O Arcanjo Supremo

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Ser o Arcanjo Supremo era muito mais solitário do que Aziraphale antecipara. Ele pensara que estaria sempre em reuniões com Deus e os outros Arcanjos para decidir coisas importantes. Mas não, Ele passava todo o seu tempo no escritório a rever os arquivos, e de vez em quando o Metatron iria lhe informar sobre o progresso do "Grande Plano" que deus tinha para a terra, já que o Armagedon haveria sido evitado.

Depois da primeira semana Aziraphale reparou que não importava se ele revia os arquivos, ele podia não fazer nada que ninguém reclamaria. Era exatamente como era com o seu trabalho na Terra. Então o Arcanjo passava o tempo a admirar a única lembrança que trouxera consigo da Terra, uma foto.
Essa foto era uma imagem dele com Crowley, tirada em 1941 durante o show de magia de Aziraphale.

Contudo, ele via-se incapaz de fazer algo além de chorar, e não é como se pudesse voltar à terra, ele havia tomado uma decisão irreversível ao se tornar arcanjo, e Crowley provavelmente não o perdoaria.

Metatron entrou no escritório do Azi.

— Aziraphale! — Disse Metatron com uma voz entusiástica, uma coisa anormal da parte dele — Tenho ótimas noticias! —

O Arcanjo Supremo limpou rapidamente as suas lagrimas e esforçou-se para Metatron não reparar que ele havia estado a chorar — Metatron! Quer surpresa! O que o traz aqui? —

— O Grande plano está quase completo! Deus quer ter uma reunião contigo para discutirmos os próximos passos. — Disse Metatron com um sorriso na cara.

—Deus? Deus quer ter uma reunião comigo? — O Anjo recompôs-se — Ah sim! E quando será essa reunião? — Perguntou, curioso sobre o "Plano supremo"

— Quando quiseres é só ires ter com Deus, ele está sempre disponível para falar do Grande plano —

Aziraphale rapidamente se esqueceu da razão de estar a chorar e ficou entusiasmado pois finalmente, depois de todos estes anos a servir o céu, ia conhecer Deus.

*

Crowley conduzia seu Bentley em direção à livraria, enquanto ao fundo tocava "The March of the Black Queen". Chegando á rua da livraria Crowley saiu do Bentley e notou que o céu já não estava mais nublado, pela primeira vez em um mês e meio, o sol era visível pelas ruas de Londres.

O som de sino tocou a anunciar que alguém entrara na loja de livros.

— Boa tarde! Bem vindo á loja A.Z.Fell! — Disse Muriel com a sua voz doce.

— Olá Muriel. Sabes que não precisas de dizer isso sempre que entram na loja. — Afirmou o Demónio enquanto se sentava na poltrona em frente da secretária.

— Mas era o que o Sr.Fell dizia sempre aos clientes! Ou pelo menos era o que dizia no livro... —

— Que livro? — Disse Crowley curioso

— Oh, o livro que estava no quarto lá em cima! Acho que se chamava dierio ou diário. — Disse Muriel ainda com dificuldade em perceber algumas palavras humanas.

— Diário? Mostra-me. —

Muriel retirou um livro volumoso de uma estante, com a inscrição "Diário do Anjo Aziraphale. Volume 603"na capa. Crowley pegou no livro e abriu em uma pagina aleatória. Ao folhear o diário reparou que o mesmo estava cheio de historias e de momentos que os dois haviam passado juntos.

Crowley estava admirado, Para cada história, havia um desenho habilmente executado. "Não fazia ideia que ele sabia desenhar assim" pensou ele. Enquanto continuava a folhear as páginas, chegou a uma especifica. Não era nenhuma historia ou aventura que estava a ser contada, mas sim um pedido, e estava escrito:

"Querido Deus, Questiono-me se Crowley é a minha maçã, se ele representa, como a maçã, a tentação que me assombra. Neste momento de confusão e desejo, eu venho a Ti, em busca de orientação. Peço humildemente um sinal, uma indicação clara do que devo fazer. Será certo o que estou a sentir? O Crowley é um ser tão complexo, mas ao mesmo tempo, há uma luz dentro dele que me intriga. Será que essa luz é apenas uma ilusão, ou há verdade nela?

Ajuda-me a entender isto Senhor, e a encontrar o caminho certo a seguir. Por favor, mostra-me um sinal claro. Se não for, dá-me a força para resistir a esta tentação e seguir o caminho da retidão."

Ao lado desta confissão, estava um desenho de Crowley, era a coisa mais linda que o Demónio já vira nos seus 6000 anos de existência. A dor de perder Aziraphale, que ele havia tentado suprimir, retornou com força total após ler este pedido.

Chuva Ácida (Good omens)Onde histórias criam vida. Descubra agora