Era o último dia de aula, ou melhor, de prova. O segundo ano do ensino médio estava chegando ao fim, felizmente ou infelizmente. Eu havia passado a noite anterior estudando o sistema linfático e nervoso com Gustavo pelo FaceTime. A ligação durou duas horas e, infelizmente, não deu tempo de estudar inglês, mas isso não era um problema, pois as provas de inglês não eram tão difíceis. Não podia esperar para chegar em casa, entrar de férias e descansar.
Tinha tido uma boa noite de sono, mas ainda estava exausta. Prendi meu cabelo castanho claro em um rabo de cavalo, já que meu objetivo do dia não era ficar bonita, e sim ficar de férias. Gustavo não ia morrer se me visse um dia com o cabelo bagunçado.
O café da manhã foi o de sempre: pão com ovo e uma vitamina de banana. Minha mãe estava histérica dizendo que chegaríamos atrasados porque Miguel ainda não tinha tomado banho. Eu, como sempre, estava calma, até porque me estressar não adiantaria nada. Mastigava o pão como se estivesse tudo bem, pois minha mãe tinha essa mania esquisita de adiantar os relógios da casa para evitar que nós chegássemos atrasados.
Terminei de comer e fiquei esperando na sala enquanto mexia no meu celular.
Bonde da alegria
Nanda: Minha mãe não está querendo que eu vá 😭
Paulo: Meu pai deixouu 😁
Rafael: Por que, Nanda?
Nanda: Porque não vai ter nenhum adulto com a gente
Gabi: Eu e Clara vamos falar com ela! Você vai, né Clara?
Não tinha perguntado para os meus pais ainda com medo de já saber a resposta. Não que meus pais fossem superprotetores (às vezes um pouco). O fato de só ter adolescentes numa casa de praia não agradaria nenhum dos dois, mas eu tinha que perguntar logo, pois já seria na quarta-feira da outra semana. Tomei coragem e voltei para a cozinha, meus pais estavam conversando, mas assim que cheguei pararam e ficaram olhando para mim.
— O que foi Clara? — Meu pai perguntou.
— É o seguinte... — Falei e minha mãe já revirou os olhos como se já soubesse que eu ia pedir alguma coisa. — É que o Rafael, que estuda comigo, estava convidando a gente pra passar uns dias na casa de praia dos pais dele. Fica há uma hora e meia daqui... — Dei um sorriso fofo e meus pais não esboçaram nenhuma reação.
— E daí? — Minha mãe perguntou arqueando as sobrancelhas.
— Posso ir? — Falei e aumentei mais ainda meu sorriso, que nem eu fazia quando era mais nova. Meu pai riu e disse:
— Não. — E ele imitou meu sorriso.
— Por favor! Vocês conhecem os pais dele e sabem que são boas pessoas. Eu não vou fazer nada de errado. Eu queria muito ir... — Fiz beicinho. Minha mãe deixou de prestar atenção e começou a lavar a louça.
— Quem já está certo que vai? — Meu pai perguntou se levantando para pegar um copo d'água.
— Rafael, Gabi, Paulo e Gustavo. Nanda ainda não sabe. — Falei me encostando na parede.— Nenhum adulto? — Minha mãe perguntou olhando para mim já desaprovando.
— Tem a secretária de Rafael que vai ficar lá viagem toda. Por favor, mãe! Pense na minha felicidade. Eu me esforcei bastante esse ano. Não acha que mereço um descanso? — Meu pai olhou pra mim e disse:
— Você acha que eu e sua mãe vamos deixar você ir pra uma casa para você ficar sozinha com seu namorado? Eu não sou bobo, Clara, já fui adolescente. — Ele se apoiou na geladeira com o ombro e ficou me julgando com o olhar enquanto minha mãe concordava.
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As Palavras Não Ditas
Teen Fiction+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...