Uma noite de Inverno

Capítulo 13

-Você é o sujeito mais rude e idiota que já conheci!"– Exclamou Cristian adentrando na saleta e fechando a porta atrás de si mesmo. – Agora entendi por que ela estava tão zangada!

-Ah! Claro! Porque além de invadir minha casa, você gosta de espionar mulheres!

Cristian mostrou seu melhor sorriso.

-Você estava nos espiando? – Perguntou. – E está com ciúmes?

Max quase saltou de trás de sua mesinha. Aquilo era um absurdo. Ele não pretendia invadir a privacidade dela, mas estava com a mente fervilhando e vê-la caminhar ao redor da casa estava sendo uma boa distração. Ele não pretendia ver seu melhor amigo parar abismado ao vê-la. Louise era uma mulher bonita, não tinha um corpo escultural e esbelto, pois sempre fora magra e pálida como a neve, seus cabelos escuros agora estavam cortados sobre seus ombros e seus olhos azuis eram de uma tonalidade comum, seu rosto era bem desenhado e seus lábios tinham um formato perfeito de coração. Mas ela não era exatamente uma beldade. Mesmo assim, Cristian a observou como se ela fosse uma musa em uma pintura e aquilo o deixou nervoso.

-Se veio até aqui dizer bobagens, sugiro que vá embora. Temos muitos problemas para resolver! – Disse insatisfeito, mudando o assunto.

-Então, você já sabe? Imaginei que eu pudesse consolá-lo, mas pelo visto não há o que fazer!

Max queria esmurrar alguém. Tudo ocorreu de forma não planejada. Ele quase debruçou-se sobre a sua mesa. Tinha tantos problemas para resolver que se sentia esgotado. E a presença do amigo ali era um aviso de que ele estava se perdendo.

-Max! – Chamou ele. – Quando a notícia sair, seu nome vai ser vinculado à EclatCare não como prestador de serviço, mas como investidor e sócio." – Ele fez uma pausa, parecendo preocupado. – Depois disso, toda aquela sujeira, você vai estar envolvido e eu não vou poder te ajudar.

Max inspirou o ar, sentindo seus pulmões se inflarem. Era isso. Não podia mais voltar atrás. Dois meses antes, Maxwell James Carter era um homem limpo e um profissional de respeito. Ele geria uma empresa de tecnologia que produzia aplicativos e softwares digitais. Era uma figura pública que parecia ter vencido na vida. Mas tudo mudou depois que ele descobriu que a empresa da família prestava serviço para a EclatCare. As descobertas começaram como um tormento. Seu pai, um programador talentoso, trabalhava para o casal de fundadores da EclatCare, mas seu emprego era muito mais do que cuidar dos sistemas do prédio comercial. Ele cuidava dos segredos da empresa.

Os escândalos eram reais. Cada um deles. A empresa possuía químicos treinados que formulavam testes em animais e em pessoas, cujas vidas eram arruinadas. A promessa de um bom pagamento se perdeu durante o teste de um novo produto; várias pessoas, ludibriadas pelas promessas que eram contadas, ficaram doentes. Mas apenas uma seguiu até o fim com as denúncias. Um homem corajoso o suficiente para enfrentar pessoas cujo status era muito superior. Maxwell era um homem limpo e honesto. Até ser ameaçado.

Ele estava sentado em uma das salas do prédio em uma linda tarde de sol quando seu pai fora posto à sua frente. O casal Livia e Hector estava de pé como dois generais. Naquele ponto, Max já sabia que seu pai estava ajudando criminosos; ele já estava à frente da empresa e pretendia quebrar o contrato com Livia e Hector. Mas ao invés disso, ele os ajudou.

-Acho que você não explicou a seu filho o porquê de ele estar aqui. – Disse Hector. – Não contou a ele que sua empresa tecnológica só existe graças ao dinheiro que nós investimos nela, ou melhor, em você!

-Meu filho não tem nada a ver com isso, deixe-o fora. Eu já quitei minha dívida. – Dissera seu pai.

-Ele não ficará fora, não é Maxwell? – Perguntou Livia. - Afinal, ele já bisbilhotou quase todos os nossos departamentos! – Comentou.

-Vocês estão loucos se acham que vou participar de algo! – Havia dito Max com ferocidade. – Eu pretendo dar fim ao contrato de serviço entre nós. Minha empresa não vai prestar nenhum serviço para vocês!

-Max querido, você não tem opção, ou fica conosco, ou então algo ruim pode acontecer ao seu pai. – Ameaçou Hector. – Como é mesmo o nome daquela mulher? Onde está a foto dela? – Perguntou e a esposa Livia se moveu para pegar seu aparelho celular.

Livia deslizou o celular pela mesa até o aparelho chegar nas mãos de Max. Havia uma foto de uma mulher e uma notícia sobre o assassinato de um homem. A única testemunha que poderia incriminar a EclatCare perante a justiça. Max não conhecera Louise, ele nem reparou nela; tudo que ele viu foi a notícia e depois o sorriso de Livia.

-Seu pai vai continuar conosco, querido, e você também! Ou um dos dois vai aparecer no jornal ao lado dessa perita criminal que, por sinal, é uma conhecida, não?

Aquilo era um jogo. E ele estava caindo. Seu pai arregalou os olhos e então balançou a cabeça freneticamente, mas Max estava enraivecido demais e com medo deu aos inimigos o que eles queriam. Ao prestar atenção na foto, um nome lhe veio e ele falou alto demais.

-Louise!

E assim, Livia e Hector identificaram Louise. Semanas depois, ela foi agredida em uma tentativa de assalto, e então tentaram matá-la, mas foi seu segurança quem morreu, na frente dela.

Max sentia-se culpado. Mas não queria se envolver com sua antiga vizinha. Até que os pais de Louise foram até a sua casa e pediram ajuda aos responsáveis pelo atentado à filha deles. Sua mãe, sem saber de nada, estava tendo crises nervosas, e seu pai ficara dias sem dormir; então Louise mudou de cidade e foi afastada do trabalho e do caso. Max prometeu ao pai que a ajudaria. E prometeu à mãe dela que a protegeria, mesmo sem saber como fazer isso.

-Max...? Maxwell? – Chamou Cristian, fazendo-o sair de seus pensamentos. – Eu posso pedir para que pare com isso? No fundo, você sabe que não vai conseguir se vingar, muito menos fazer com que eles sejam julgados!

-Se eu conseguir uma prova circunstancial, posso fazer com que eles paguem. Mas antes, preciso que meu pai esteja em segurança. – Afirmou. – Não entende o que está em jogo? A vida dos meus pais, talvez até dos pais de Louise! Eu vou me infiltrar, achar provas e proteger minha família. – Anunciou.

-E Louise? Até quando vai esconder isso dela?

-É melhor que ela fique longe disso! Quanto menos souber, melhor!

Cristian fez uma careta, deixando claro que não concordava com aquilo.

-Tenho a impressão de que você não conhece a mulher que colocou debaixo de seu teto, amigo.

Max encarou o com pesar. Havia prometido ajudá-la. Ninguém tentaria nada enquanto ela estivesse com ele, mas a verdade era que ele não poderia garantir a segurança de ninguém, pois ele estava nas mãos de duas pessoas que não hesitariam em eliminá-los.