[2] - A Coisa

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Peter Skylar gostava de muitas coisas.

Acordar tarde, cozinhar receitas novas e desafiadoras nos dias mais calmos. Encarar um roteiro fora dos padrões, acelerar muito além do limite em uma rodovia esquecida por Deus, reunir bons amigos em um dia qualquer, cantar as melhores dos anos 80 num karaokê de origem duvidosa no subúrbio de Boston, beber uma taça de vinho antes de dormir, o barulho do ar condicionado no verão e um bom orgasmo de enfraquecer as pernas proporcionado por desconhecidos.

Esse último item, por motivos óbvios, não era mencionado nas entrevistas recorrentes em talk shows ou revistas, ele nunca falaria sobre sua propensão ao sadismo e sexo violento durante um bate-papo com a Vogue, não era nada benéfico ter o rosto masculino mais desejado do país estampado junto de alguma manchete chocante: "Extra, extra! Peter Skyler, The Disney's Boy gosta muito de chupar um pau gordo!!" A necessidade de se apresentar como um homem normal sempre seria o mais importante para manter a boa imagem.

Sky, por sua vez, preferia acreditar que isso não era mentir, mas se proteger. Talvez só uma válvula de escape da consciência para lidar com a própria hipocrisia tão necessária. Autopreservação. Tudo feito com as melhores intenções, sem qualquer objetivo de iludir os milhares de fãs que, secretamente, sonhavam em se casar com ele. Sonhavam com o literal conto de fadas.

Até porque, Peter nunca sonhou com nada disso.

Há uma coisa importante para sabermos sobre Sky: ele não é um príncipe encantado como o que interpretou em um de seus papéis mais icônicos da carreira, mas é um ótimo ator.

Nada de cavalos brancos, carruagens ou beijos inapropriados em jovens garotas quase mortas em caixões de vidro no meio da floresta (o que ele sempre achou bem esquisito). Entretanto, sim. Ele era um ótimo ator.

O melhor da geração.

Em todos os sentidos possíveis – e impossíveis, da interpretação, o melhor. De vez em quando, ele sequer precisava de roteiro para atuar.

Então, em noites como aquela, Skylar se libertava. Ele deixava sua coroa brilhante no banco de trás do carro, se desfazia da capa de veludo e do sorriso galanteador para vestir couro, renda e sensualidade. Naquelas noites ele se amava ainda mais, cinco vezes mais quando o príncipe era deixado nas sombras para o devasso brilhar sob as luzes.

Naquela noite ele ainda não estava bêbado como gostaria, só um metro mais alto e disposto a virar algumas boas doses de tequila. Suando sob a roupa cara e bonita, movimentando o corpo junto a batida da música popular, deixando-se ir de encontro ao corpo de Colin, que a cada segundo, se mostrava mais interessado em tocá-lo de volta. Transar com Colin Davis não era seu objetivo, mas o cara tinha um boquete incrível e isso o incentivou.

Colin era bonito. Um bom ator para sitcom de roteiro com receita pronta e fã ávido frequentador das "salas brancas" nas boates da cidade. O cara era completamente viciado e, segundo os boatos, colecionava dívidas com os traficantes mais conhecidos do ramo.

— Você quer beber alguma coisa?

Colin sussurrou acima da música, curvando um pouco o corpo enquanto a mão apertava mais seu quadril. Sky sorriu e o encarou de perfil. Bonito. A rinoplastia havia dado certo, o que era raro.

Os dois encaram o copo quase vazio.

— Obrigado, Colin. – a borda do copo tocou seus lábios, ele virou o que restava do drinque com gin e assentiu.

— Prefere outra coisa? Posso trazer o que você quiser. – Colin ofereceu, envolvido demais. Os dedos ágeis se moveram lentamente. Ele tocou a cintura de Skylar com muito carinho e isso o incomodou. Os limites são um pouco rasos e controversos. Sky assentiu de novo. – O que? Pode pedir o que quiser.

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