Prólogo

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Ela bebericou sua bebida com desinteresse. As luzes coloridas pareciam entorpecer sua visão e confundir seus sentidos. Era uma noite fria de inverno; no entanto, ali, naquele espaço agitado, seu corpo parecia em chamas. Louise observou ao redor. Todos pareciam se divertir. Ela própria queria se divertir, mas não estava conseguindo. Ela abaixou seus olhos para o copo em sua mão. Estava sozinha. Sua amiga Helene estava viajando, seus pais estavam em outra cidade, e ela havia se tornado uma fugitiva. Mudou de cidade, de endereço, contratou seguranças, mas nada adiantou. As ameaças só pioraram. Louise levantou o olhar quando alguém esbarrou nela, talvez um bêbado ou uma mulher; ela não reparou. No entanto, seu corpo reagiu automaticamente com um salto chamativo e um movimento defensivo. Aquilo já estava se tornando um hábito. Ela sentiu seu rosto queimar quando um grupo de mulheres completamente chocadas com seu movimento começaram a cochichar repetidamente. Com pressa, virou o líquido forte todo em sua boca e se apressou a sair daquele lugar cheio de pessoas felizes. Louise estava em risco. Três semanas se passaram desde que chegara ali, mas ela não se sentia segura. Tinha se formado em medicina e havia feito planos que não se concretizaram e nem se concretizariam caso ela não sobrevivesse.

Louise saiu da boate apressadamente. Ela se misturou às poucas pessoas na rua e virou em uma esquina debaixo de uma placa azulada. Era tarde, e no céu a lua estava plena, iluminando a calçada daquela rua estreita. Ela levantou o olhar, deixando seus longos cílios serem tocados pela luz opaca da lua. Algo estava errado: o ar gélido, o chão sob os seus pés. Ela odiava aquela sensação. Não deveria ter saído de casa, ela sabia, mas ela nunca foi boa em seguir regras. Ela relaxou os ombros por um momento antes de seguir seu caminho, mas se deteve quando um carro azulado nada discreto parou ao final da rua à sua frente, e seu vidro escuro desceu com um movimento lento. Louise piscou, parecendo languida, e seus olhos grandes e curiosos se voltaram para uma figura masculina recém-descoberta.

- Hora, hora! - Exclamou o homem após seu perfil ficar totalmente à mostra dentro do carro. - Não deveria estar andando por aqui sozinha, Louise!

Aquela voz chegou até ela com um arrepio. Em sua mente, ela buscava imagens ou lembranças daquele sujeito, mas tudo parecia uma verdadeira bagunça dentro da sua cabeça. Ela o conhecia. Sabia disso. Mas não conseguia se lembrar. De dentro do carro, ele sorriu largamente. Louise estremeceu.

- Louise querida! Posso ver sua mente trabalhando. Não tente tanto. Você me ofende ao ter esquecido de mim, já que sou um homem que se esforça para ser inesquecível.

Ela fez uma careta; aquele jeito de falar era, sem dúvida alguma, conhecido. Mas por que ela não se lembrava? Deveria estar com medo. Estava sozinha em uma rua estreita no meio de uma noite de inverno, mas, ao invés disso, seus pés se movimentaram, não para longe, mas na direção do carro.

- Pelo visto, estamos em um impasse. Pois eu realmente não me lembro de você, então você não foi assim tão inesquecível.

O sujeito pareceu emitir algum som em sua garganta. Louise não soube dizer, pois quando sua mente conseguiu processar o rosto, as feições e a voz daquele homem, seu corpo reagiu, e ela parou. Ela o conhecia. Ela o conhecia desde sua infância; ela o conhecia desde que nascera, mesmo preferindo não conhecer.

Uma noite de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora