Capítulo dezenove

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— O que você pensa que está fazendo?

Parando no meio do abdominal número 108, não precisava olhar para o meu lado para saber quem estava ali. Eu reconheceria aquela voz irritante, condescendente e mandona numa multidão de mil. Apenas uma pessoa conseguiria me irritar tão facilmente fazendo uma pergunta.

— Cuidando da minha vida. A única coisa que você não sabe fazer — murmurei, movimentando-me para continuar meu treino de abdominais.

— Camila. — Ouvi o tom cortante de Lauren novamente.

Eu a ignorei. Fazendo outro abdominal, vi pelo canto do olho quando ela fechou a porta atrás de si.

Fiz mais um quando ela veio andando na minha direção, aqueles pés em tênis azuis brilhantes parando a centímetros do meu lado.

Eu não olhei para ela e não ia mesmo olhar. Eu sabia o que ela estava olhando. Não era meu corpo coberto de suor, e com certeza não era o fato de eu usar um short de basquete solto do meu irmão, que estava subindo pelas minhas coxas; o fato de estar usando apenas um top esportivo também não tinha nada a ver com o que ela queria focar.

Ela estava olhando para a bota que eu tinha no pé esquerdo. Apoiei o pé esquerdo em um travesseiro ao lado do direito, que está plantado no chão, com o joelho dobrado. A bota preta, que era um lembrete, a cada minuto, de que eu estava fodida.

Fiz mais quatro abdominais, olhando diretamente para o teto.

Engoli em seco tão forte que minha garganta doeu.

Eu fiz a mesma coisa tantas vezes nas últimas duas semanas que fiquei surpresa por ainda conseguir falar. Não que eu tivesse falado muito desde que recebi alta do hospital. Eu não estava fazendo nada além de malhar no meu quarto, assistir aos treinos em vídeo de mim e Lauren antes de tudo acontecer e dormir.

A ponta do tênis de Lauren cutucou a minha costela, e eu a ignorei.

— Camila.

— Lauren — falei, fazendo minha voz parecer tão intransigente quanto a dela.

Ela me cutucou novamente. E, mais uma vez, eu não fiz nada.

Ela suspirou.

— Você vai parar para que possamos conversar ou o quê?

— Melhor não — respondi, forçando-me a manter o olhar longe dela.

Eu não deveria ter ficado surpresa quando ela rapidamente se agachou, pairando ao meu lado, tão perto que não havia como ignorá-la. Infelizmente. Porque, quando subi para fazer outro abdominal, a palma da mão dela foi parar na minha testa, e ela gentilmente empurrou minha cabeça para baixo, para que eu ficasse deitada de costas.

Olhando ao redor e além dela, eu me concentrei no ventilador de teto.

— Almôndega, chega — disse ela, com a mão ainda no meu rosto.

Esperei um segundo e tentei fazer outro exercício, mas ela devia estar esperando por isso, porque não consegui me mover nem um centímetro do chão.

— Chega — ela repetiu. — Pare. Fale comigo.

Falar com ela?

Isso me fez desviar o olhar em sua direção, encarando o rosto que eu não via há mais de duas semanas. Aquele rosto que me acostumei a ver seis dias por semana, mas de alguma forma se tornou mais como sete dias, por todo o tempo extra que passávamos juntas. O rosto que, da última vez que vi, estava ao meu lado, sentado em uma mesa de exame, ouvindo o médico me dizer que, na melhor das hipóteses, poderia estar de pé em seis semanas. Mas sem promessas. A entorse de grau 2 no seu ligamento talofibular anterior é problemática, alertou o médico, antes de passar o período de recuperação para mim. Oito semanas nunca pareceram tão longas antes.

De Jauregui, Com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora