desculpa, nem queria. Seu coração estava acelerado e todas os muros que tentou construir montando teorias, que em seu intimo sabia que eram infudadas, haviam caído.

Anita ouve o clique do interfone e encerra a chamada, se direcionando ao portão. A escrivã a esperava na porta. Pés descalços, cabelos desgrenhados, mordia o lábio inferior nervosamente.

A loira não pode deixar de a admirar, observando-a dos pés as cabeça.

Assim que adentra a porta, é guiada para o andar de cima. Arregala os olhos quando Verônica paralisa nas escadas virando-se rapidamente para ela.

- Pisa sem fazer barulho - Diz entredentes.

A delegada a encara com tédio, tirando seu sapatos e subindo com os saltos em mãos.

- Posso me explicar? Ou sou cretina demais para que valha o seu tempo? - Se encosta na porta do quarto de Verônica, fechando-a.

Verônica senta-se na beirada de sua cama, convidando a delegada a fazer o mesmo com batidas no colchão.

- Por que fez aquilo?

- Porque é perigoso e... Eu não quero que se sinta pressionada a continuar...

- O que te faz pensar que eu poderia querer desistir?

- Porque é perigoso - Repete como se aquilo pudesse ser suficiente.

- Agora me diga a verdade!

- Eu me preocupo com você caramba, satisfeita?! Eu me preocupo que se machuque, que fique em perigo, eu penso em você e se está bem, na maior parte do meu dia e não admitiria deixar que nada de ruim possa te acontecer, você entende?! - Completa num só fôlego.

Verônica é atingida por uma onda de emoção, felicidade e alívio. Limpa uma lágrima solitária que faz caminho em sua bochecha e Anita se aproxima envolvendo seu rosto com as mãos numa carícia.

- Eu não quis insinuar nada do que você entendeu. Por Deus, eu só me importo com você, Verônica. Mais do que eu deveria e mais do que me parece saudável. E quanto mais a gente mexe nessa merda toda, mas complicado e perigoso parece ficar.

- Eu também me importo com você e eu não vou te deixar sozinha nessa nem em qualquer outra. Somos parceiras, lembra?

Anita a puxa para um abraço apertado de alívio. Sempre fora uma porta em matéria de sentimentos e de demonstrá-los. Quando se tratava daquele tipo de envolvimento com alguém Anita não queria ser notada para tal, mas com a mulher em seus braços tudo era diferente.

- Estamos bem?

- Não - Diz e observa a outra se afastar com um cenho franzido, quase emburrado - Você ainda não me deu um beijo.

Senses - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora