Capítulo nove

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Eu pisquei.

A cada palavra que aprendi ao longo da minha vida deixou de existir.

Porque, naquele momento, sentada sobre o assento de couro liso, com a mão na maçaneta da porta de um carro que custava mais do que a maioria das casas das pessoas, eu não tinha certeza do que dizer. Nem tinha certeza se a tinha ouvido corretamente.

- Como é que é? - eu basicamente coaxei pelo que eu tinha certeza de que era a primeira vez na minha vida.

A alfa sentada atrás do volante nem se deu ao trabalho de responder. O que ela fez foi se inclinar... e abrir a porta. Então ela disse:

- Posso usar o banheiro?

Ela...?

Ela queria que eu a convidasse? Era isso que estava realmente me perguntando? Ela estava me dizendo de forma completamente sutil que queria entrar na minha casa? Onde minha família estava? Para fazer xixi?

Pisquei novamente, com um não na ponta da língua, enchendo a parte de trás da minha garganta em um nó tão grande que desceu pelo meu esôfago também. Foi uma resposta idiota, uma que eu sabia que provavelmente me arrependeria, mas, de qualquer maneira, eu dei.

Porque: seja uma pessoa melhor.

- Se você quiser.

A resposta de Lauren foi sair do carro e fechar a porta com força, enquanto eu continuava sentada ali, imaginando o que diabos tinha acontecido. Então, tão rapidamente quanto Lauren saltou, eu fiz o mesmo, pegando todas as minhas coisas e fechando a porta o mais suavemente possível. Ela já estava me esperando no meio do caminho pavimentado que levava à porta da frente, as mãos enfiadas nos bolsos da calça de moletom, o pulôver de lã preto combinando perfeitamente com seu tênis discreto. Principalmente incomodava-me o fato de que ela talvez não tivesse tomado banho, porém, eu parecia precisar de um, enquanto ela... não.

- Quem está aqui? - a canalha intrometida perguntou.

Lancei-lhe um olhar de soslaio enquanto passava por ela na grama para ir até a porta da frente, enfiando meu braço no zíper aberto da bolsa para procurar as chaves. Eu já tinha visto os carros estacionados na entrada. O Cadillac era de James, marido do meu irmão. O 4Runner, da Sofia, e o Yukon era do marido da Pequenina.

- Minha mãe, seu marido, Ben, meu irmão e seu marido, minhas duas irmãs, Aaron, o marido da minha irmã, e seus filhos.

- Qual irmã?

Olhei para ela novamente enquanto deslizava a chave na fechadura, imaginando em uma escala de um a dez o quão merda aquela ideia tinha sido. Com a minha sorte, provavelmente a nota seria trinta.

Porque aquele seria exatamente o dia em que Lauren se convidara para usar o banheiro.

Que Deus me ajudasse.

- A morena ou a meiga e tranquila? - ela indagou, como se eu não soubesse a diferença entre minhas irmãs.

- Aaron é o marido de Ruby; ela é a legal - respondi, minhas palavras saindo agitadas e ofegantes, porque não sabia quando diabos ela tinha prestado atenção suficiente para conhecer minhas duas irmãs.

Fazia anos desde que Ruby, a mais nova das duas, tinha ido comigo para a pista. Desde que ela engravidara do primeiro filho. Sofia ainda ia lá de vez em quando para me julgar, mas não tão frequentemente quanto antes. E eu não conseguia me lembrar de nenhuma delas terem ido à casa dos pais dela para me buscar depois que eu saí com Dinah.

- Você tem outro irmão, não é? - ela perguntou, assim que eu puxei a chave da fechadura e girei a maçaneta.

Como diabos ela sabia que eu tinha outro irmão? Talvez Dinah já tivesse mencionado isso. Ela costumava dizer que tinha uma queda por Seb.

De Jauregui, Com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora