A proposta

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— O que queres, Shax? —  perguntou Crowley, sua voz carregada de desconfiança.

Shax sorriu maliciosamente, os seus dentes brilhando à luz fraca do parque. — Preciso de um pequeno favorzinho— Disse ela, inclinando-se ligeiramente na direção de Crowley.

O demónio arqueou uma sobrancelha, desconfiado. — Depende do que for — respondeu ele, mantendo a sua expressão impassível.

Shax avançou mais um passo, aproximando-se de Crowley com uma expressão sinistra. — Preciso que faças um favor...ao inferno — Disse ela, a sua voz sibilante ecoando pelo ar. — Algo que apenas tu podes fazer. —

Os olhos de Crowley estreitaram-se, desconfiados. Ele sabia que qualquer pedido vindo de Shax poderia significar problemas, especialmente considerando a sua recente promoção para cargo de "Senhora do Inferno" o cargo antes ocupado por Belzebu.

— Não me digas que o Inferno anda a ter dificuldades e precisa da minha ajuda — Respondeu ele, com um riso subtil, como se estivesse a fazer pouco da situação.

Shax soltou uma risada irónica. — Não é bem isso — Admitiu ela. — Mas também não é nada que deva ser ignorado. —

Crowley ergueu uma sobrancelha, aguardando mais explicações.

— A questão é que...bem, o Arcanjo Supremo Aziraphale anda a dar cabo das instalações do inferno — Explicou Shax, com uma careta de desagrado. — Ele anda a destruir tudo por onde passa, e o Inferno está farto disso. Estamos a planear uma pequena... retaliação, digamos assim. —

Crowley franziu o cenho. — E o que é que isso tem a ver comigo? — Perguntou ele, com cautela, mas o tom da sua voz denotava claramente a sua irritação. A simples menção de Aziraphale era suficiente para despertar uma onda de raiva e tristeza dentro dele. Ele não queria ter nada a ver com o anjo que lhe causara tanto sofrimento.

— Queremos usar-te como isco — Disse Shax, com um sorriso malicioso. — E tu, digamos, exatamente o que precisamos para atrair aquele anjinho. —

Crowley ponderou por um momento as palavras de Shax, sentindo a pressão de sua decisão pairando sobre ele como uma nuvem carregada. Trabalhar com o Inferno era um território perigoso e traiçoeiro.

Antes, ele havia jurado a si mesmo que nunca se rebaixaria a colaborar com os demónios novamente, mas agora, com a dor da traição ainda ardendo em seu peito, essa promessa parecia cada vez mais distante.

— Olha, não estou do lado do Céu, mas certamente não estou do lado do Inferno — Argumenta Crowley. — Aziraphale é o Céu agora. Por que é que ele me salvaria? Nem sequer significava o suficiente para ele não me abandonar. —

O demónio respirou fundo após proferir suas palavras, tentando ignorar a amargura que ameaçava engolir seu coração. — Senta-te — disse ele com firmeza, indicando o banco ao seu lado. — Então, conta-me qual é o vosso plano para atrair o príncipe do céu? — A sua voz carregava um tom de ceticismo, mas também uma ponta de interesse, como se estivesse disposto a considerar as palavras de Shax, por mais desagradáveis que fossem.

Shax assentiu, revelando um sorriso satisfeito. — Bom, o plano inicial era simples, se não colaborasses, serias torturado e usaríamos a tua dor para atrair o anjo. Mas, já que estás a cooperar, isso não será necessário. Podemos simplesmente fingir que te capturamos. — Ela soltou uma risada maliciosa. — A informação da tua captura e tortura será enviada para os anjos certos, e certamente chegará ao teu querido anjinho. —

Crowley ficou atordoado. — Bem, tenho algumas ponderações — Começou ele, tentando conter a sua agitação. — Em primeiro lugar, não estou a favor desta ideia de tortura, parece-me excessiva. — Ele sentiu a mão tremer de ansiedade. Não era exatamente medo de ser apanhado ou de enfrentar a tortura real, afinal, Shax e a maioria dos demónios não eram assim tão astutos. O verdadeiro receio de Crowley residia na possibilidade de o Inferno atingir Aziraphale, se este plano absurdo falhasse. — E, mais crucial ainda, Aziraphale não virá em meu socorro. Ele não se importa comigo, e mesmo que se importasse, nunca foi exatamente o cavaleiro heroico. Bem, talvez na Idade Média, mas as coisas mudaram desde então. —

Shax lançou um olhar de desprezo para Crowley. — Se fores convincente o suficiente, obviamente que o teu anjo não te deixaria a sofrer — Disse ela, com um sorriso tortuoso.

Crowley sentiu um nó na garganta ao ouvir aquelas palavras. — Não digas isso — Respondeu ele, com um tom amargo. — Ele não é o 'meu' anjo. Pelo menos, não mais. — As palavras escaparam carregadas de ressentimento e tristeza, uma mistura de emoções que Crowley tentava esconder sob um véu de desdém.

Shax olhou fixamente para Crowley, impaciente, e finalmente lançou a pergunta: — Então? Vais participar no plano ou não? —

Crowley respirou fundo, tentando organizar seus pensamentos em meio ao turbilhão de emoções. — Preciso de um tempo para ponderar — Respondeu, desviando o olhar.

— Agora não é hora para hesitações — Insistiu Shax, com um tom áspero. — O Inferno não espera por ninguém. —

— Eu sei — concordou Crowley, sentindo o peso da urgência da situação.

Shax soltou um suspiro audível, claramente insatisfeita com a resposta de Crowley. "Está bem, podes ter algum tempo para considerar — Cedeu ela, embora relutante. — Mas não demores muito. O tempo está a contar, e o Inferno não é conhecido por ser paciente. —

Crowley assentiu, reconhecendo a pressão implícita nas palavras de Shax. — Entendido — respondeu ele, sabendo que precisava tomar uma decisão rapidamente, antes que as coisas pudessem sair do controle.

Crowley fechou os olhos por um momento, respirando fundo para clarear os pensamentos. Quando os abriu novamente, a figura de Shax já não estava à sua frente. Era típico dela, com sua predileção por entradas e saídas dramáticas. Ele não pôde conter um sorriso irônico, achando
aquilo tudo ridículo e um tanto hilariante. Sacudindo a cabeça, ele não pôde deixar de se questionar como alguém tão exagerado como Shax poderia ser uma das governantes do Inferno.

Chuva Ácida (Good omens)Onde histórias criam vida. Descubra agora