𝔞𝔰𝔠𝔬𝔩𝔱𝔞𝔯𝔢

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Ouvir.

Luna Biancchi

Onze anos.

Quatro mil e dezessete dias.

Noventa e seis mil e quatrocentos e vinte seis horas.

Tantos segundos que não sou nem capaz de realizar tal conta.

Tanto tempo sentindo falta da mulher forte que ajudou a me criar, tanto tempo sem minha avó, tanto tempo me culpando por insistir de menos por vovó passar meu aniversário comigo, tanto tempo me culpando por ser compreensiva demais com sua ausência, tanto tempo imaginando uma realidade diferente, tanto tempo imaginando como seria tê-la aqui.

Tanto tempo perdido, tanto sofrimento e tanta raiva da forma trágica que minha avó se foi.

Como sempre nessa data, me obriguei a levantar da cama, o dia já começava triste para mim, e é irônico pensar que logo hoje sonhei com ela, vovó me dava um abraço apertado, seu sorriso era radiante e seus olhos azuis se fechavam a medida em que seu sorriso se alargava em seu rosto.

Ela segurava meu rosto com carinho e me olhava dizendo algo sobre eu estar crescida, em seguida me falava tanta coisa, que eu gostaria verdadeiramente de me lembrar, mas não me lembro.

O dia amanheceu frio, para variar um pouco a cidade que está quase sempre bem quente, caía uma leve chuva do lado de fora, o que não impedia minha vontade de sair de casa.

Essas paredes pareciam querer me esmagar, estava me sentindo sufocada aqui dentro, as lágrimas quentes já caiam por meu rosto sem eu nem me dar conta.

Acho que jamais seria capaz de superar essa dor, essa perda. Talvez, só talvez, quando eu finalmente ver o filho da puta que fez isso atrás das grades.

Mas nada disso traria minha dona Rosa de volta.

E a verdade é que isso dói demais, é uma ferida aberta na alma, incurável, e o tempo não tornava as coisas mais fáceis embora eu quisesse que sim.

Troco de roupa colocando uma roupa mais quente, escovo os dentes rapidamente e a única coisa que faço antes de sair é ligar meu notebook para deixar uma mensagem para minha mãe pelo Facebook, rede social cujo não uso há bastante tempo, mas entro na rede apenas para avisa-lá sobre meu celular e mandar palavras de apoio, afinal, era a mãe dela.

Espero que Roberto esteja com a mamãe para lhe dar todo suporte que não posso dar no momento.

Afinal, eu preciso desse suporte também.

Lembranças enviadas pelo Facebook fazem as lágrimas se intensificarem tornando-as cada vez mais incontroláveis. Fecho rapidamente o computador e saio de casa para fazer o que eu fazia todo ano nesta data desde que vim morar em Los Angeles.

Pego minha bicicleta que fica guardada, já que não costumo usá-la com frequência e desço, agradecendo aos céus pela chuva fraca ter cessado, embora não fosse um problema para mim.

Então começo a pedalar até uma cafeteria que minha avó sempre nos trazia quando vínhamos visitá-la, era um pouco longe do meu apartamento, foram longos minutos pedalando até chegar no local.

Peço apenas um café expresso já que estava sem fome, a bebida quente esquenta meu corpo por completo, trazendo um aconchego e boas memórias. Quando eu era criança eu amava essa cafeteria por conta do bolo de cenoura que só eles sabem fazer, então minha avó sempre me trazia aqui quando eu estava na cidade, sorrio com a memória gostosa voltando a pedalar.

Dessa vez parando em uma floricultura, compro um buquê rosas brancas e finalmente vou para meu destino.

Minha avó morava em um bairro nobre, que eram uns trinta minutos de bicicleta daqui, e para lá segui.

dangerous love | HSOnde histórias criam vida. Descubra agora