Capítulo três

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Eu não gostava de sentir medo ― quem diabos gosta, além de pessoas que amam filmes de terror? ―, mas a verdade era que não havia muito que surtisse esse efeito em mim. Aranhas, baratas voadoras, ratos, escuridão, palhaços, altura, carboidratos, ganhar peso, morte... nada disso me assustava. Eu poderia matar aranhas, baratas e ratos. Eu poderia acender uma luz no escuro. A menos que fosse um palhaço muito grande, havia chances de eu poder chutá-lo. Eu era forte para o meu tamanho e tinha feito algumas aulas de autodefesa com minha irmã ao longo dos anos. Não tinha problema algum com altura.

Os carboidratos eram ótimos e, se eu ganhasse peso, sabia como perdê-lo. E todos nós iríamos morrer algum dia. Nada disso me perturbava. Nem um pouco.

As coisas que me mantinham acordada à noite não eram físicas.

Preocupar-me em ser um fracasso e uma decepção não eram coisas que se podia consertar. Eles estavam lá. O tempo todo. E se havia uma maneira de trabalhar neles, eu ainda não havia aprendido.

Provavelmente, eu poderia contar em uma das mãos o número de vezes que me assustei na vida, e cada uma dessas vezes girava em torno da patinação artística. Uma foi a terceira vez que tive uma concussão. Meu médico na época disse à minha mãe que ela deveria considerar me fazer desistir da patinação artística ― e eu realmente pensei, por um tempo, que ela me forçaria a isso. Eu me lembrava das duas concussões que se seguiram a essa, com medo de que ela caísse na real e achasse que eu não poderia correr o risco de todas as consequências de um trauma cerebral continuado. Ela não fez isso.

E nas outras vezes em que minha boca ficava seca e meu estômago se contorcia e agitava... eu não dava tanta atenção a esses momentos, não mais do que o necessário.

Mas era isso. Meu pai achava engraçado dizer que eu só tinha duas emoções: indiferença e irritação. Não era verdade, mas ele não me conhecia o suficiente para saber disso.

Mas, enquanto eu ficava ali imaginando se estava sonhando com o momento, usando drogas, ou se era real ― e começando a nutrir a ideia de que era, que eu não tinha usado nenhuma droga alucinógena ―, fiquei um pouco assustada. Eu não queria perguntar se era real...porque e se não fosse? E se fosse algum tipo de piada?

Eu odiava me sentir tão insegura.

Eu odiava sentir medo de que a resposta que eu estava procurando fosse uma pela qual eu provavelmente teria vendido a minha alma.

Mas minha mãe me disse uma vez que arrependimento era pior do que medo. Eu não tinha entendido até então, mas entendi naquele momento.

Foi com esse pensamento que fiz a pergunta que uma grande parte de mim não queria fazer, apenas no caso de a resposta não ser a que eu queria ouvir.

— Parceira para quê? — perguntei lentamente para ter certeza, tentando torturar meu cérebro com por que diabos eu deveria fazer parceria com ela naquele pesadelo que estava tendo, que parecia tão real.

A alfa que eu assisti amadurecer a uma distância às vezes muito curta revirou aqueles olhos verdes. E, como em todas as outras vezes em que fizera a mesma coisa, estreitei os meus em troca.

— Para patinar — ela respondeu um dãã, como se estivesse pedindo um tapa. — O que você acha que era? Uma quadrilha?

— Lori! — a treinadora Brooke sibilou e, pelo canto do olho, jurei que a tinha visto bater com a palma da mão na testa.

Mas eu não tinha certeza porque estava muito ocupada olhando para a espertinha sentada e dizendo a mim mesma: Não faça isso, Camila. Seja superior. Cale a boca… Mas então uma voz menor que eu conhecia muito bem sussurrou:

De Jauregui, Com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora