Se eu achava que o lance entra Bárbara e Gustavo não ia dar em nada eu estava muito enganada. Depois do simulado não demorou nem 2 dias pra escola toda saber que eles estavam ficando. Mas não só ficando. Ficando sério. Não fazia o mínimo sentido, porém eu realmente não queria nem tentar entender a situação. Eu estava começando a superar, e o que eu precisava era deixar tudo o que passou para trás, mas confesso que não é tão fácil quando as pessoas não param de comentar sobre o assunto.
A verdade era que eu estava tentando suportar tudo isso pra poder focar no Enem, que faltava 9 meses pra acontecer. No entanto, pelo fato de ainda estar superando tudo junto com meus problemas de família, acabava que eu não conseguia manter o foco necessário, e isso me fazia sentir pior ainda, porque nem minha vida amorosa, nem minha vida familiar, nem minha vida acadêmica estavam indo bem.
Até os professores tinham notado isso. Pelo fato de estar na primeira fileira, eles notaram que eu havia parado de participar tanto nas aulas como no ano passado. Alguns perguntavam se eu estava bem, e eu sempre respondia a mesma coisa: to cansada. O que não era mentira, porque eu estava cansada do meu estado de carência e de não estar me esforçando o suficiente no meu último ano.
O simulado que tinha feito não tinha sido bom, pelo que eu corrigi com o gabarito, enquanto a grande maioria da sala foi pelo menos razoável. Talvez por esse motivo, eu fui a primeira a ser chamada para a "conversa de amigos" com a orientadora Olívia.
Já era de se esperar. Ela provavelmente queria saber o motivo pelo que eu e Gustavo terminamos, já que nos babava tanto quando namorávamos.
— Oi, Clarinha! Pode sentar! Estava com saudades de você! — Ela disse me recebendo em sua sala.
— Oi Olívia... — Falei forçando um sorriso pela sua recepção comigo. Sentei logo em seguida e notei que o carinha da informática estava de cócoras ajeitando algo no computador da orientadora. Essa conversa não era para ser particular?
— Como você está? Nossa última conversa foi ano passado! Conta as novidades!
Uma forma sutil de perguntar: porque você e Gustavo terminaram? No ano anterior a conversa havia sido boa. Claro, eu estava feliz com meu ex-namorado. Nesse momento parecia que tudo estava dando errado, e algo que eu não queria fazer era contar meus problemas pra outra pessoa. Ainda mais quando havia mais uma pessoa ali pra escutar.
— Estou bem. — Tentei parecer ser verdade. — Ainda estou me adaptando ao terceiro ano... É tudo muito intenso.
Ela concordava com a cabeça e esperava que eu dissesse mais alguma coisa. Mas não foi isso que eu fiz. Fiquei encarando ela, esperando dizer: Ah ok! Até a próxima! Mas não foi isso que ela fez.
— Você está assim quietinha por causa do Thomas? Ah, não se preocupe, ele só está procurando uns arquivos que eu perdi no computador. Pode falar, ele não vai nem ouvir!
Ele não esboçou nenhuma reação. Apenas ajeitou o óculos e continuou cumprindo seu dever. A não ser que ele fosse surdo, escutaria com certeza tudo o que eu dissesse.
— Não tenho tanta coisa a dizer... E eu deveria estar estudando agora, por isso estou avoada. — Eu já estava prestes a me levantar e fugir quando ela segurou meu antebraço que estava apoiado em sua mesa.
— Você está passando por um momento difícil da vida, que é a decepção amorosa. — Eu não queria escutar mais nada que envolvesse a minha vida amorosa, muito menos conselhos, por isso fechei os olhos para tentar diminuir a vergonha que eu estava sentindo naquele momento. — Eu sei que é difícil... Acredite, eu já passei por várias! Mas saiba que isso só vai passar quando você aprender a lidar com isso. E é por isso que estou aqui.
— Eu estou aprendendo a lidar com isso, Olívia. Eu estou bem.
— Afinal, por que vocês terminaram? — Estava demorando para ela ser direta. — Vocês formavam um casal tão lindo... — Eu realmente tinha que responder isso? Claro que eu não ia dizer a verdade, mas o que eu diria, então?
— Não estava mais dando certo... Mas eu já estou me acostumando. O meu foco agora é o Enem.
Eu estava tentando cortar essa conversa de todas as maneiras porque ela estivesse me abalando só pelo fato de ter que falar sobre o que passou, e se tinha uma coisa que eu não queria fazer era me abrir.
— Também quero falar sobre isso com você: seus estudos.
Piorou. Ela tirou debaixo de um monte de papeis uma folha que provavelmente tinha os resultados dos alunos no simulado.
— Parece que você não se saiu bem no simulado que tivemos. Tenho certeza que isso está relacionado ao seu término com Gustavo. Parece que você não está tão bem assim. Inclusive, você vai ter que fazer uma recuperação nessa sexta-feira, apenas de matemática e naturezas, porque nessas você acertou menos questões que a média da turma.
Depois que ela disse isso eu realmente não estava bem. Ela analisava a folha atentamente enquanto dizia as médias de outras pessoas em comparação com as minhas, e seu semblante mostra a que ela sabia que estava certa. Senti uma leve vontade de chorar, tanto pelo que eu vinha sentindo ultimamente, como pelo fato da orientadora e uma pessoa aleatória estavam me julgando pela minha situação atual.
Senti meu olho lacrimejar, mas permaneci firme. Ela provavelmente viu que conseguiu atingir meu ponto fraco e achou uma abertura para dar conselhos, mudando seu discurso.
— Clara, não é errado passar por dificuldades. Errado é não assumir que não está tudo bem. Você precisa entender que...
Ela continuou falando e falando enquanto eu olhava fixamente para o ponteiro do seu relógio de pulso para não pensar no que ela dizia, que podia me fazer chorar. Em algum momento dei um suspiro e olhei para o rapaz ao seu lado.
Para minha surpresa vi que estava observando essa cena e eu franzi as sobrancelhas pelo sentimento de invasão de privacidade. Ele parecia estar atento ao que falávamos. Quando Olívia viu minha expressão, olhou para o lado e viu que ele estava escutando tudo. Ela usou a folha com os resultados das avaliações para bater nele de leve, o que o fez levar um susto.— Thomas! Você não devia estar prestando atenção nisso! — Ela disse o reprovando.
— Não! Perdão... Essa não foi minha intenção. É que eu achei os documentos. — Ele disse mostrando no computador para Olívia.
— Então pode ir embora, querido! — Ela disse como se fosse óbvio.
Ele rapidamente se levantou em direção à saída e olhou para mim como se dissesse: lamento pela sua vida, indo embora logo em seguida. Me senti exposta, mas tentei não me importar com isso. Afinal, que diferença faria? Todo mundo já sabia da minha vida mesmo.
— Enfim... Você entendeu, Clara? Nós nos preocupamos com você. Estamos aqui para te ajudar. Não queremos te ver triste. Isso vai passar. Qualquer coisa é só me procurar, viu?
Ela deu um sorriso de dever cumprido, apesar de não ter mudado nada na minha vida. Aliviada, agradeci e fui embora quase correndo. Eu precisava tomar algum rumo na minha vida, principalmente com essa recuperação que eu tinha que fazer, senão nem da escola eu sairia para fazer faculdade.
💘
Quando ela acha que as coisas estão começando a melhorar, vem uma surpresa dessas... E esse carinha da informática escutando tudo hein?
Pois é... Os próximos capítulos serão bem interessantes... Se me pedirem muito eu posto os dois de uma vez!
Deixa um votinho para mim, por favor!
Um beijo, querido leitor! 💘
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As Palavras Não Ditas
Ficção Adolescente+12 | E se, por um momento, tudo o que você achava ser perfeito na sua vida começasse a desmoronar bem diante dos seus olhos? Aquilo que você jurava ser impossível de dar errado te surpreendeu. Clara, em meio à transição para a vida adulta, se vê di...