O dia passou calmo, o sol esteve morno e o clima estava agradável. Apesar disso, Louise sentia-se estranhamente desanimada. Ela já estava sentindo sua visão ficar embaçada quando resolveu se levantar da cadeira onde esteve sentada por horas estudando o caso da EclatCare. Não deveria voltar a pesquisar aqueles incidentes, mas a visita de Livia à casa de Maxwell acendeu uma curiosidade e um instinto investigativo antes esquecido.
Eram apenas boatos a princípio, boatos que surgiram na mídia e que renderam denúncias anônimas, testes feitos em animais e em cobaias humanas que adoeceram gradativamente. Louise esteve nos locais, coletou materiais e evidências, material genético e fotos; ela era minuciosa e possuía um espírito livre que a fazia se destacar. Mas isso não fora o suficiente. Ela estava fazendo um trabalho voluntário mensal em uma região carente quando um homem apareceu com uma bala alojada em sua perna direita. Samuel era um homem grande, mas visivelmente sofrido e estranho; ele tinha escoriações pelo corpo e marcas de queimaduras, além de várias manchas sobre a pele. Ele foi tratado e, então, dias depois, uma denúncia formal surgiu. Ele alegou ter provas contra Livia e Hector, provas que incriminariam os dois e que davam veracidade aos boatos. Louise era a responsável pelo caso e, como tal, agiu como uma verdadeira profissional. Ela examinou detalhadamente cada evidência, cada prova e cada foto que possuía até uma tarde chuvosa, três dias antes de uma audiência para apresentação de provas e alegações.
Ela foi visitar Samuel em um apartamento pequeno onde ele estava hospedado, mas quando chegou ao local, tudo estava revirado e ele estava agonizando no chão, sangrando diante de uma perfuração no peito. Louise tentou salvar o pobre homem, mas nada do que fez surtiu efeito. Ele arregalou os olhos, suspirou e a vida deixou seu corpo. Ela foi a única a presenciar a cena do crime. Semanas depois, Louise já possuía vídeos de câmeras de segurança, uma impressão digital deixada no local e o nome de um funcionário que ligava a EclatCare ao assassinato de Samuel.
Ela já tinha testemunhado, juntado provas e apresentado conclusões para aquele caso, que passou a rondar sua vida. No entanto, ela se colocou em perigo. Louise foi seguida, passou a receber ameaças, foi agredida durante um assalto e sofreu um atentado onde viu outro homem morrer diante dela. E nada mudou. Livia e Hector seguiram com o processo, mas seus advogados amenizaram a situação e na mídia tudo não passou de novos boatos infundados. Exceto que, Louise foi posta de lado, afastada do caso e do trabalho, e teve que mudar de cidade para se proteger.
Ela esfregou os olhos, cansada. Algo estava completamente errado, e ela podia sentir isso, mas para descobrir o que era, precisaria se arriscar. Louise bufou, sentindo-se perdida e completamente sozinha naquela casa enorme. Max havia desaparecido durante todo o dia, sem ligação, sem notícias, sem qualquer vestígio. Quando percebeu, a noite já estava chegando, escura e fria, e ela estava inexplicavelmente preocupada.
Nunca fora sua intenção se preocupar com aquele homem irritante. Ela não deveria verificar o celular a cada cinco minutos ou observar a porta; no entanto, ela não conseguia se controlar. Algo havia mudado. Maxwell estava diferente e tinha agido de forma estranha. Ele não deveria mexer com seus pensamentos ou seus instintos, não deveria provocar nela nenhuma reação sentimental; afinal, ela nunca gostou dele. No entanto, Louise sentia uma incômoda sensação. Ela observou o relógio várias vezes, caminhou pela casa, tentou ouvir música, mas nada adiantou. Quando a noite já estava alta, ela tentou ligar para ele, sem sucesso. Seu telefone deu caixa postal, e ele não respondeu a nenhuma de suas mensagens. Louise esfregou a cabeça com as mãos; estava enlouquecendo. Não poderia estar agindo assim por causa de Maxwell, seu antigo vizinho. Não poderia estar com o coração apertado por causa de um homem que ela reencontrou depois de anos; no entanto, sua preocupação estava chegando a um ápice preocupante.
Quando o relógio marcou meia-noite, Louise estava em pânico. Em sua mente traumatizada, Maxwell estava sangrando, como Samuel ou seu segurança, e ela não estava por perto para salvá-lo. Em completa angústia, ela levou aos lábios um copo com água, tentando acalmar seus nervos, mas o copo escorregou de sua mão com um baque, espalhando pedaços de vidro pelo chão da cozinha. Ela sentiu o próprio coração saltar; seus olhos lacrimejaram, e ela inspirou, tentando não ceder à repentina vontade de chorar. Aquela não era a vida que ela esperava ter. Ela observou os vários cacos de vidro no chão sem qualquer noção de tempo, até a porta da frente se abrir, e Max surgir esbaforido. Ele a observou com cuidado.
- O que está fazendo, Louise? - Perguntou ele, se aproximando.
Louise sentiu que não conseguiria segurar mais; segundos depois, lágrimas tomaram seu rosto, e tudo que ela deveria guardar para si, ela libertou como uma onda furiosa que fora presa durante muito tempo.
- Eu achei que algo tinha acontecido! – Revelou ela, em meio aos soluços. – Por que não me atendeu? Por que não me respondeu? Sabe como eu estava preocupada?
- Louise! – Max tentou se aproximar, mas ela deu a volta desviando dele, nervosa.
- Eu pensei que algo tivesse acontecido; eu pensei que você estivesse morrendo... Eu não ia poder te salvar; eu não iria conseguir te salvar. Eu...
Louise ergueu os olhos para Max no momento em que ele chegou até ela e a tocou com carinho.
- Nada aconteceu comigo, Louise! Acalme-se! – Pediu ele, segurando-a pelos ombros. – Eu estou aqui, estou bem! Apenas se acalme.
- Não deveria ficar perto de mim! – Avisou ela, com um suspiro choroso. – Max, eu não quero que se machuque! Eu não posso ver você se machucar!
E então ela fez a coisa mais absurda e impensada. Ela o abraçou, sentindo-o enrijecer. Ela o abraçou como se ele fosse algo muito especial. Ela o abraçou como se pudesse aliviar seus medos apenas sentindo-o junto a si. E fora exatamente o que aconteceu quando os braços dele chegaram até ela aconchegando-a.
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Uma noite de Inverno
ChickLit(Todos os Direitos Reservados e Resguardados. Plágio é crime punível por lei.) Maxwell sempre teve tudo o que quis. Ele foi uma criança prodígio e um adolescente modelo. Rico, bonito e desinibido, ele se tornou um homem implacável que nunca era desa...