[6] - A Parábola

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— Você está mais calmo agora, Liam?

Kei, ainda sem saber ao certo o que fazer, afagou as costas de Liam enquanto o assistia beber mais da água com açúcar. As mãos bonitas do mais baixo tremiam e o choro baixo continuava, mesmo na segurança secreta daquele quarto de hotel. Ele não entendia, e graças a Deus por isso, o tamanho do alívio que envolvia Liam e todas as suas emoções, o pavor. O medo ainda estava exposto em cada soluço ou lágrima que escorria por suas adoráveis bochechas, o coração acelerado e o estômago revirado. Entretanto, naquele momento, ele chorou mais pelo alívio.

Desde o momento em que o informaram da procura de um suposto investidor, Liam não conseguiu dormir ou comer, não era mais capaz de qualquer atividade referente ao próprio trabalho, porque o pavor não permitia.

— Por que você não me contou? – entre soluços, ele perguntou ao amigo.

Kei, sem jeito, encarou os próprios joelhos e encolheu os ombros, assim como recolheu a mão que o tocava.

— Eu fiquei com medo de descobrirem que a gente já se conhecia. Eu usei outro nome e pedi bastante discrição, mas deveria ter imaginado o quanto ficaria assustado com isso. Foi mal.

— Você é o Zoro. – ele encarou o perfil alheio e algo estranho atingiu seu peito. Liam franziu as sobrancelhas e desviou o olhar depressa, voltou a encarar o copo de água. – Você pagou a empresa para me trazer aqui?

— Uhum. – Kei assentiu. Estava envergonhado. As mãos suando sem parar. – Paguei por seis meses.

— Seis meses?! – Liam arregalou os olhos. – Kei?! Isso é muito dinheiro!

— Tá tudo bem. – sorriu e coçou a nuca. – Não precisa-

— Como assim "tá tudo bem", Kei?! É muito dinheiro! – ele ficou desesperado de novo. – Como você tem tanto dinheiro assim?! Como é que-

— A minha família... – Kei encarou o anel ao redor de seu polegar, o dragão lapidado na pedra vermelha e imediatamente se lembrou das palavras do irmão mais velho: nunca conte sobre nós. ­– Tem grana. – deu de ombros. – Eu ganho uma mesada generosa e... Relaxa, ok? Tá tudo bem.

— Mas vai demorar muito até eu conseguir te pagar de volta. – o bico adorável incomodou o estômago de Kei. Liam era tão bonito.

— Me pagar? – estranhou. – Eu não quero que você me pague nada, Liam.

— Eu vou te pagar! – afirmou. – Tudinho! Nem que levem anos, Kei! Vou te pagar tudo! Te dou a minha palavra! – ele fungou. Liam colocou o copo sobre a pequena mesa daquela suíte e o abraçou forte, abraçou as costas largas e escondeu o rosto na camisa folgada. – Obrigado, Kei. Obrigado, obrigado! Você me salvou! Você é incrível!

Kei, de olhos arregalados, precisou de um tempo para corresponder. Tudo em Liam o deixava estranho e inquieto, não de forma negativa ou incomoda. Ele levantou os braços e o abraçou de volta um tempo depois, tocou o corpo trêmulo e menor com cuidado, completamente ciente do formigamento nas pontas dos dedos e das batidas mais fortes do próprio coração.

Fechou os olhos sem perceber, apoiou a bochecha na testa alheia e respirou fundo.

Cheiro de Liam.

Oposto a toda delicadeza, expressando dualidade visceral do garoto que tremia em seus braços. Cheiro de Liam. Ele inspirou com mais força, sua pele ficou quente e fria ao mesmo tempo. Uma bagunça.

Kei afundou o nariz nos cabelos loiros de Liam e respirou fundo, encheu os pulmões com uma sensação nova e assustadora. Seu coração estava batendo rápido e sem ritmo, ele conseguia ouvir isso vindo de dentro para fora por causa do silêncio confortável que envolveu toda a cena. Nem Luffy se atreveu a latir.

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