Arrepios celestiais

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Aziraphale percorria os corredores resplandecentes do vasto e infinito céu com um sorriso em seu rosto. O Paraiso uma extensão de beleza intocada que se estendia até onde a vista alcançava. No entanto, o céu, na verdade, era apenas um colossal edifício branco, ou algo que para um humano pareceria um edifício. O reino dos céus era uma estrutura etérea que se erguia majestosamente no horizonte. Este celestial edifício não tinha limites visíveis, suas paredes eram janelas que ofereciam vistas para a Terra. Todos os anjos ocupavam seus imensos escritórios, cada um correspondente ao seu tamanho, em meio a essa vastidão celestial.

Aziraphale havia se preparado para esta reunião com Deus á muito tempo, mas nunca pensou que o dia de falar com o Todo Poderoso realmente chegaria.

O Arcanjo finalmente entrou no escritório divino, onde Deus o aguardava. Aziraphale, apreensivo, sentia uma mistura de nervosismo e expectativa. Após todo este tempo, estava prestes a encontrar-se com o seu Criador.

— Olá meu deus — Disse Aziraphale numa vénia — É uma honra finalmente poder falar consigo—

— Saudações Aziraphale, fiquei bastante satisfeito quando descobri que te ias juntar a nós na execução do Grande plano. — Disse Deus 

— Apenas exerci o meu dever como Anjo, meu Senhor. — Respondeu Aziraphale

— Bem Aziraphale, como Arcanjo Supremo estarás encarregado de monitorizar o Grande plano. A papelada vai ser enviada para o teu escritório em breve. — Informou Deus.

— Foi apenas para isso que me chamou? — Perguntou Aziraphale, confuso.

Deus riu — Eu queria apenas dar uma olhadela ao novo Poderoso Arcanjo. —

Aziraphale sorriu nervosamente — Agradeço o elogio Senhor. — Um leve silêncio encheu a sala, e Aziraphale ganhou coragem para fazer uma pergunta que sempre quis fazer. — Meu Deus, permite-me fazer uma questão? —

Deus ficou silencioso por um momento — Ok, mas sê breve, sabes que eu odeio que me questionem. —

— É possível que algum anjo tenha caído por acidente? —

Deus permaneceu em silêncio por um instante, mas uma expressão de desagrado se fez notar em Seu semblante. Os seus olhos divinos lançaram um olhar penetrante, e uma aura de descontentamento pairou no ar.

—Como ousas questionar a integridade do meu plano divino?— disse Deus, a sua voz ressoando com uma gravidade que fez Aziraphale tremer levemente. —A queda de um anjo não é um acidente, mas sim uma escolha consciente de rebelião.—

Aziraphale engoliu seco e com medo das consequências logo disse — Peço perdão senhor. Não era o meu intento ofende-lo.— 

— Que seja a ultima vez que questionas a minha autoridade! — Disse furioso.

Aziraphale olhara para o chão a tentar esconder o seu rosto.

— Vai fazer o teu trabalho. E aproveita e troca essas roupas nojentas que trouxeste da terra — 

— Sim meu senhor — respondeu Aziraphale, curvando-se humildemente diante do Criador.

Ao sair apressadamente do escritório divino, Aziraphale sentiu o peso da ira celestial em seus ombros. Chegando ao seu próprio escritório, convocou seu ajudante, Gadiel, cuja presença muitas vezes trazia um conforto bem-vindo.

— Gadiel! — Chamou o Arcanjo Supremo

— Sim, Meu Senhor? — Perguntou Gadiel 

— Preciso que me tragas os arquivos de todos os Anjos que caíram na guerra da rebelião — Pediu Aziraphale.

— Sim Senhor — Disse Gadiel enquanto saia do escritório.

Aziraphale acomodou-se na secretária, os olhos fixos na foto que trouxera consigo da Terra. Uma onda de culpa inundou-o, eclipsando brevemente o fugaz momento de felicidade que havia experimentado. O arcanjo, mergulhado em pensamentos pesarosos, viu-se subjugado por uma emoção intensa que rompeu as barreiras da sua compostura celestial. Lágrimas, escaparam dos seus olhos, silenciosas testemunhas da dualidade entre as responsabilidades divinas e os sentimentos humanos que pulsavam dentro dele.

                                    *
A chuva bateu de novo em força na janela do Apartamento do demónio. Crowley havia prometido a Nina que deixaria de beber depois do incidente do Pub, mas depois de ler o diário de Aziraphale o demónio não conseguiu evitar.
Crowley estava sentado no chão do corredor de sua casa, ainda ao seu lado os pedaços de vidro do jarro que derrubou e não teve a coragem de limpar, o rosto do demónio encharcado com lágrimas, os seus olhos vermelhos e cansados, estava a deitar para fora o que evitou mostrar desde que Aziraphale partiu. Após algumas horas a chorar o demónio adormeceu.

                                   *

Crowley abriu os seus olhos e estava sentado no pub.

— Uh? Aqui de novo? — Disse para si mesmo.

Chuva Ácida (Good omens)Onde histórias criam vida. Descubra agora