Capítulo vinte e quarto

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— Um minuto.

Sacudindo meus ombros, respirei fundo, soltei e depois fiz tudo de novo. Era fácil separar o som da plateia torcendo pela dupla no gelo que havia acabado de terminar sua apresentação alguns segundos atrás. Era ainda mais fácil ignorar as flores e os bichos de pelúcia que eram jogados pela multidão.

Eu era forte. Eu era esperta. Eu poderia fazer qualquer coisa.

Eu não era fraca ou despreparada.

O mundo não acabaria se eu estragasse tudo.

Eu poderia fazer isso.

Eu sempre seria capaz. Talvez não tivesse nascido exatamente para isso, mas fiz a minha parte. Eu tinha conquistado tudo por mim mesma, e sempre seria assim.

Quatro minutos e alguns segundos para demostrar uma vida inteira de trabalho duro. Nada de mais.

— Está na hora — a voz da treinadora Brooke soou quase diretamente no meu ouvido, a mão dela pousando levemente no meu ombro.

Eu balancei a cabeça, lançando-lhe um olhar pelo canto do meu olho antes que ela me soltasse e desse um passo para o lado, para fazer o mesmo com Lauren, que estava a um pé de distância, sacudindo as mãos e as coxas. Eu a notei olhando para ela, da mesma maneira que eu, assentindo.

E então ela olhou por cima do ombro para mim.

Aqueles brilhantes olhos verdes pousaram diretamente nos meus, e não tivemos que assentir ou fazer nada. Nós apenas sorrimos uma para a outra. Nosso pequeno segredo. Algo só nosso.

Nós acordamos naquela manhã no meu quarto, enquanto eu babava em sua mão e sua perna estava jogada sobre uma das minhas, e fora a melhor manhã das nossas vidas. Ela me disse isso, e eu soube. Então ela beliscou a merda da minha bochecha, e foi como tudo deveria ser entre nós. Perfeito.

Nós íamos fazer aquilo.

Nós tínhamos tudo.

O sorriso que curvou seus lábios e músculos da bochecha era preguiçoso... quase indecente... uma porra de promessa do que com certeza iria acontecer naquela noite, independentemente de qualquer outra coisa.

Era o seu sorriso de confiança. O que ela compartilhava comigo. Era meu.

E subiu pela minha espinha, algo quente e reconfortante que me dizia que ela estava tão confiante quanto eu. Que nós íamos conseguir, juntas.

Então não pude deixar de sorrir de volta para ela, mais amplo do que antes. Não era nada grande, mas era um sorriso dela e apenas dela.

E ela sabia que era, porque seu sorriso se ampliava ainda mais.

Revirei os olhos quando desviei o olhar e andei em direção ao gelo, meu batimento cardíaco bom e estável, minha cabeça calma e controlada. Na parede, fiquei à esquerda para deixar o último patinador sair do gelo e olhei para cima. Eu já tinha visto minha família quando chegamos ao túnel, e eles ainda estavam lá. Todos segurando uma placa, até meu pai.

ESSA É A MINHA IRMÃ.

VAI, CAMILA!

CAMILA!

NÓS TE AMAMOS, CAMILA

CAMILA  CABELLO PARA SEMMRE

NUNCA DESISTA, CAMILA!

VOCÊ É FANTÁSTICA, GAROTA!

Mas foi o NUNCA DESISTA, CAMILA que me fez apertar os olhos.

Porque era meu pai segurando a placa. Ele não estava pulando como todos os outros, mas estava sorrindo. Ele não estava envergonhado. Ele não estava entediado.

Mas ele estava lá. E isso foi mais do que eu poderia ter desejado ou esperado.

E era disso que eu precisava. Outro pedacinho colado na minha mente e no meu coração.

Eu me permiti pensar por um segundo no cartão que li naquela manhã, deitada na cama ao lado de Lauren. O cartão da garota legal do CJ.

Boa sorte, Camila!
Você vai se sair bem. Obrigada por ser tão legal. Espero que um dia possa ser como você. Com amor, Patty.

E eu sabia que poderia fazer isso.

Uma vez, quando eu tinha quinze ou dezesseis anos, Galina me disse que, para vencer, eu teria que estar preparada para fracassar.

Teria que aceitar a ideia de que poderia falhar. E eu nunca tinha entendido completamente o que ela queria dizer com isso, porque quem diabos queria perder? Compreendia a mensagem dela naquele momento, depois de uma década.

Dei um passo no gelo e deslizei apenas alguns centímetros para dar a Lauren espaço para fazer o mesmo. Ela me seguiu, parando a sessenta centímetros de mim, quando o locutor chamou nossos nomes.

Nesse momento, olhei por cima do ombro para a alfa com o traje marrom e dourado que minha irmã havia criado, e a encontrei já me olhando, sorrindo para mim.

Ela parecia feliz.

E, pela primeira vez, senti-me feliz enquanto estava ali, sem nervosismo, sem me sobrecarregar. Eu apenas me sentia feliz. Pronta.

Então eu sorri de volta para ela.

Nós duas parecemos respirar ao mesmo tempo.

Assim, Lauren estendeu a mão na minha direção. Ela observou meu rosto enquanto eu lhe entregava minha mão, colocando a palma sobre a dela, nós duas entrelaçando nossos dedos.

Ela murmurou eu te amo, e eu dei uma piscadinha para ela. Então, patinamos em direção ao centro do gelo, de mãos dadas, parando no local que precisávamos. Lauren ficou em posição ao mesmo tempo que eu, nós duas nunca olhando para outro lugar. Se a multidão ficou quieta, eu não tinha ideia, porque esqueci completamente dela assim que o rosto de Lauren parou a dois centímetros do meu.

— Você é péssima — ela sussurrou, sua respiração contra a minha bochecha.

Eu apenas contive um sorriso quando disse:

— Você é pior.

Um segundo, uma fração de segundo antes de a música começar, ela sussurrou:

— Vamos fazer isso.

E nós fizemos.

De Jauregui, Com AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora