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E eu ficarei acordada a noite toda
E, pra deixar claro, não fecharei meus olhos
E eu sei que posso sobreviver
Vou andar em meio ao fogo para salvar minha vida
E eu quero isso, quero muito a minha vida
Estou fazendo tudo que posso
E então mais um vai ao chão
É difícil perder quem eu escolhi
Você não me destruiu
Ainda estou lutando por paz
                 — Sia: Elastic Heart

Lilian

O som de correntes se arrastando no chão, vão me puxando aos poucos para a realidade, sinto cheiro de ferrugem, misturado a carniça. Que bicho morreu aqui? Sinto uma superfície fria demais em contacto com a minha pele.

Desperto meio zonza, olhando para as paredes, se descascando, na verdade elas estão enferrujadas, me sento tentando puxar minha perna e percebo um peso adicional. Olho para baixo vendo uma corrente imensa estendida até a parede, presa em um varão que vi até o teto.

Merda, praguejo me lembrando de algumas horas antes, se é que ainda continuava sendo o mesmo dia. As memórias de Meredith, eu tocando sua mão implorando para que ela fosse embora comigo, me deixam doente. Não acredito que baixei minha guarda, para uma mulher que me entregou para um monstro.

Sinto um chute em minha barriga, tão forte que tenho que me curvar sobre as varas da cama de solteiro metálica e vomitar, até o que não tinha comido.

— Eu nunca abandonaria vocês. — Acaricio minha barriga acalmando meus filhos, o primeiro chute deles e eles estavam me deixando indisposta. — Não por opção, nunca por opção.

Limpo uma lágrima que ameaça cair e respiro fundo. Eu não vou mais derrubar nem uma lágrima se quer para a me abandonou, já chorei de mais quando criança. Agora é tempo de achar uma forma de sair daqui.

Volto a olhar para o local mal iluminado e vejo somente uma retrete de alumínio, suja. Com risco de eu tentar fazer minhas necessidades e sair com umas mil infeções, sem contar no tétano.

Barulhos pesados de chaves e lataria sendo movimentados tomam conta do lugar e logo um homem, alto, um pouco volumoso, ruivo grisalho e o rosto enrugado porém jovival  entra, vestido roupas normais, acho que é o primeiro homem em meses que não vejo de roupas formais. Ele me analisa e abre um sorriso, mostrando seus dentes perfeitamente alinhados, eu não daria a ele mais que 50 anos no máximo.

— Espero que a estadia em meus aposentos, estejam do seu agrado. — Fala colocando as mãos nos bolsos de sua jeans.

— Ficará melhor assim que eu receber uma dose de vacina antitetânica. — Me ajeito,

— Onde estão os meus modos. — Coça sua barba. — Sokolov. Higor Sokolov.

— Eu faria o favor de me apresentar decentemente mas como você pode ver. — Aponto para o meu pé. — Tenho umas 20 toneladas acorrentados ao meu pé.

— Achei que as freiras fossem cultas e não possuíssem tanto sarcasmo.

— Noviça. — Corrijo — Dou todos os créditos ao psicopata, desculpa, ele prefere sociopata do meu marido. Qualquer um desenvolve um humor ácido só de passar algumas horas com ele.

— Você sabe o que está fazendo aqui Lilian?

— Por acaso tenho cara de vidente e uso uma bola de cristal?

— Vou ignorar suas alfinetadas. Eu estava muito bem durante todos esses anos fora do mapa, vivendo minha vida com minha bela esposa e filha. — Ele faz uma pausa e olha para mim de um jeito estranho. — Tenho duas filhas, uma deve ter mais ou menos a sua Idade agora e a outra tem 5 anos. Se você não fosse tão parecida com Meredith eu diria que meu sobrinho enviou a criança errada pro orfanato e você é minha filha.

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