Capítulo oito

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- Não que eu me importe, mas você está com raiva de mim?

Eu tinha acabado de dar uma volta no gelo para me aquecer, após minha sessão de alongamento de uma hora, quando Lauren começou a patinar ao meu lado, fazendo sua pergunta idiota.

Eu nem me incomodei em olhar para ela quando respondi.

- Não.

- Não, você não está brava? - ela perguntou.

Pelo canto do olho, pude ver o contorno do pulôver branco com zíper que ela usava e a calça de moletom azul-marinho enfiada em seus patins pretos. Por que ela sempre tinha que se vestir toda perfeitinha?Aff. Eu estava com minha roupa habitual: calça desbotada e camiseta desbotada de mangas compridas com alguns buracos. O bom de não ser alta é que eu não perdia minhas roupas há mais de dez anos.

- Não - repeti.

Ela não disse nada por um segundo, enquanto se mantinha ao meu lado, conforme eu dava outra volta, ganhando um pouco mais de velocidade conforme perdia a preguiça.

- Não mais?

Por que diabos ela estava me perseguindo? Ela não tinha visto meu rosto no dia anterior e eu não acho que agi como se algo estivesse errado.

Ou agi?

Então me lembrei do seu comentário não que eu me importe e revirei os olhos.

- Não, eu nunca fiquei brava com você, para início de conversa.

- Eu não fiz nada para você ficar com raiva.

- Ok - respondi rapidamente.

Houve uma pausa.

- Você não estava brava?

Eu estava brava? Não. Ela brincou sobre algo que me deixava sensível? Sim. Se eu falasse isso a ela, Lauren entenderia que pegou uma das poucas feridas que ainda me incomodavam, mas admitir poderia fazê-la usá-la mais vezes contra mim.

Porque era isso que fazíamos, e a única pessoa que eu poderia culpar era a mim mesma. E a ela.

Nós construímos essa base para nosso... relacionamento de trabalho ― ou do que mais poderia ser chamado.

- Não - eu disse. Com meus olhos ainda voltados para frente, joguei suas palavras de volta para ela: - Eu teria que me importar com o que você pensa para ficar brava.

Ela olhou para mim por cima do ombro, sem responder quando terminamos outra volta ao redor da pista de gelo, tendo-a completamente para nós, por ser tão cedo. Na tarde anterior, fomos direto ao treinamento quando chegamos. Talvez eu a tivesse ignorado mais do que o habitual? Não. Apenas a tratei como precisava: como se tivéssemos um tempo limitado para nos prepararmos, e eu precisava tirar o melhor proveito disso.

- Será apenas por um ano - ela me lembrou de repente, como se eu tivesse esquecido.

Eu nem me incomodei em revirar os olhos.

- Eu ouvi da primeira vez que você falou sobre isso, imbecil.

- Estou apenas me certificando de que você não esqueça - ela acrescentou naquele tom grave.

- Como eu poderia esquecer quando você me lembra dia sim e dia não? - rebati antes que pudesse me controlar. Eu precisava parar.

Sabia no que estava me metendo.

Isso a fez olhar para mim.

- Alguém está sensível.

Revirei os olhos.

De Jauregui, Com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora