Nenhuma neve no chão.
Foi o primeiro pensamento de Marti ao olhar para fora da janela naquela manhã. Estava acostumada com a costa leste, com a neve de dezembro e o frio. Pegar Tina para fazer anjos de neve, biscoitos e chocolate quente. Não que a cidade dos anjos fosse quente nessa época do ano, porém o frio era diferente, era mais quente, não que ser quente significasse ser aconchegante.
Marti se virou para Jess que acordou e já começou a escrever. Ele não parava, desde aquela noite parecia ainda mais obcecado com aquele manuscrito.
- Você vai participar da festa?
Sasha e Jimmy iriam dar uma festa de Natal, alguns amigos e familiares mas nada grande, pelo menos não parecia nada grande. Sasha não fez uma grande situação então tudo parecia bem calmo.
- Não.
Ela foi até o seu lado e se aconchegou, as oernas se emaranharam e Jess nem tentou afastar.
- Você vai?
- Talvez.
Seria legal, e poderia tirar sua cabeça de tudo que poderia estar fazendo se ainda estivesse em casa. Poderia estar fazendo uma maratona de filmes de Natal. Sua mãe faria mais comida do que eles aguentariam e depois iria reclamar que eles não a apreciam. Seu pai abriria a champanhe e deixaria Marti tomar um dedo, mesmo que soubesse que ela já sabia o gosto de trás para frente. Dançariam músicas tradicionais da Argentina e depois Tina dormiria enquanto o resto da família ajeitava a árvore para ela acordar acreditando em magia.
- O que você fazia nessa época? - pergunta curiosa com as tradições de Jess Mariano.
Ele revira os olhos e para de escrever.
- Me trancava no quarto enquanto minha mãe e algum namorado novo enchia a cara - tem amargura em sua voz, mas tenta não demonstrar ao ficar neutro e quase sem expressão.
Algo normal.
- E você?
- Eu lia os Fantasmas de Scrooge - ela sorri para ele, tentando compensar o clima tenso.
Ele ri.
- É a sua cara, um livro sobre fantasmas no Natal.
- É um clássico.
- É clichê.
- Igual ler Jane Austen e gostar de orgulho e preconceito.
- Você é a única que tem Emma como favorito.
- Certeza que uma fada morreu com esse seu pensamento.
- Tenho pena delas.
Ele ri e Marti não sabe como ver o sorriso dele se tornou algo tão habitual e o quanto aquilo a deixa feliz.
...
Os amigos de Sasha e Jimmy eram poucos. Cinco casais sem filhos, a maioria tinha pequenos empreendimentos e pareciam felizes. Perguntavam para Marti o que ela fazia da vida e a única coisa que ela queria fazer era não responder, por isso resolveu se esconder onde Lily estava para evitar aquelas chateações.
A menina lia um livro no escuro do escritório, uma lanterna na mão. Uma esquisitona com orgulho, pensou Marti antes de sentar ao lado dela e ficar em silêncio. Acabou pegando no sono por um momento antes de acordar com Jimmy abrindo a porta e a chamando.
- O Jess está lá fora, pediu pra eu te chamar.
Ela balança a cabeça e vai, mas não antes de roubar uma garrafa de champanhe na geladeira.
Jess tinha dois embrulhos na mão, os dois com lacinhos bonitinhos, nada muito característico dele.
- Você bebeu? Quer que eu chame a Lily?
Ele revirou os olhos e se aproximou e apenas lhe entregou o que tinha a embalagem laranja. Colocou a champanhe no chão e pegou o presente sem acreditar no bom coração dele, não era bem de seu feitio, abriu e não acreditou no conteúdo.
Os Fatasmas de Scrooge.
Abriu a boca mas nada saia.
- Se eu soubesse que você ia odiar...
- Não! - gritou - Eu amei, obrigada Jess. Agora me sinto até mal, não tenho nenhum presente pra você.
Ele deu de ombros.
- Sempre soube que você não gostava de mim.
Marti deu um tapa de brincadeira nele e segurou o presente contra o peito. Fazia tempo desde que se sentia especial para alguém, seu cérebro lhe dizia para não em nenhuma direção perigosa, por exemplo: Jess se aproximando com o olhar concentrado e tocando em sua cintura. Ele era o ex de Rory e ela era, bem, nem sabia o que era. Não teria problema, não significaria nada. Eram amigos, bons amigos.
O hálito de Jess estava em seu rosto, e com a mão livre Marti acariciou a bochecha dele. Mantinha os olhos fechados, tinha medo de acabar com o bom momento antes de nem mesmo começar. Os lábios se tocam e é um teste, o quanto eles podem ir. A língua dele a invade e Marti sente o equilíbrio ir embora, se agarra a Jess, mesmo que o livro esteja agora no chão. Ela puxa o lábio dele e ele geme.
Um sorriso brota em seus lábios.
Os dois retomam a atividade, a mão dele desse até estar descansando em sua bunda e as dela puxam o seu pescoço para que ele não se separe.
Era uma quebra no tempo, tudo estava parado, congelado enquanto eles de beijavam. Se era errado quem se importava? Ninguém precisava saber, ninguém além dos dois.
E Sasha que saiu da casa e os assustou.
Marti nunca agradeceu tanto não ter como mostrar as bochechas que deviam estar quentes de sangue. Jess voltou a sua poker face.
- Eu estava me perguntando onde a champanhe estava - ela parecia tão desconfortável quanto os dois - E Jess, a sua mãe ligou.
Apesar do esforço ele parece curioso e olha para Marti antes de ir até o telefone. Ela pega o livro, sujo de poeira, e a champanhe e entrega para Sasha.
- Pode ficar, eu tenho mais na geladeira.
Marti sorri antes de virar a bebida na boca.
- Ele fez o que?! - a voz de Jess pode ser escutada.
Sua mãe ligou para avisar que o carro que ele tanto se preocupou em comprar e foi roubado em seu tempo em Stars Hollow foi encontrado, e estava com seu tio, Luke, escondido após tantos meses.
- Eu vou amanhã - ele anuncia enquanto faz as malas durante a noite.
- Quer companhia? - a champanhe ainda não havia acabado, Marti parecia estar tentando tardar os efeitos do álcool.
Jess a olha, parece querer dizer sim, porém nega e volta para a sua tarefa. Ela pega o presente que Jess a deu e entrega para ele.
- Se você encontrar a Tina dá pra ela, diz que eu sinto a falta dela.
Ele não diz nada, mas se aproxima e beija seus lábios. Não é doce e parece não dizer nada, é quase como se ele estivesse querendo um remédio para a própria dor e se pudesse compartilhar com ela seria apenas um bônus.
- Eu vou tentar.
Marti olha para a bebida e resolve acabar com ela, não vai doer, diz para si mesma. É só um pouco, já bebeu mais do que aquilo, porém algo lhe avisa que não é por ali que as coisas vão parar.
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New Hollow
FanfictionSe Rory Gilmore era o anjo de Stars Hollow, Marti era o oposto. Não que ela fosse encrenca, porém o inferno parecia seguir ela a cada passo de sua vida. Acompanhe sua jornada no decorrer das temporadas de Gilmore Girls e como a vida pode dar uma vo...