Revolução Francesa

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França 1793

— Aqueles crepes estavam verdadeiramente deliciosos! — Exclama Aziraphale com um sorriso nos lábios. — E que tal darmos um passeio antes de nos despedirmos deste lugar? —  sugere a Crowley, com um brilho travesso nos olhos.

Crowley concorda com um aceno de cabeça, seguindo Aziraphale pelas ruas. Enquanto caminham, Aziraphale entusiasma-se ao falar sobre a nova livraria que planeja abrir em Londres, mas Crowley não parece muito convencido.

—Tu realmente achas que é uma boa ideia, Anjo? — questiona Crowley, com um ar de incredulidade. —Abrir um a livraria em Londres parece um pouco...antiquado, não achas? —

Aziraphale sorri, ignorando a descrença de Crowley. — Oh, mas livrarias são maravilhosas, Crowley! Tenho certeza de que a minha livraria será um sucesso. —

O demónio revira os olhos, claramente desinteressado. — Se tu dizes. Mas eu, pessoalmente, não vejo o apelo. Nunca fui muito fã de livros, sabes? — A única vez que Crowley leu um livro foi em 1750, e nem passou da segunda pagina. — Prefiro o entretenimento prático do mundo real, Aziraphale. Mas boa sorte com a tua livraria. Tenho certeza de que vai ser...um sucesso. —

Aziraphale olhou para o demónio com um sorriso amigável. — Espero que apareças na festa de inauguração. Ficava muito feliz em ver-te lá - convidou ele, sinceramente. Crowley pareceu considerar o convite por um momento, antes de responder com um aceno de cabeça não muito convincente. - Veremos...Talvez eu dê uma passada por lá, quem sabe? — respondeu ele, com uma expressão indecifrável.

Após uma caminhada tranquila, encontraram-se num campo vasto, salpicado de flores de várias cores e tipos. O aroma doce e fresco das flores pairava no ar, dando ao lugar uma atmosfera pacífica e reconfortante. As cores vibrantes das flores contrastavam com o verde exuberante da relva, criando uma cena deslumbrante aos olhos deles.

Ambos ficaram um momento a apreciar as flores, e Crowley notou algumas rosas brancas. Com um sorriso irônico, ele fez um comentário descontraído. — Olha só, Aziraphale, aquelas flores são tão bonitas. São da mesma cor que o teu cabelo.  — Ele lançou um olhar divertido para Aziraphale, esperando uma reação.

Aziraphale observou as flores com admiração, deixando-se envolver pela beleza das pétalas brancas. — Tens toda a razão, meu querido. — concordou ele, com um sorriso encantado. — São realmente lindas. — O anjo ficou ali, deslumbrado com a delicadeza das flores, perdido por um momento na contemplação da natureza ao seu redor.

Aziraphale abaixou-se com suavidade, cuidadosamente selecionando uma das flores entre os caules. — Acho que vou levar uma destas comigo para Londres — Disse ele, admirando a rosa branca em suas mãos. — Nunca tinha visto umas rosas brancas assim tão vivas e bonitas. —

Crowley sorriu levemente, inclinando a cabeça em resposta. — E como planeias que ela sobreviva até lá? Ela provavelmente vai morrer de falta de água na viagem ou assim. —

Aziraphale ergueu o olhar para Crowley e, com um gesto suave, estalou os dedos junto à flor que segurava. — Resolvido — Anunciou com um sorriso sereno. Um milagre havia sido feito, tornando a flor imortal.

— Bem, deves ter mesmo gostado dessa flor para usares um dos teus milagres — Comentou Crowley, com um tom de curiosidade. — Pensava que os teus superiores odiavam o desperdício de milagres. —

Aziraphale encolheu os ombros com um sorriso leve. — Oh, acho que esta pequena extravagância passará despercebida — respondeu, com um brilho travesso nos olhos. — Afinal, é uma ocasião especial. — Aziraphale sorriu.— Acho que os teus queridos chefes não querem saber muito de 'ocasiões especiais'. — Crowley cruzou os braços, observando Aziraphale com um olhar inquisitivo. Aziraphale apenas sorriu, mantendo o mistério sobre as suas intenções. — Bem, eles vão ter que aguentar esta extravagância — disse ele, com um leve toque de desafio na voz. — Afinal de contas, não é todos os dias que abrimos uma nova livraria —

Crowley respondeu com um ar de surpresa, os olhos levemente arregalados. — Uau, anjo, agora estás a rebelar? — A sua voz carregava um misto de brincadeira e genuína curiosidade. Aziraphale, um tanto ofendido com a insinuação, ergueu uma sobrancelha, os lábios franzidos numa expressão de desagrado. — Rebelar? Não sejas ridículo, Crowley — respondeu ele, com um toque de indignação na voz. — Apenas estou a... fazer uma exceção. — O anjo fez questão de enfatizar a última palavra, como se estivesse justificando a sua decisão.

Crowley pareceu ponderar as palavras de Aziraphale por um momento, a expressão tornando-se mais suave. — Bem, suponho que tens razão — Admitiu ele, com uma ponta de admiração na voz. — Afinal, esperaste tanto tempo para poderes abrir esta livraria. É compreensível que queiras tornar este momento especial.—  Aziraphale assentiu, satisfeito com a compreensão de Crowley. — Exatamente — concordou ele, com um sorriso nos lábios.

Aziraphale e Crowley estavam imersos na conversa sobre as flores quando um murmúrio distante quebrou o silêncio do campo. Crowley franziu o cenho, o olhar seguindo na direção do barulho. — O que está a acontecer ali? —

Aziraphale, preocupado, ergueu as sobrancelhas. — Parece uma agitação invulgar. Vamos averiguar. — Aproximaram-se do tumulto e avistaram uma mulher de semblante pálido e vestes desgastadas era escoltada por guardas, a sua expressão uma mistura de resignação e tristeza. Seus cabelos loiros, outrora luxuosos, estavam desalinhados, e seus olhos azuis transmitiam uma profunda melancolia.

Aziraphale, movido pela compaixão, aproximou-se dela — Poderia dizer-me o seu nome, Madame? — perguntou ele, com tom cortês e amável.

A mulher ergueu os olhos para ele, mostrando um misto de tristeza e resignação em seu olhar. —Sou Maria Antonieta, rainha da França — respondeu ela, sua voz suave e melancólica ecoando no ar.

Aziraphale, com uma expressão de perplexidade, perguntou: — E por que a levam desta forma, Madame? O que aconteceu? —

A mulher olhou para ele com olhos tristes, uma mistura de resignação e tristeza no rosto. — Sou acusada de crimes que não cometi, Monsieur — disse ela, a voz tremendo de emoção. — Estou a ser levada para a minha execução. —

Aziraphale ficou chocado. — Isso é um absurdo! Ninguém merece tal destino. —

Crowley olhou em volta, sentindo a raiva e a agressão no ar. — Os humanos são peritos nisso, não são? Criar problemas por nada. Pelo menos torna o meu trabalho mais fácil. —

Aziraphale virou-se para Maria Antonieta, determinado. — Por favor, permita-me ajudá-la de alguma forma. —

Maria Antonieta sorriu fracamente, tocada pela oferta. — É muito gentil da sua parte, Monsieur. Mas há pouco a fazer agora. —

Aziraphale sentiu um aperto no peito, impotente perante a injustiça dos humanos. — Isso não pode ser justo — Murmurou ele.

Crowley, vendo a reação de Aziraphale, franziu o cenho. — Anjo,  já viste uma injustiça antes, não? Com todo o tempo que passaste aqui na Terra, deves ter presenciado inúmeras atrocidades. —

Aziraphale fitou Crowley com uma expressão grave. — É verdade que vi muitas injustiças ao longo dos séculos, mas isso não significa que me tenha acostumado a elas. — Ele olhou para Maria Antonieta com pesar. — Ela não merece este destino. Ninguém merece.  —

Crowley observou a cena com um olhar sombrio. — É assim que os humanos são. Cruéis e implacáveis, mesmo uns com os outros — disse ele com resignação. — Às vezes, nem preciso de me esforçar para fazer o meu trabalho. Os humanos são peritos em causar dor e sofrimento uns aos outros.  —

Aziraphale lançou um último olhar para Maria Antonieta, um semblante de tristeza refletindo-se em seus olhos. Com um tom melancólico, ele murmurou — Já passamos tempo que chegue aqui. Devíamos voltar para Londres. —

Chuva Ácida (Good omens)Onde histórias criam vida. Descubra agora