Capítulo vinte e três

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— Normalmente, eu não dou conselhos a Lauren antes de patinar, Camila, mas posso lhe dar um, se você precisar — ofereceu a treinadora Brooke enquanto estávamos no túnel ao lado do gelo, assim que a equipe anterior iniciou seu programa curto.

Não me virei para olhá-la, do meu lugar na frente de Lauren e ao lado da treinadora. Eu estava olhando em volta, para a multidão nas arquibancadas, mantendo minha respiração firme e meus nervos sob controle. Eu me sentia calma. Mais calma do que jamais havia me sentido.

— Estou bem.

Porque tudo ficaria bem de um jeito ou de outro. Como Lauren dissera.

Não seria o fim do mundo se as coisas dessem errado.

Mas eu ainda esperava que não dessem.

— Você tem certeza? — a treinadora Brooke insistiu.

Eu não olhei para ela, sabendo que estava assistindo à dupla também, enquanto balancei a cabeça e disse:

— Sim. Conversas motivacionais me deixam doida. — Olhei para ela nesse momento. — Mas obrigada por oferecer.

As duas mãos que estavam em meus ombros, desde o momento em que esperávamos nossa vez, massagearam-nos. O corpo de Lauren estava tão perto do meu que eu podia sentir o calor irradiando dela.

Matamos as últimas três horas alongando e alongando mais ainda, depois relembrando a coreografia no corredor com fones de ouvido, apenas fazendo alguns levantamentos para ganhar confiança, mesmo que os tivéssemos feito mil vezes nos últimos oito meses.

Éramos tão boas quanto podíamos ser com tudo o que havia acontecido antes disso.Nós tentaríamos o nosso melhor, e não havia mais nada que pudéssemos pedir.

— Sua mãe acabou de acenar para mim — Lauren sussurrou no meu ouvido antes de levantar uma mão do meu ombro, muito provavelmente acenando para ela de volta.

Eu nunca tinha procurado minha família antes de patinar. Sempre me sentia mais pressionada por saber que eles estavam lá. Nem checava meu telefone por horas antes de uma competição. Eu queria estar focada.

Mas a menção da minha mãe, que eu não via desde que ela chegou a Lake Placid na noite anterior, me fez olhar de um lado para o outro.

A mão de Lauren subiu ao lado da minha cabeça e ela apontou para a direita. Então reconheci a morena em pé, agitando os braços sobre a cabeça como uma louca.

Também reconheci o homem de pele escura de um lado dela, a outra morena do outro lado, os cabelos castanhos de Sebastian e... havia um alfa da sua altura exata ao seu lado. Cabelos mais escuros, não tão claros. Do outro lado daquele alfa estavam a inconfundível cabeça gorda e orelhas grandes de Jojo, o cabelo loiro médio de James e um casal de cabelos pretos que deviam ser os Jauregui.

Era o meu pai.

Era a porra do meu pai sentado lá.

— Sua mãe e Jonathan tentaram convencê-lo a não vir, mas ele insistiu que não iria incomodá-la — Lauren sussurrou no meu ouvido.

Engoli em seco. Engoli em seco porque não tinha ideia de como me sentia ao vê-lo lá. Não era empolgação como teria acontecido uma década atrás. Mas era alguma coisa. E não achei que fosse totalmente pavor.

— Você está bem? — ela perguntou em voz baixa.

Sem perceber, minha mão foi para o local do meu antebraço onde a pulseira estava amarrada. Minha nova pulseira. Toquei-a e o tecido rendado sobre ela.

— Estou — eu disse, voltando a olhar para minha mãe, que parou de balançar os braços no meio da coreografia da outra equipe, finalmente.

Ela estava me observando e a Lauren, e eu podia dizer, mesmo à distância, que estava sorrindo.

De Jauregui, Com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora