Capítulo quartoze

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- O que você tem? - Lauren disparou cerca de cinco segundos depois de sairmos de um giro sentado, o mesmo no qual tropecei um segundo antes, aterrissando de bunda. O mesmo no qual perdi o equilíbrio nas últimas seis vezes que fizemos. O mesmo giro que eu normalmente fazia repetidas vezes, uma variação após a outra, um giro voador quase sentado, uma queda mortal com um giro... Normalmente não era grande coisa.

A menos que seu corpo inteiro estivesse queimando, todos os músculos desde os joelhos até o queixo doessem e sua cabeça parecesse que estava prestes a explodir.

Além disso, minha garganta parecia que eu tinha mastigado uma lixa, e apenas me levantar do chão estava exigindo um grande esforço.

Eu me sentia uma merda.

Uma merda total e completa. Estava assim a manhã toda. Tinha certeza de que havia acordado no meio da noite ― o que nunca acontecia ―, porque minha cabeça doía e minha garganta queimava como se eu tivesse engolido um copo de lava por diversão.

Mas não contei a Lauren ou a Brooke sobre isso.

Com apenas um dia antes de começarmos a trabalhar na coreografia, não tínhamos tempo para eu ficar doente. Desde a manhã do dia em que Lauren e eu cuidamos dos filhos de Ruby, uma coisa após a outra apareceu. Minha garganta formigou, depois um pouco mais. No outro dia, minha cabeça parecia estranha. Então comecei a ficar cansada. Então tudo passou a doer, e pronto. A febre veio. E todo o resto decidiu ficar doente de verdade.

Droga!

Deitada de costas, o gemido que saiu de mim foi uma consequência do quanto minha cabeça estava latejando. Não conseguia me lembrar da última vez que meu equilíbrio esteve tão ruim. Talvez nunca?

- Você está de ressaca? - Lauren perguntou de onde diabos ela estava.

Comecei a sacudir a cabeça e imediatamente me arrependi quando a vontade de vomitar me chutou bem no estômago.

- Não.

- Você ficou acordada ontem à noite, não foi? - ela acusou, o zunido silencioso de suas lâminas no gelo me dizendo que ela estava chegando mais perto. - Você não pode treinar quando está exausta.

Girando e depois ajoelhando-me, tudo que eu tinha energia para fazer era mexer os dedos da mão.

- Eu não fiquei acordada, imbecil.

Ela bufou, o preto de suas botas aparecendo.

- Você está cheia de... - Eu vi a mão dela alcançando meus braços muito tarde. Tão tarde que não havia nenhuma maneira, nenhuma porra de maneira, levando em consideração o quanto eu me sentia uma merda, de que eu pudesse ter me movido antes que ela me tocasse. Suas mãos me agarraram logo acima dos cotovelos e rapidamente me soltaram.

Eu estava com tanto calor que tirei o pulôver que vestia sobre minha blusa há mais de uma hora, deixando meus braços expostos. Se eu pudesse ter tirado todo o resto também, teria feito isso.

As mãos de Lauren foram para os meus antebraços, agarrando-os por um segundo e depois os soltaram também.

- Camila, que porra é essa? - ela sussurrou, suas mãos indo para as minhas bochechas enquanto eu apenas esperava, sentada no gelo, porque não tinha energia para mais nada. Se pudesse me deitar no gelo em posição fetal, faria isso. Ela segurou meu rosto por um momento, depois moveu a outra mão para cima, para tocar minha testa, xingando tão baixinho em russo que eu ficaria impressionada, se fosse qualquer outro dia. - Você está queimando.

Eu gemi com a frieza de suas mãos em mim e sussurrei:

- Não brinca.

Ela ignorou meu comentário espertinho e apalpou a parte de trás do meu pescoço, ganhando um gemido direto da minha boca. Jesus, a sensação era boa. Talvez eu pudesse me deitar no gelo por um minuto.

De Jauregui, Com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora