Capítulo quatro

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Não fiquei surpresa por ter dormido mal pra caralho naquela noite.

Eu poderia culpar o café que tomei depois do jantar ― normalmente não tomava cafeína à tarde ou à noite porque arruinava minhas noites de sono, e eu precisava de toda a energia que tinha para passar o resto do dia ―, mas não fora culpa do café.

Fora da minha mãe. E da treinadora Brooke. Mas principalmente da minha mãe.

Mas isso era o que acontecia quando ela jogava uma bomba em mim; eu deveria ter previsto, mas não previ. Desde quando eu era capaz de prever algo em relação ela, e por que eu esperava ser capaz de fazer isso naquele momento?

Foi quando ela veio se sentar ao meu lado no sofá depois que meu irmão e seu marido foram embora, passando o braço por cima do meu ombro, que eu soube, sem dúvida, que não podia esconder nada dela.

Éramos muito afetuosos na minha família... se você pudesse chamar assim machucar um ao outro, puxar a roupa íntima e fazer piadas, mas não éramos do tipo que constantemente abraçávamos e beijávamos, a menos que alguém precisasse. Da última vez que abracei aleatoriamente meu irmão mais velho, ele perguntou se eu estava indo para a prisão ou morrendo.

Então, naquela noite, quando mamãe me abraçou no sofá e apertou meu joelho, aceitei que cometi o mesmo erro que a maioria das pessoas cometia com ela: eu a subestimei. Meus irmãos me conheciam muito bem, seus companheiros também ― eu não era tão complicada ―, mas ninguém me conhecia como minha mãe. Minha irmã Ruby chegava perto, mas ainda não estava no nível dela. Eu duvidava que alguém estivesse.

— Diga-me o que há de errado, Zangada — disse ela, chamando-me pelo apelido que me deu quando eu tinha quatro anos. — Você ficou tão quieta hoje à noite.

— Mãe, eu conversei metade do jantar — rebati, com os olhos focados no programa Mistérios sem Solução, que voltara a passar na televisão, e balancei a cabeça, não confiando em mim mesma para olhá-la nos olhos e manter meu dilema em segredo.

Ela descansou a cabeça contra a minha depois de colocar uma taça de vinho tinto de tamanho normal na mesa de café, quase caindo em cima de mim, como se estivesse esperando que eu a segurasse.

— Sim, com seu irmão e James. Você mal disse três palavras para mim; nem me contou como foi sua reunião. Você acha que eu não sei quando algo está acontecendo com você? — ela acusou, parecendo insultada.

E foi onde ela me pegou. Mamãe apertou meu ombro novamente.

— Só porque eu não disse nada na frente de Jojo e James não significa que não percebi. — Ela me deu mais um aperto antes de sussurrar, me fazendo arrepiar: — Eu sei de tudo.

Isso finalmente me fez bufar e olhar para ela pelo canto do olho. Eu juro, ela não tinha envelhecido um dia sequer nos últimos quinze anos.

Era como se o tempo tivesse parado para ela. Preservando-a. Isso, ou ela havia encontrado um gênio da lâmpada há muito tempo, que a tornara imortal ou algo muito próximo disso.

Estiquei as pernas para descansar os calcanhares na mesa de café e torci o nariz, ainda olhando para longe dela enquanto murmurava:

— Ok, Mãe Diná...

Ela se aconchegou mais perto, da mesma maneira que sempre fazia quando estava sofrendo, e eu me inclinei um pouco para mexer com ela.

— Diga-me o que há de errado com você — ela insistiu diretamente no meu ouvido, sua voz enganosamente suave; e falsa pra caralho.

Sua respiração, que cheirava a vinho, flutuou até meu nariz. — Vou te dar um bombom de cereja com cobertura de chocolate ao leite do estoque do meu dia dos namorados...

De Jauregui, Com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora