[20] - Pacto Com o Diabo

4.9K 554 1.2K
                                    

Horas antes da última cena

— Aqui, seu queixo está sujo, cariño.

Juan Angel sorriu. Ele se aproximou ainda mais do corpo de Sebastian e o deixou limpar, com um guardanapo, um pouco do molho que sujava seu queixo. Lá fora, por todo o sul da Flórida, o céu ruiu violentamente graças à tempestade.

— Ficou tão bom! Como é o nome mesmo?

— Arepas. – Sebastian serviu mais vinho nas duas taças. – Não é nada demais, sinceramente é simples pra caralho. É o teu primeiro natal longe daquele lugar e-

Juan o calou com o beijinho. Nem percebeu, mas sujou de molho os lábios de Sebastian que, após o susto, sorriu. A mão livre tocou a lombar do garoto, acariciando a pele macia por baixo do lençol que envolvia os quadris, que cobria a nudez. Quando ele se afastou, sorrindo graciosamente, Sebastian engoliu à seco.

Seu coração estava batendo na garganta.

— Feliz natal! – Juan sussurrou. – Esse é o melhor da minha vida e mesmo que venham outros, nenhum vai ser tão bom, eu juro.

— Está doendo? – preocupado, continuou a massagear a lombar de Juan. Estavam sentados à mesa, dividindo um prato generoso de arepas recheadas com carne e legumes, muito molho e o vinho favorito do mais velho. – O banho quente ajudou?

— Não está doendo. – negou. Ele mordeu um bom pedaço da comida e encarou-o enquanto mastigava. – Nada dói com você, Sebastian.

Sebastian assentiu.

Em silêncio, ele bebeu mais do vinho e observou Juan Angel comer e tagarelar sobre coisas demais, indo e voltando com todas as novidades dos últimos dias, repetindo algumas que havia contado por telefone. E enquanto assistia o alvo de sua mais recente e avassaladora obsessão, Sebastian se lembrou, outra vez, da promessa feita ao outro.

— Juan, escuta, preciso conversar algo sério. Sobre o homem que falei ainda agora. Diablo.

Juan, ao ouvir aquele nome outra vez, parou de sorrir. Ele deixou o que restava da arepa no prato e limpou a boca com o mesmo guardanapo de antes. Um raio iluminou mais a sala de jantar e isso o assustou um pouco. Sebastian, ao notar a pele arrepiada do garoto, puxou o lençol para cima, ajudando-o a cobrir o torso nu.

— Eu não gosto desse nome, Sebastian. – confessou. – Diabo é uma coisa ruim.

— Quando eu era pequeno, muy niño, também sentia medo do diabo. O fato de Matteo citá-lo a cada dez minutos também ajudava. – ele sorriu um pouco, levando a lembranças da infância. – Acho que ele escolheu se chamar assim para brincar com esse medo.

— Ele está vindo? Ele é como o senhor Yan e o senhor Matteo?

— Não, Juan. – Sebastian respirou fundo. Encarou os grandes olhos verdes e depois os lábios de Juan. – Ele está aqui, de certa forma.

Juan, confuso, franziu o cenho.

— Aqui? Mas a casa está vazia e-

— Aqui. – tomando a mão menor, Sebastian a guiou até a própria testa, deixando os dedos resvalar sobre a própria pele. – Aqui. – diante do silêncio confuso, ele escolheu continuar. – Quando eu tinha quinze anos, em Bogotá, houve uma invasão. O meu pai sempre dava folga a maioria dos funcionários no Natal, preferia estar só com a família. Mama cozinhava muito bem e minha irmã, Nina, a ajudava. Naquela época, os negócios iam bem. Mas havia uma ruptura-

— Ruptura... – repetiu, confuso.

— Uma brecha, algo como um corte. – tocando o pulso de Juan, Sebastian fez o breve gesto sobre a pele. Juan assentiu. – Uma ruptura entre nós e Nikolai Petrov. – ele abriu a mão de Juan com carinho, deslizando os dedos sobre a palma. – Três contêineres carregados de armas tinham desaparecido no porto de Olga e eles valiam muito dinheiro, muito mesmo. Meu pai não me levou para aquela reunião, eu não sabia de muita coisa, mas sabia sobre a briga que o fez exigir que Nikolai pagasse por aquilo, afinal.

LA FAMAOnde histórias criam vida. Descubra agora