Eu esqueci o quanto doía cair.
- Você está bem? - a voz da treinadora Brooke surgiu de... algum lugar.
Eu estava de olhos fechados, ainda deitada, agradecida pelo fato de alguém ter decidido, em algum momento da história, que o mundo precisava de tapetes acolchoados. Porque, se não fosse por eles, mesmo que tivessem apenas 2,5 centímetros de espessura, eu provavelmente teria quebrado três vezes mais ossos do que tinha quebrado na minha vida.
Ainda assim.
Porra.
Tentei respirar, mas, por causa da pancada, meus pulmões ainda estavam em choque. As mãos de Lauren tinham escorregado ― ou o que diabos tinha acontecido ―, resultando em uma queda de cerca de dois metros e meio no ar e aterrissando direto no chão nas minhas malditas costas.
Porra.
- Estou bem - sussurrei, ofegante, tentando forçar uma respiração outra vez, mas apenas conseguindo completar uma como um bebê faria, que não era nem próxima o suficiente do que seria necessário.
Engolindo em seco, tentei tomar outro fôlego e consegui apenas metade de um antes de a minha coluna dizer: Ainda não, otária.
Arrastando meus calcanhares nus pelos tapetes, plantei meus pés no chão e tentei respirar fundo, sendo um pouco mais bem-sucedida dessa vez. O bom era que minhas costelas não estavam quebradas. A outra coisa boa era: pelo menos, ela me deixou cair aqui e não no gelo, que parecia o equivalente a cimento quando você o atingia.
Engoli em seco novamente, respirei fundo e, quando tudo correu bem, lembrei-me de que não era nada. Não de verdade, pelo menos.
Abri os olhos e imediatamente vi a mão grande que me segurara acima do chão ― a mão grande que falhara e me deixara cair ― estendida em minha direção.
Por um segundo, pensei em pegá-la para me ajudar, mas depois me lembrei da outra vez que ela havia feito a mesma coisa. Balancei a cabeça e sentei sozinha.
- Estou bem - murmurei, apenas fazendo uma careta enquanto dizia isso.
- Você precisa de um minuto? - a treinadora Brooke perguntou de onde ela estava, quando me ajoelhei e lentamente fiquei de pé, respirando mais algumas vezes, o que fez minhas costas doerem um pouco. Eu sentiria ainda mais dor no dia seguinte, com certeza.
- Estou bem. Vamos fazer de novo. - Gesticulei para a treinadora quando inclinei a cabeça para trás e respirei fundo para recuperar o que a queda havia tirado de mim. Quando minha respiração estava sob controle e eu estava pronta para recomeçar, virei-me para encarar aquela que era minha parceira novinha em folha há quatro horas.
Quatro horas.
Passamos a manhã fazendo o básico, e eu realmente queria dizer o mais básico dos básicos. Eu não tinha dormido bem na noite anterior, principalmente por conta da ansiedade do que viria na manhã seguinte ― nosso primeiro treino ―, mas, quando acordei, estava pronta.
Quando nos encontramos ao lado da pista às quatro da manhã, eu já tinha um E preto no dorso da minha mão esquerda e um D vermelho na direita, alongava-me sozinha, e ela também. A treinadora Brooke ficou patinando ao nosso lado... por horas. Tudo para que encontrássemos nosso ritmo juntas. Suas pernas eram mais longas do que as minhas, mas nós duas ouvimos as correções da treinadora, mantivemos nossas bocas fechadas, e tudo deu certo. Acho que nem olhamos uma para a outra, de tão ocupadas que estávamos nos concentrando nos pés... e apenas algumas vezes eu tive que olhar para as minhas mãos.
E quando ela nos disse para darmos as mãos e fazermos tudo de novo, nós o fizemos. Depois, repetimos e repetimos, de mãos dadas e sem mãos dadas até acertarmos. A passos de bebê, mas eles eram importantes. Aquelas eram todas as coisas que deveríamos ter descoberto se tivéssemos feito um teste.
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De Jauregui, Com Amor
FanfictionSe alguém perguntasse a Camila Cabello como ela descreveria os últimos anos de sua vida em uma única palavra, ela, definitivamente, usaria uma com quatro letras. Depois de dezessete anos e incontáveis promessas e ossos quebrados, ela sabe que as por...