Decisão

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Crowley cruzou os braços, tentando aparentar uma firmeza que estava longe de sentir.

— Não estou para jogos, Shax — disse ele, com um tom de cansaço que quase mascarava a sua angústia. — Vieste para cobrar uma decisão?

Shax soltou um suspiro impaciente e cruzou os braços, com um olhar que misturava frustração e determinação.

— Já faz tempo desde que discutimos o plano — começou ela, inclinando-se ligeiramente para a frente. — Precisamos da tua resposta: vais participar ou não? O Inferno não tem paciência para indecisões.

A dor e a raiva que Crowley sentia eram como chagas abertas, uma ferida que nunca parecia cicatrizar. Esse sofrimento alimentava o seu ressentimento e tornava a proposta de Shax cada vez mais atraente.

— O vosso plano depende de Aziraphale se importar — começou Crowley, a voz carregada de amargura e frustração. — Não tenho certeza se ele ainda se importa.

Shax esboçou um sorriso tortuoso e aproximou-se um pouco mais, os olhos brilhando com uma malícia calculada.

— Acredito que ele se importa mais do que pensas — sibilou ela, com um tom que beirava o zombeteiro. — E o Inferno sabe como garantir que ele venha até ti, mesmo que isso signifique dar-lhe um empurrãozinho.

Crowley franziu o cenho, absorvendo as palavras de Shax. O Inferno não hesitava em usar qualquer meio necessário para atingir os seus objetivos, e ele sabia que isso podia levar a consequências irreversíveis. Mas a dor de ser ignorado e abandonado como se fosse insignificante estava a consumir-o, tornando a proposta ainda mais tentadora.

— E se ele não vier? — perguntou Crowley, com uma dúvida que ecoava na sua voz. — E se ele simplesmente continuar a viver a sua vida como se eu nunca tivesse existido?

Shax lançou-lhe um olhar frio.

— Não podemos prever com certeza o que ele fará. Mas uma coisa é certa: se usares a dor como isco, provocarás uma reação. Se Aziraphale tem alguma fraqueza, é a sua própria moralidade. Ele nunca conseguirá ignorar alguém que parece estar a sofrer por sua causa.

Shax fez uma pausa, deixando as palavras pairarem no ar antes de continuar, com um tom ainda mais incisivo.

— E se ele não vier? Bem, o que tens a perder? — provocou ela, com um sorriso cruel. — Ele já te deixou antes, não foi? 

Crowley sentiu um aperto no peito com as palavras de Shax.

— Está bem — disse Crowley, com uma voz que misturava resignação e uma determinação amarga. — Aceito. Vou participar no plano.

Shax sorriu com satisfação, o olhar de triunfo estampado no rosto.

— Ótimo — disse Shax, com um tom de voz que não deixava margem para dúvidas. — Prepararemos tudo. A informação sobre a tua captura será espalhada, e Aziraphale será atraído como um inseto para a luz. Não te preocupes, o Inferno vai garantir que ele não possa ignorar o teu sofrimento.

Shax fez uma pausa e, com um olhar calculista, acrescentou:

— No entanto, preciso que estejas no Inferno amanhã. Vamos precisar de tempo para preparar a encenação e garantir que tudo esteja pronto para quando a notícia da tua captura chegar ao Céu. A tua presença será fundamental para dar veracidade ao plano. Não te preocupes com os detalhes; faremos com que tudo pareça real.

— Entendido — respondeu Crowley, com uma voz que tentava manter a firmeza. — Estarei lá.

Shax sorriu com satisfação, o triunfo claramente visível em seu rosto.

Chuva Ácida (Good omens)Onde histórias criam vida. Descubra agora