Aziraphale clicou na notificação no seu computador e a imagem do vídeo começou a reproduzir.
A tela revelou uma cena chocante: Crowley estava no centro de um círculo ritualístico no Inferno, com uma expressão de profunda dor. Ele estava preso, os seus movimentos limitados por correntes brilhantes e mágicas que emitiam uma aura sinistra. As lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ele murmurava palavras desesperadas, quase em agonia.
Crowley, com a voz quebrada e carregada de sofrimento, dizia — Aziraphale, por favor... preciso de ajuda. Estão a fazer-me passar por uma dor insuportável. Eu... eu não sei quanto mais consigo aguentar. Por favor, não me deixes aqui. Não... não me abandones assim. —
Aziraphale sentiu um golpe doloroso no peito ao ver o estado de Crowley. A imagem era um testemunho visceral do sofrimento que Crowley estava a suportar. Ele observava, paralisado pela dor e pela incredulidade. O rosto de Aziraphale estava um misto de choque e dor enquanto assistia ao vídeo.
— Não... isto não pode estar a acontecer — murmurou Aziraphale, o coração pesado com a dor de ver Crowley naquela situação. — Como é que ele... como é que o Inferno conseguiu capturá-lo?
A imagem na tela continuava a mostrar Crowley, com o corpo a estremecer de dor e as palavras da sua oração a repetir-se em ciclos, cada vez mais fracas e desesperadas. As correntes que o prendiam brilhavam com uma luz infernal, simbolizando o sofrimento imposto a ele pelos demónios.O coração de Aziraphale estava despedaçado enquanto ele tentava processar o que estava a ver.
— Eu... eu tenho de fazer alguma coisa — disse ele, a voz embargada e tremendo com a angústia. — Não posso deixar que isto continue. Não posso simplesmente ignorar o sofrimento dele. —
Gadiel estava a trabalhar diligentemente em vários documentos quando Aziraphale o chamou, com uma expressão de urgência.
— Gadiel, preciso que prestes atenção — começou Aziraphale, com um tom sério. — Estou prestes a sair para tratar de assuntos muito importantes. Enquanto eu estiver fora, gostaria que tu tomasses conta do trabalho aqui.
Gadiel levantou os olhos do seu trabalho, surpreso pela súbita intervenção de Aziraphale. — Claro, Meu senhor. O que posso fazer para ajudar?
Aziraphale respirou fundo, tentando manter a sua calma apesar da ansiedade que sentia. — Se Metatron perguntar onde estou, diz-lhe que fui ao Inferno para tratar de algumas questões relacionadas com o grande plano. Não entres em mais detalhes — instruiu Aziraphale, olhando diretamente para Gadiel, que acenou com a cabeça em compreensão.
— Entendido — respondeu Gadiel, a sua expressão a tornar-se grave. — Não se preocupe, irei tratar disso.
Aziraphale sorriu agradecido e, antes de sair, lançou um último olhar para o escritório. — Obrigado, Gadiel. Confio em ti para manter tudo em ordem enquanto estiver fora. — disse Aziraphale, com um tom de gratidão genuíno.
*
Crowley levantou-se com dificuldade, o corpo ainda a sofrer pelas consequências dolorosas da oração que fora forçado a realizar. Ele olhou para Shax e Dagon, com uma expressão carregada de cansaço e desconfiança.
— Acham mesmo que Aziraphale vai acreditar nisto? — perguntou Crowley, a voz rouca e carregada de dor. — Que ele venha para aqui só porque eu estou a sofrer? Não me parece que ele vá tomar isso como uma prova convincente.
Shax, cruzou os braços. — Acreditamos que sim, Crowley. Ele pode estar distante, mas o seu coração ainda é vulnerável. A nossa esperança é que ele sinta uma necessidade imperiosa de vir salvar-te, mesmo que isso signifique ir contra a ordem do Céu. —
Dagon, que estava a ajustar alguns itens do ritual, concordou com um aceno de cabeça. — Exato. A dor e o sofrimento são poderosos. Se Aziraphale ainda tiver alguma compaixão ou afeição por ti, não poderá ignorar o apelo. —
Crowley, ainda recuperando-se da intensidade da oração, olhou para o círculo mágico no chão, que era uma parte central do plano.
— E o que é que este círculo vai fazer exatamente? — Perguntou Crowley, tentando disfarçar a dor com uma fachada de curiosidade.
Shax e Dagon trocaram um olhar, claramente satisfeitos por poderem explicar.
— Este círculo — começou Shax, com um tom explicativo — é projetado para manter seres celestiais e outras entidades poderosas em cativeiro. É uma prisão mágica que pode restringir o poder e a liberdade dos que são capturados dentro dela. Se o Aziraphale vier até aqui, será atraído para dentro do círculo e ficará preso. A partir daí, o Inferno poderá tratá-lo conforme necessário.
Dagon acrescentou com um sorriso frio. — O círculo também assegura que a energia do anjo não possa ser usada para escapar ou para contrariar os feitiços que temos preparados. Uma vez dentro, estará completamente à mercê do que temos em mente.
— Muito bem — disse Crowley, tentando manter um tom resoluto. — Espero que tudo corra como planeado. Não estou disposto a repetir esta experiência, e espero que Aziraphale tenha algum sentimento de dever, como vocês esperam. —
Aziraphale apareceu magicamente na sala, com um brilho intenso a envolvê-lo. Ao correr em direção a Crowley, pisou inadvertidamente no círculo mágico desenhado no chão. Imediatamente, correntes luminosas se formaram e o prenderam com firmeza.
Crowley, visivelmente abalado pela dor e exaustão, levantou os olhos para ver Aziraphale. A sua surpresa era evidente. O arcanjo estava diferente do que ele se lembrava; em vez do casaco que usava há séculos, agora vestia roupas cinzentas claras e profissionais. O rosto de Aziraphale mostrava cansaço profundo e o desgaste de uma longa noite de choro. Era um rosto que, antes sempre radiante e otimista, agora revelava uma tristeza e uma fragilidade raramente vistas.
Aziraphale, agora preso dentro do círculo, sentiu-se traído e deixou escapar um grito de dor.
— Crowley... como pudeste fazer isto? — A voz de Aziraphale estava carregada de frustração e tristeza. — Como é que pudeste descer tão baixo? —
Crowley, com a mente em tumulto e a culpa a corroer-lhe, apenas observava Aziraphale, sem conseguir reagir. A cena diante dele era devastadora e o seu coração estava dividido entre o remorso e a impotência.
Shax e Dagon, assistindo à cena, não podiam esconder o seu prazer.
— Excelente trabalho, Crowley — disse Shax, com um sorriso satisfeito. — Está tudo a correr conforme o plano. Parabéns.
Dagon, com um tom de voz igualmente triunfante, acrescentou — Muito bem. Agora vamos ver como o Arcanjo Supremo reage a isto. Este é o nosso trunfo. —
Crowley estava completamente paralisado, o olhar fixo em Aziraphale, que lutava contra as correntes. O silêncio na sala estava carregado de uma tensão palpável, com todos a aguardarem o desenrolar dos acontecimentos.
Aziraphale ajoelhou-se, com o olhar fixo no chão, como se estivesse perdido em pensamentos profundos. Quando finalmente levantou os olhos, eles estavam completamente brancos, sem um vislumbre de cor. Uma aura radiante envolveu-o, e as correntes que o prendiam começaram a se desfazer lentamente, deslizando para longe dos seus braços.
À medida que a aura se intensificava, Aziraphale começou a flutuar, com um movimento etéreo e majestoso. O ambiente ao seu redor parecia estar em completo silêncio, e uma leveza celestial envolvia o arcanjo. Ele girava suavemente no espaço, como se estivesse a pairar acima da realidade terrena.
De repente, com um brilho intenso e um estalo quase imperceptível, Aziraphale desapareceu, deixando apenas uma sensação de vazio e desespero na sala. Crowley, Shax e Dagon ficaram atónitos, os seus olhares fixos no espaço onde o arcanjo estivera momentos antes.
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Chuva Ácida (Good omens)
Historical FictionDepois de Aziraphale ter partido para ser o novo Arcanjo Supremo, Londres nunca foi o mesmo sítio; chovia todos os dias, mas não como antes. Eram chuvas agressivas que causaram inundações em muitos lugares. As chuvas eram intensas, especialmente em...