[24] - Desaparecer

3.4K 466 769
                                    

Yan respirou fundo antes de entrar naquele lugar.

Não ter Kei ao alcance de seus olhos o deixava nervoso, sem concentração e com picos perigosos de adrenalina. Daria sua vida para não o ter ali, mas sabia ser impossível mantê-lo longe do perigo depois de Liam ser pego. Ele fez o mesmo por Simon no passado. Ele faria o mesmo por Skylar.

— Esquerda. – ordenou a um de seus homens, gesticulando com a ponta do indicador enquanto, ao seu lado, Rhea usava os dentes para puxar os pequenos pinos de duas bombas de fumaça.

A mulher, tão armada quanto ele, o encarou.

— Agora.

Rhea se abaixou, espiando o galpão e os homens ali antes de rolar as duas granadas para dentro, observando-as quicar no chão irregular e úmido até parar sob a sola de um coturno sujo. Rhea levantou o olhar para encarar o dono do sapato, a tatuagem de uma raposa na lateral do pescoço dele denunciou sua origem.

— Merda. – praguejou, já de pé, conferindo o pente do fuzil. – Tem alguma coisa muito errada aqui, chefe. Muito errada.

Quando a última palavra saiu de sua boca, uma chuva de tiros fez Yan xingar. Ele gesticulou de novo e seus homens começaram a atirar de volta enquanto invadiam de vez o galpão. Rhea assentiu, então deixou a parede onde se escondiam e Yan fez o mesmo, três passos atrás da mulher que não perdia um tiro, matando friamente todos os que encontrava. Cabeça, sempre na cabeça.

Yan xingou de novo quando um dos tiros chegou perto demais de sua perna esquerda, ele levantou um pouco mais o fuzil e matou aquele homem. Sua mente estava trabalhando, enquanto o corpo habilidoso e experiente avançava mais e mais naquele galpão grandioso.

Contêiner, armas e drogas. Mais ou menos sessenta homens. Carros blindados e o explícito conforto da Toyosaki na cidade que o pertencia, no distrito que deveria propriedade de sua família: Reddo.

Sim, alguma coisa estava muito errada.

Como Daiki conseguiu colocar tantos homens dentro da Califórnia? Como aquele contêiner abarrotado de armas e drogas passou despercebido por sua facção? E principalmente, por que todos eles pareciam tão confortáveis?

— Não vi sinal do garoto! – Rhea gritou. Ambos usavam um dos carros como escudo, abaixados ao lado da lataria blindada e lustrosa. Ela levantou a cabeça e matou mais dois homens.

— Daiki está aqui. – Yan concluiu. – Alguém o deixou entrar.

— O filho da puta tem uma coragem suicida.

— Ele mandou a Momoi há alguns meses. – Yan franziu o cenho quando ouviu algo de vidro rolar por baixo do carro e parar depois de bater suavemente contra seu pé. – Caralho... Rhea, sai!

Ele a empurrou para o lado e se jogou junto, sob os tiros, levando-os para longe da explosão da bomba caseira que sacudiu o carro e incendiou um dos pneus. Eles caíram no chão sujo, Rhea gemeu pela dor latejante que alcançou seu tornozelo. Yan, com um braço só, a segurou pela cintura e puxou para trás de outro carro.

— Rhea...

— Estou bem. Acho que ferrei o tornozelo. – Ela se esticou como podia para tocar o tornozelo dolorido. Entretanto, o sangue que pingava da coxa de Yan a fez ficar em alerta. – Chefe!

— Pegou de raspão. – Yan sequer parecia incomodado. Ele atirou mais algumas vezes e seus olhos procuraram por qualquer sinal de Kei ou Liam.

— Vai atrás dele.

— Volte para o carro e-

— Chefe, isso não vai me derrubar. – Rhea sorriu. – Vai lá.

Yan sabia que aquilo era uma armadilha. Um ridícula, vexatória e perigosa armadilha de Daiki. Seu inimigo não estava ali, apesar da audácia suicida, ele sempre foi inteligente demais. O suficiente para manipular as ações de Yan ao brincar com sua maior fraqueza. Monsuta se livrou do fuzil, era grande demais para aquilo que estava prestes a fazer. Ele o deixou sob os cuidados de Rhea e ordenou algumas coisas aos dois homens que se aproximaram, seus homens. Um minuto depois, sob uma generosa chuva de tiros, Yan ficou de pé, uma arma em cada mão, atirando com habilidade com seus homens dando cobertura. Ele atravessou aquele inferno sem medo, furioso demais para temer a morte.

LA FAMAOnde histórias criam vida. Descubra agora