A última chance

17 2 0
                                    

Era cedo, antes das seis quando Marti chegou no Luke's. Sabia que ele já estava de pé, então não teria problema em perturbar ele pela suas cartas. Ele abriu a porta ao ver ela e revirou os olhos daquele jeito carinhoso.

- É hoje Luke!

Luke arregalou os olhos e entendeu o recado, logo pegando as suas cartas, as mais importantes de sua vida. Tinha três, mas Marti foi na mais importante, na que ela trabalhou a sua vida inteira.

"É com muita gratidão que aceitamos, Susana Martina Nuñes, na Universidade de Nova York"

Foi involuntário, pulou nos braços de Luke com alegria e deu um gritinho, fazendo o adolescente rabugento conhecido como sobrinho de Luke acordar em seu pijama.

- Estamos sendo atacados?

- Ela passou - respondeu Luke enquanto abraçava Marti.

- Parabéns.

O mundo não podia ser um lugar melhor naquele momento, melhorou ainda mais quando Rory lhe ligou avisando que passara em Harvard, Yale e Princeton. Aquilo era tudo na sua vida, as duas indo para a faculdade dos sonho, só faltava contar para os seus pais e explicar toda a situação, mas daria tudo certo. Ela tinha um plano, pequenos recursos e argumentos, podia não ser do time de debates mas era bem persuasiva.

Esperou até o jantar, seu pai estava tendo um bom mês no concerto de carros e venda de peças, sua mãe iria fazer carne assada e estava tudo perfeito. Com o que iria se preocupar? Daria tudo certo só precisava ser calma e concisa, nada demais.

Seu pai falava sobre o seu trabalho e todas as mulheres o escutavam com atenção.

- ...mas chega de mim, como foi o dia das minhas meninas?

Marti abriu um sorriso diferente, era nervosismo e felicidade, tudo no mesmo pacote, esperando para estourar.

- Eu - todos olharam para ela, a voz antes confiante ficou fraca - Tenho uma novidade.

- Nos conte - pediu o pai de bom humor, até a cerveja havia mudado para uma taça de vinho naquele dia.

- Eu sei que não é o que a gente planejou, mas eu quis tentar... consegui passar para duas faculdades e uma delas é a NYU, e antes de qualquer coisa eu posso garantir que sei o que eu vou fazer. Eu posso pedir bolsa, além de ter uma quantia decente de dinheiro pro começo por conta dos trabalhos que eu fui fazendo, e se precisar trabalho ainda mais nesse verão - as palavras saíram escorrendo pelos seus dedos como areia de praia.

Sua mãe se calou, sua irmã tirou o sorriso infantil ao perceber a mudança do clima, seu pai colocou a taça na mesa e a olhou com desprezo.

- Você acha que eu vou permitir você ter uma decisão tão egoísta como...

- Pai, eu juro que ter um diploma só vai me ajudar e...

- CALA A BOCA! Susana Martina você precisa entender que se não fosse essa babaquice de escola e suas vontades estúpidas nossa família estaria bem melhor, se você trabalhasse mais e parasse de focar em coisas que não vão nos ajudar. Eu não tenho diploma, nem a sua mãe, isso nos torna estúpidos?

- Não, mas...

- Mas o que? Acha que a faculdade é só o preço do lugar? Já tem onde morar? Porque é a sua cara se esquecer de nos avisar das merdas que você faz.

- Cariño - Augustina tocou no braço de Pedro - Escuta a menina.

- Escutar o que? Ela não faz nada além de nos envergonhar na cidade? Acabou com o único relacionamento que poderia ter dado certo, ou você acha que outra pessoa teria como futuro uma garota que deu pra metade da cidade.

Marti não era de chorar fácil, sempre com a pose de que poderia fazer o outro se encolher em uma bola de escuridão, porém ela? Jamais. Naquele momento o salgado de suas lágrimas queimavam a sua pele.

- Ele me traiu - foi o que saiu de sua boca.

Seu pai foi até ela, que estava sentada e encolhida na cadeira como uma criança, e lhe deu um tapa.

Ele nunca lhe bateu, poderia ser agressivo com sua mãe, mas nunca com as filhas. O que aquilo significava? O que significava suas lágrimas pararem de jorrar? Só conseguia sentir a palma quente e a marca em sua bochecha. O silêncio que seguiu na cena e o quanto era estúpida por ter achado que conseguiria alguma coisa. Claro que estava presa naquela vida medíocre. Se não podia contribuir financeiramente para a sua família era uma inválida, se não fosse a jovem perfeita era uma puta, e talvez fosse, talvez ela finalmente estivesse acreditando no que sempre foi.

- Pro seu quarto, amanhã conversamos.

A manhã seguinte chegou rápido demais, Marti não queria levantar, não queria ir ora escola, do que adiantava ir se fosse ser para sempre uma infeliz? Mas tinha, pelo menos fingir que algum esforço valeu a pena, fugiu de Lane a todo custo e quando chegou a hora do treino entregou seu uniforme para a treinadora.

- Mas e as nacionais? Você treinou tanto.

- Mila é decente, vai conseguir fazer um bom trabalho, eu preciso focar no meu futuro agora, treinadora.

- Isso tem haver com a NYU? Você não passou?

Pior, pensou ela. Eu passei.

Entrou no Luke's, sabia que sua cara não estava a das melhores, mas tinha que tentar. Lorelai e Rory conversavam em um canto e Marti estava tentando ignorar qualquer boa notícia agora. Viu Jess atrás do balcão e foi até ele.

- Que horas o Luke chega?

- Não sei, quando eu me tornar babá dele eu respondo.

- Para de estupidez, Mariano. Só avisa que eu quero falar com ele sobre a trabalhar aqui.

Jess parou de fazer o que quer que estava fazendo e olhou com curiosidade para ela.

- Seus pais...

- Não vou comentar sobre isso.

- Marti! Vem aqui! - chamou Rory.

A garota suspirou antes de se virar e abrir um sorriso forçado, queria buscar Tina e se esconder.

- Hola, chicas, e aí?

- Estamos tentando decidir sobre qual faculdade entrar, lista de prós e contras - falou Lorelai.

- Quem está ganhando é Yale - disse Rory.

- E Harvard? Não era esse o seu sonho?

- Sim, mas Yale é mais perto e é uma boa instituição.

Claro que a netinha Gilmore ia ter a opção de escolher pra onde queria ir.

- Eu tenho que ir pra casa, nos vemos outro dia.

Mais tarde naquele dia houve um incêndio onde Lorelai trabalhava, ninguém se machucou, mas muitos perderam seus pertences, a cidade foi ajudar as Gilmore e o hotel, mas a família Nuñes ficou em casa enquanto Marti entregava cada trocado que ganhou durante aqueles anos.

New HollowOnde histórias criam vida. Descubra agora