Capítulo 1

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Já era muito tarde e ele estava impaciente. Não havia como descrever aquele momento. Faziam mais de oito anos, afinal. Maxwell não tinha boas lembranças; ela era uma verdadeira diabinha, respondona, encrenqueira e desobediente. No entanto, ali estava ele. Era um homem formidável, tinha poder, era rico como um rei e sempre conseguia o que queria. Tinha aprendido que a vida não era brincadeira e tinha uma boa vida, mas não era um exemplo de bondade. Ele a observou com um longo suspiro. Aquela maldita garota! Ela se aproximou de seu carro como se estivesse em um desfile. Estava frio; de dentro do carro, ele podia sentir o ar tocar sua pele. Louise não deveria estar ali. Ele também não deveria estar ali. Ele ajeitou os ombros quando ela parou próxima à janela de seu carro; ela continuava com aquele olhar inquisidor, com aqueles olhos que pareciam julgar sua alma. Maxwell nunca gostou dela; desde a infância, Louise sempre atraiu confusão. Se metia em brigas, em discussões acaloradas; era intensa demais e chegou até a quebrar um braço durante uma briga na escola. Ele foi o primeiro a saber, pois estava lá. Era quase oito anos mais velho, então deveria exercer alguma autoridade, mas na prática isso nunca funcionava.

- Realmente, eu não sei quem é você! - Exclamou ela com um tom de tristeza e algo mais.

Ele murmurou um palavrão e então abriu a porta do carro subitamente, sem delicadeza, forçando-a a recuar dois passos. Quando saiu do carro e se ergueu, ele percebeu como as mudanças a afetaram. Estava mais magra; ela sempre fora mais baixa que ele, mas agora ele parecia um tanque de guerra, e ela, uma pálida e fina boneca de porcelana.

Ela pareceu notar o modo como ele a observava, pois fez uma careta zombeteira.

- Não deveria estar aqui sozinha nesta droga de rua escura, Louise. Com mil infernos, você só faz o que não deve. - Zangou-se ele sem entender o porquê.

Ela deixou escapar um som de sua garganta e então se curvou levemente como se estivesse sentindo dor. A maldita garota estava rindo? Ele afrouxou o nó de sua gravata e então se aproximou como um predador sem mesmo se dar conta disso. Ela recuou um passo, depois outro, mas ele a deteve quando sua mão grande tomou seu cotovelo fino, trazendo-a mais para perto.

- Pare de se fazer de louca, Louise! Ela suspirou e revirou os olhos. Ele lutou contra a vontade de sacudi-la. Ele não deveria estar ali, não queria rever aquela mulher, não queria contato com seu passado. No entanto, ela era tudo que ele nunca pôde ser.

- Francamente, Max, achei que depois de velho você se tornaria mais interessante! - Comentou ela sem se abalar.

- Ah! Você agora se lembrou de mim? - Rosnou ele. Ela sorriu. - Sim, você é o único homem bonito que consegue perder minha admiração toda vez que abre a boca; é assim desde criança. Ele a encarou por um instante. Max se lembrava disso, das provocações, daquele sorriso desafiador; ele sempre quis desafiá-la até o limite, mas seus pais o matariam. Ela sempre fora seu bibelô favorito; eles a adoravam e a amavam como uma filha. Ele jamais pôde comprar nenhuma das brigas que começavam. Mas ali, diante dela, depois de anos, ele sentia uma grande e repentina vontade de mostrar toda a rebeldia que existia dentro dele. Afinal, ele não precisava mais manter sua imagem de bondade e perfeição, pois ela não era dócil, muito menos controlada.

Uma noite de InvernoOnde histórias criam vida. Descubra agora