Capítulo doze

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- Acho que terminamos por hoje - a treinadora Brooke gritou de onde estava, a alguns metros de onde eu tinha aterrissado depois de ser lançada para o alto.

Respirando pelo nariz e expirando pela boca, tentando evitar ofegar depois de um treino que me fez suar tanto que o E e o D nas minhas mãos começaram a desaparecer, eu assenti. Já era hora. Eu estava cansada e sabia que Lauren também. Eu senti o quanto ela teve que se esforçar para me lançar na última vez.

Além disso, não ajudava em nada que eu tivesse tido uma noite de merda. Também não ajudava que tivéssemos ficado tão ocupadas no restaurante naquela manhã que nem tive a chance de fazer uma pausa.

Eu exagerei na noite anterior. Por dentro e por fora, e meu corpo não me perdoou por não tratá-lo tão bem quanto eu normalmente fazia.

Eu não conseguia parar de pensar nas minhas escolhas ― no que eu queria e precisava fazer ― e... se fosse honesta comigo mesma, estava pensando mais na bondade de Lauren do que jamais teria esperado. Ela me manteve em seu abraço por cerca de dez minutos enquanto eu me acalmava e, lentamente, pedacinho por pedacinho, fui me recuperando.

Ela não perguntou o que me chateou. Ela não tinha me provocado por isso. Em algum momento, acabou me soltando para que eu terminasse de beber meu chocolate quente e tirou a caneca das minhas mãos para lavar e colocar ao lado da pia. Então ela me seguiu até o vestiário vazio, esperou que eu pegasse minhas coisas... E me seguiu até em casa.

Nós não tínhamos conversado muito, e eu não tinha certeza se era apenas porque ela compreendia que eu estava com a cabeça cheia ou se ela não sabia o que pensar sobre eu ter desmoronado daquela forma. Honestamente, eu também não tinha certeza. A única coisa que eu sabia era que, se Lauren achava que eu iria ficar envergonhada no dia seguinte, ela deve ter ficado muito surpresa por não ser o caso.

Eu podia ver em sua expressão toda vez que ela olhava para mim.

Aqueles olhos verdes, quase verde-oliva, vagavam pelo meu rosto toda vez que estávamos na frente uma da outra. Por um pequeno milissegundo, na primeira vez que a peguei me observando, pensei em desviar o olhar.

Mas não o fiz. Eu me recusei a fazê-lo.

Porque fazer isso mostraria que eu tinha vergonha de ela ter me encontrado daquela forma, por ter me ouvido e me visto quase chorar, o que era ruim. E uma das melhores lições que já aprendi sobre patinação artística era que, quando você caía, deveria voltar e agir como se nada tivesse acontecido. Você dava importância demais às coisas ou não. E se você se levantasse, sorrisse e erguesse a cabeça...ainda manteria sua dignidade.

E eu ia espremer a merda da minha dignidade com as duas mãos.
Pelo menos o que restou dela.

Nós éramos amigas. E às vezes as amigas perdiam a cabeça perto da outra. Pelo menos, era o que eu imaginava.

- Vá com calma e descanse um pouco, Camila - disse a treinadora Brooke enquanto patinava em minha direção e me dava um olhar sério.

Esqueci que fora para ela que Galina ligara na noite anterior. Eu só consegui concordar. O que mais eu poderia dizer ou fazer?

- Vejo você amanhã cedo - Brooke terminou, tocando as pontas dos dedos no meu ombro por um breve momento antes de tirá-las e patinar para longe.

Colocando as mãos nos quadris, continuei tentando recuperar o fôlego enquanto olhava ao redor da pista, observando as outras seis pessoas ainda praticando, aproveitando os últimos minutos antes que o tempo privado no gelo terminasse e se abrisse para as aulas em grupos. Vi Galina quase imediatamente sentada no mesmo lugar onde costumava quando éramos só eu e ela, com o queixo apoiado nas mãos cruzadas nos painéis. Seu olhar estava na adolescente que realizava uma sequência de movimentos de braço a alguns metros de distância.

De Jauregui, Com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora