Abraçando sentimentos

624 53 11
                                    

- Assim como no primeiro caso, o corpo foi deixado no local depois de morto. Sem impressões digitais ou fragmentos do possível autor. Mas aqui está - Aponta pras fotos onde se podia ver de perto símbolos pintados na vítima - Não podemos delimitar a dinâmica do crime, onde aconteceu, mas já conseguimos um padrão.

- Não dá pra dizer que estão relacionados - Um dos investigadores se opõe.

- Também não dá pra garantir que não estão - É Anita quem intervém, trocando um olhar com Verônica. Estava orgulhosa do bom trabalho que a mulher vinha apresentando e não deixaria ninguém dizer o contrário - Diferente do primeiro corpo encontrado, esse foi deixado em uma área residencial e a vítima tem família. Podemos refazer os últimos passos, quem sabe até falar com alguns vizinhos próximos ao local, alguém pode ter visto algo.

- Eu só acho que crimes em série são coisa de filme americano - O investigador devolve incomodado.

A delegada se encosta em uma das mesas ali, cruzando os braços.

- Ainda bem que você não é pago pra achar - Sorri. Sabia exatamente que tipo de comportamento era aquele: despeito. Incapacidade de ver uma mulher em uma posição de comando. Havia passado por aquilo por boa parte de sua carreira.

E novamente, não permitiria que acontecesse com Verônica. Eram isso que chamavam de sororidade?

Verônica estava radiante, não só por conseguir se envolver na investigação de um caso como sempre sonhou e com o aval de seus superiores, mas pelo modo como havia acordado naquele dia, sentindo o perfume doce dos cabelos dourados e a quentura do corpo abraçado ao seu. Sentiu-se em paz.

Não conversaram sobre o ocorrido ao acordar. Anita preparou o café, com sua cafeteira de última geração, requintada e prática e que Verônica nem fazia ideia como funcionava. E lhes serviu com torradas e omelete. Parecia que já haviam vivido aquela cumplicidade muitas vezes antes, dada a naturalidade que o faziam. E a escrivã se apegava um pouco mais a cada detalhe em meio aos pequenos fragmentos que formavam a personalidade da delegada.

Mesmo com certa estranheza ao ignorarem qualquer assunto relacionado ao sequestro relâmpago, era aconchegante estarem na companhia uma da outra. Beirava a ternura. Era isso, depois de caminharem sobre as linhas do ódio que se cruzaram ao desejo latente, haviam cruzado a linha do afeto. E nenhuma delas queria fazer o caminho de volta.

Horas mais tarde estavam ali. Imersas no trabalho.

- Precisamos investigar o perímetro - Anita decreta e depois de mais alguns ajuses e de delimitar o que cada um faria a partir dali, a reunião se findou.

Verônica havia ficado encarregada de sondar a vizinhança, mas apesar de super empolgada, aquela tarefa estava em segundo plano agora em seu pensamento.

Sua mente focava no dia anterior. Nos olhos marejados de Anita em sua direção quando a encontraram. Na estranha situação. No silêncio que dizia muito. Era algo ilícito. Só podia ser. E seguindo essa linha de pensamento, captou como num sinal evanescence de rádio uma frase que tomou um sentido assustador, embrulhando seu estômago.

"É pra dar um susto, não é pra machucar"

Nunca questionou as atitudes do padrinho até aquele momento. Até os rompantes e gritos. Até ouvir o que ouviu e presenciar o que presenciou. Se Carvana havia feito aquilo, Verônica iria descobrir.

E não ficaria por isso mesmo.

(...)

A brisa amena ricocheteava em seu rosto enquanto estava no seu lugar de paz na delegacia. Já que fora dali havia descoberto um novo com bracos fortes e quentes e perfume doce.

Senses - VeronitaOnde histórias criam vida. Descubra agora