LA FAMA

[4] - Lealdade Entre Reis

Sebastian, Yan e Matteo se conheceram ainda crianças. Verdes, inocentes e fantasiosos demais para a vida que os aguardava no futuro. Afinal, pequenos milionários com os brinquedos mais caros do mercado não têm tempo para questionar de onde vinha o sustento de suas famílias.

O pequeno dragão da Reddo, Yan, não tinha mais de oito anos quando vestiu-se igual ao pai para sua primeira recepção oficial. Ele gostou do bordado daquele quimono, mas temeu a forma como Sora, sua amada mãe, pareceu preocupada ao deixá-lo com o pai. Ele nunca conseguiu esquecer o tigre branco tatuado no peito de Tobio Salvatore e menos ainda a arcada dentária cravada em ouro do homem de olhar felino e assustador. Também conheceu Pedro Rojas, o homem de sorriso gentil e escorpião tatuado na pele das mãos, se perdendo para dentro da camisa bem passada e com estampas que ele nunca havia visto antes.

Ao lado de Tobio, dois garotos muito parecidos e, agarrado ao braço de Pedro, um garoto de olhar curioso.

Nenhum dos três entendeu de verdade o assunto daquele encontro. Ficaram quietos enquanto seus pais bebiam e tratavam de coisas grandes demais para suas mentes em desenvolvimento. Depois, quando outras pessoas se juntaram ali, os três foram mandados para o salão de brinquedos de Yan.

Matteo quase chorou, ele queria ficar com o irmão mais velho.

Diante da inocência infantil, deixados sozinhos no grandioso espaço de jogos, os três ficaram quietos por minutos. Yan se livrou do quimono e coçou a ponta do nariz quando percebeu o interesse de Sebastian no fliperama posicionado ao canto.

"— Você sabe jogar? "

Ele arriscou o melhor inglês que podia. Sebastian assentiu, as bochechas infladas pela timidez. Matteo secou as lágrimas teimosas dos olhos pequenos e levou o polegar até a boca.

"— Tem um dragão no seu vestido"

O pequeno italiano, chupando dedo apontou. Yan observou o quimono esquecido no chão.

"— É quimono. Não é vestido"

Sebastian corrigiu.

Nenhum deles disse outra palavra por um tempo, mas jogaram juntos pelas horas que se seguiram. Seus pais fechando acordos criminosos e os três meninos rindo pela euforia das falsas lutas num fliperama qualquer. Retratos opostos, mas que significavam muitas coisas porque Koshi, Tobio e Pedro também foram apresentados ainda pequenos, instruídos e induzidos a criarem laços indestrutíveis para perpetuar os planos de seus antecessores.

O fliperama não ocupou espaço por muito tempo, ele precisou dar espaço para as armas.

Após aquele primeiro encontro, tornou-se rotina. Criados e treinados entre as carícias das mães chorosas a cada vez que a realidade de suas vidas batia a porta com uma arma engatilhada ou faca afiada. Enquanto outras crianças aprendiam sobre normalidade, seus filhos precisavam aprender a sobreviver. Quando Sora foi assassinada, Yan não chorou diante do pai, mas chorou para Matteo e Sebastian. Quimono preto, dragões dourados e a fúria de um pré-adolescente que não aceitava a nova família do progenitor.

Yan, através do tempo, construiu com Sebastian e Matteo aquilo que jurou nunca mais tentar construir depois de perder a mãe: lealdade. Acima de qualquer fama ou obrigação, eram leais e dispostos a morrer para salvar uns aos outros. Matar uns pelos outros.

Quando Tiago Salvatore foi assassinado, aos dezesseis anos, Matteo ascendeu como o único herdeiro da Santa Maria e os outros dois estavam ao seu lado, já cientes de suas obrigações perante a facção, a vida criminosa que os aguardava de braços abertos, ainda que o pequeno Tigre ainda sofresse constantemente com os pesadelos reais demais. Depois, a queda do Escorpião e o ódio que plantou, regou e colheu o distúrbio do jovem Sebastian, o sorriso manchado de sangue e a promessa selada enquanto um corpo queimava dentro de um carro qualquer em Bogotá. E por fim, quando o amor escancarou a boca do Dragão para cortar sua língua, Sebastian e Matteo trataram de alimentá-lo com tudo o que podiam, injetando veneno para curar o antídoto, controverso e leal. Sempre.