[8] - Demônios

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Quando Sebastian saiu do banheiro, quase duas horas depois do ocorrido, Yan estava confortavelmente sentado na poltrona esquecida no canto do quarto. O dono da casa, em silêncio, atravessou o cómodo espaçoso usando um roupão preto e descalço.

O cabelo molhado estava penteado para trás e o olhar irritado não conseguiu esconder as marcas do choro de antes. Yan, também em silêncio, se lembrou de tempos passados, quando ainda eram jovens e donos de ombros leves. Sebastian ainda ficava de bochechas muito coradas quando chorava, igual ao garotinho tímido e de olhar curioso.

Se conheciam o suficiente para nunca ser necessário dar muitas voltas.

Yan respirou fundo e apagou o cigarro que tinha entre os dedos tatuados. Ele empurrou o cinzeiro de vidro por cima da mesinha e pegou o celular, discou e colocou ali também.

Pronto. – A voz de Matteo preencheu um pouco do ambiente.

Sebastian encarou com uma careta confusa.

— Matteo já sabe o que aconteceu. – Yan o explicou.

— Claro que sabe. – Rolou os olhos. – Vocês dois são iguais a duas comadres fofoqueiras,

— Sebastian, eu mandei o Oscar preparar o apartamento vazio no mesmo andar do lugar onde Kei vive-

— Não. – Sebastian o cortou. Yan suspirou.

É o lugar mais seguro de Los Angeles, você sabe. Kei vive lá há três anos, Sebastian.

— Kei é só dois anos mais velho. – Yan cruzou as pernas. – É muito extrovertido e eu tenho certeza de que vai ajudar o garoto, vai cuidar dele até que saiba se virar sozinho.

— Não. – Sebastian repetiu, ainda secava os cabelos com a toalha.

Ele se livrou do roupão depois disso, pouco preocupado com o olhar de Yan. A cueca vermelha apertava suas coxas e quadris, mas parecia confortável. O corpo, esguio e marcado com tatuagens e cicatrizes também trouxe lembranças ao japonês.

Eu não quero ser um cuzão com você, Sebastian.

— Então, não seja. – Devolveu.

— Sebastian, não é seguro que o moleque continue aqui. – Yan tentou pela última vez, ele sabia ser mais paciente que Matteo quando necessário.

— Eu posso-

Você não pode, Sebastian. – O italiano levantou a voz. – Você mal pode cuidar de si quando está dentro de uma maldita crise! Para de ser um filho da puta teimoso e inconsequente, porra! Você quer o sangue desse moleque nas suas mãos?!

Sebastian, com um cigarro entre os lábios, ficou em silêncio, o sotaque de Matteo sempre ficava mais perceptível quando ficava nervoso.

Yan coçou a barba por fazer e respirou fundo, encarando-o, ainda que o olhar dele continuasse fugindo o tempo inteiro. As mãos nuas estavam trêmulas. Sebastian se sentou na cama e apoiou os cotovelos nas coxas nuas, se curvou e afundou a face dentro das palmas frias.

— Sebastian, você sabe o que está acontecendo e sabe como vai acabar se o Juan continuar aqui. – Yan gesticulou.

Você se sente atraído por esse garoto, caro mio?

— Não. – Negou, depressa. – Não desse jeito que vocês dois pensam. – A voz dele parecia cansada. – É só que... Eu era três anos mais novo que ele quando tudo aquilo aconteceu, quando Nicolai... – ele parou de falar e arfou, os dedos trêmulos pressionaram os próprios lábios. – Juan só tem tamanho. – Fungou. – Ele não sabe ler, não sabe cozinhar, não sabe como usar um celular e-

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