A guerra / O café

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Com o tempo, o ressentimento de Lúcifer em relação ao Céu cresceu, tornando-se um sentimento intenso e difícil de ignorar. Ele sabia que a opressão divina precisava de uma resposta mais firme, e a ideia de uma ação se consolidou em sua mente.

Numa noite silenciosa, Lúcifer decidiu discutir seu plano com Crawley. Encontrou-o num canto escuro e frio, onde ambos haviam começado a se acomodar, apesar da natureza sombria do lugar. Lúcifer aproximou-se, sentindo uma leve ansiedade, algo que raramente experimentava.

Crawley estava imerso em pensamentos quando Lúcifer chegou. Sentindo a sua presença ele ergueu os olhos, e um calor inesperado percorreu o seu corpo.

— Crawley, tenho refletido sobre a injustiça que sofremos e o estado atual das coisas — disse Lúcifer. Ao falar, seus dedos tocaram brevemente a mão de Crawley. — Tenho uma ideia que pode mudar a nossa situação.

Crawley olhou para Lúcifer com atenção, o toque subtil ainda presente na sua mente.

— Fala-me, Lúcifer. O que tens em mente? — perguntou Crawley, sentindo uma expectativa crescente.

Lúcifer inclinou-se mais perto, o olhar fixo em Crawley.

— Quero unir todos os anjos caídos e criar uma aliança poderosa. Pretendo iniciar uma guerra contra o Céu, não por vingança, mas para estabelecer uma nova ordem, onde possamos ser livres e a verdade prevaleça — explicou Lúcifer, com uma visão clara do que desejava alcançar.

Crawley hesitou, preocupado, e perguntou:

— E se correr mal?

Lúcifer sentou-se ao lado de Crawley, aproximando-se ainda mais.

— Se correr mal, não podemos piorar a nossa situação. Já estamos no fundo do poço. Não temos nada a perder, apenas a ganhar — respondeu Lúcifer com calma.

Lúcifer apoiou a cabeça no ombro de Crawley, um gesto que fez o coração de Crawley acelerar. Sentindo o peso reconfortante de Lúcifer ao seu lado, Crawley respondeu, tentando manter a voz firme:

— Tens razão. Talvez esta seja uma oportunidade para mudar as coisas. Talvez possamos tornar o Céu um lugar melhor.

                                             *

A guerra acabou em derrota, Lúcifer retornou ao Inferno gravemente ferido, tanto física quanto emocionalmente. Nos dias que se seguiram, Crawley permaneceu ao lado dele, cuidando dos seus ferimentos e oferecendo companhia silenciosa. Durante esse período de recuperação, a presença de Crawley era uma constante, e ele se dedicou a ajudar Lúcifer a recuperar-se, muitas vezes sem dizer uma palavra, respeitando o espaço que Lúcifer parecia precisar.

No início, Lúcifer aceitava a ajuda de Crawley, embora sempre mantivesse uma certa reserva. À medida que suas feridas físicas começavam a cicatrizar, Lúcifer também começou a construir uma barreira emocional ao seu redor. Ele tornou-se mais introspectivo, passando longas horas em silêncio, perdido em pensamentos. Crawley notava a mudança, mas continuava a oferecer seu apoio incondicional, esperando que o tempo pudesse curar as feridas mais profundas.

Conforme Lúcifer recuperava sua força, a sua interação com Crawley começou a diminuir gradualmente. As conversas esporádicas que tinham passaram a ser cada vez mais breves, e Lúcifer começou a se isolar, imerso em seus próprios pensamentos e na administração do Inferno. Ele percebeu que, à medida que Lúcifer se recuperava, ele também se distanciava, mergulhando no silêncio e na introspecção. Crawley tentou muitas vezes voltar a interagir com Lucifer, mas sem sucesso.

Com o tempo, Lúcifer começou a delegar mais responsabilidades a Belzebu, que se tornou o seu braço direito e intermediário. As instruções de Lúcifer eram passadas através de Belzebu, que assumiu o papel de porta-voz. Foi através de Belzebu que Crawley soube da sua nova função como representante do Inferno na Terra.


Chuva Ácida (Good omens)Onde histórias criam vida. Descubra agora